Chego ao momento em que Honie saiu da piscina.
Ele andava na minha direção enquanto me esforçava para entrar o mais rápido dentro daquela casa. Ele chegou a mim primeiro, segurou meu ombro e perguntou-me como eu estava.
—Bem.
—Bem mal, não é? Está meio verde.
—Cala a boca. —Resmunguei. —Preciso apenas dormir.
—Eu achei que poderíamos sair.
—Não. Só preciso de um banho e deitar.
Honie me olha como se quisesse perguntar o motivo de alguma coisa; graças a Deus ele não faz isso, o que me dá a liberdade de entrar naquela casa e ir direto para o quarto de Hanna. Que agora me parece um cenário de um pesadelo. As caixas de Nolan ainda estão na sala, mando uma mensagem para ele vir pegá-las amanhã pelas dez, já que eu não estarei mais nesta casa. Tranco a porta do quarto. Vou ao banheiro e tomo um banho como disse que faria, só não durmo, sinto que fazer tal coisa é impossível por agora.
Transfiro o número de Christina para o meu celular. Deixo o de Hanna sem a senha que coloquei e jogo debaixo da cama, alguma hora, algum dia, alguém vai acha-lo. Procuro outras coisas que me interessam e depois fico sentada no chão do quarto, espero que o tempo passe e não faça nada além de ficar olhando para aquela porta enquanto o sol queima minhas costas e projeta minha sombra ao meu lado; penso se o médico legista possa ter alguma ideia de onde eu esteja; pergunto-me se Paulo já desconfiou se a esta altura eu tenha juntado todas as peça; pergunto-me se devo ligar para a policia e arriscar. Não. Sem policia, eles certamente acreditariam em um famoso advogado do que em mim.
Quando o relógio marca quase seis da noite eu levanto. Ou tento. Minhas pernas fraquejaram pelo tempo que passei sentada. Deixo o sangue circular por alguns minutos e depois vou até o computador, pesquiso o perfil do meu irmão no Facebook e depois de achar uma foto dele e de Oliver, imprimo. Olho a data da foto. Bem antes de Hanna morrer eles já se conheciam então, Nathan não estava na pior como pensei, ele só estava esperando o momento certo para aparecer nesta família; seria coincidência que esse momento se tornou algumas semanas depois que Hanna morreu?
A foto é dos dois, sorrindo, olhando para a câmera com um imenso céu azul límpido como fundo; estão na praia, acho. Coloco a foto em um porta-retratos e depois, pego uma caneta. Rabisco no céu, uma mensagem, como a que ele me mandou antes de eu decidir vir para cá. Ele merece.
Deixo o porta-retratos na cama. Junto aos papéis. Junto a um pendrive. Está tudo ali, alinhado.
Sou chamada para jantar por Lucie.
Desço as escadas e paro.
A voz do médico veio-me como um soco no cérebro.
Também havia costelas quebradas e a clavícula estava fora do lugar. Acho que ela poderia ter caído.
Ela pode ter sido empurrada desta escada.
Ando para a cozinha sem a menor vontade de comer, muito menos de encarar Paulo. E Carmen. E Nathan. Todos, no geral.
Sento-me.
Lucie preparou assado, torta, arroz e sopa.
Boto apenas duas colheradas de sopa no prato e finjo comer. Honie está mexendo no celular e Vanessa está quieta, assim como o marido e Carmen. Oliver e Nathan interagem entre si.
—Quando vão se mudar? —Paulo pergunta.
Olho rapidamente para Nathan. Encaro-o como se pudesse ver através dele.
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Eu, Hanna
Fiksi UmumVer uma pessoa morrer não é nada de tão incomum. Mas se a pessoa que você visse morrer for idêntica a você? E se ela lhe pedisse um último favor? E se você aceitasse? A vida de Amanda Voz, uma escritora amadora, agora se resume no "e se". Decidida...