Eu não me afastei.
Eu não suspirei de surpresa ou dei um pulo para longe dele. Como posso fazer isso quando ele está quase se engasgando com suas lágrimas? Eu não me mexi por um segundo, depois eu tomei a iniciativa de abraçá-lo. Foi isso.
Sua visita começou com um "prometo não te abraçar" e agora estamos aqui, a meia luz, fazendo o que prometemos não fazer.
—O que aconteceu?
—Era para ter sido... Uma brincadeira. Eu juro.
Eu sinto que devia falar alguma coisa, alguma coisa séria como "Eu sei que sim, eu sei que você não fez isso de propósito, vai ficar tudo bem" ou "Você não pode ficar se culpando, pare com isso" ou "Honie, ela te ama independente de tudo, tente plagiar esse amor para si mesmo... Esqueça". Mas minha boca proferiu outras palavras.
—O que Carmen fez com Oliver?
No fundo da minha mente havia uma nota mental, um sinal vermelho maior que um farol, dizendo que eu devia perguntar isso somente ao mais velho, que teria que começar a deixar de fora todos os outros, não por receio de envolvê-los em escândalos, mas com receio de machuca-los. Eu ignorei o farol.
Apesar da luz fraca. Apesar das lágrimas em abundância, consigo ver desentendimento em seus traços, no seu rosto, consigo ver a queda livre entre choque e percepção.
—O que... Quem... O que quer dizer?
—Honie...
Ele levantou-se tão depressa que tropeçou nos próprios pés. Quase caiu, estava tropeçando nos passos, estava saindo do quarto, me levantei e fui atrás dele, mesmo que ele não grite, seus passos parecem barulho suficiente. Batidas soaram depois, no corredor escuro, eu esqueci onde estava e andei em rumo até bater de frente com ele.
—O que está fazendo? —Sussurrei, agoniada com a ideia de que Carmen ou Paulo nos vissem aqui.
Honie não respondeu. Continuou batendo na porta do quarto de Oliver. Em dois segundos a porta do quarto abre-se, revelando um Oliver descabelado e irritadiço. —O que já não é tão surpreendente.
Inconscientemente, olho para dentro do quarto a procura de Nathan. Acabo encontrando-o de bruços na cama de Oliver, com o lençol de lado, ele usa apenas uma cueca boxer. Nathan ainda dorme segurando seu colar.
—... Porque disse que era mentira? Eu estava tentando ajudar você!
—Pare de gritar. —Pelo suspiro de surpresa vindo de Honie, Oliver deve ter agarrado seu braço. Ou seu cabelo. Mesmo no escuro sinto os olhos do mais velho me avaliando. —Venham.
Descemos os degraus rápido demais, quando dei por mim já estávamos perto da piscina. Sentindo a brisa gélida que me fez arrepiar, mas desconfio que lembrar do pesadelo com a piscina não tenha ajudado.
—Quem te contou essa merda? —Agora Oliver está gritando. Ao longe, Marley late. Vamos acabar acordando a todos.
—Hanna. Mas eu já vi.
Recebi um olhar fulminante de Oliver, quis voltar para dentro no mesmo momento, mas o olhar de súplica de Honie me fez ficar. Estamos distantes; Oliver mais perto da piscina, Honie mais perto da parede à direita, e eu perto demais da porta de correr, com dois ou três passos consigo sentir o vidro batendo nas minhas costas.
—Porque você não me deixou ajudar?
—Porque você não podia.
—Agora eu posso.
—Não pode, não!
—Posso sim. Nós podemos, não é Hanna? Me ajude aqui.
—É. —Foi o único som que saiu de mim.
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Eu, Hanna
General FictionVer uma pessoa morrer não é nada de tão incomum. Mas se a pessoa que você visse morrer for idêntica a você? E se ela lhe pedisse um último favor? E se você aceitasse? A vida de Amanda Voz, uma escritora amadora, agora se resume no "e se". Decidida...