CAPÍTULO QUARENTA E QUATRO

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Acordei às oito e meia da noite.

Depois que Nolan e Christina se foram deitei no sofá e passei a ler um livro qualquer, depois me ocupei arrumando a casa e depois revisei algumas páginas do livro, mas não mudei nada de mais. Eu sentia que deveria tentar mandar para alguma editora, mas isso demoraria demais. O concurso ainda estava rolando, se eu tivesse o dinheiro talvez conseguisse participar. Mas não o tenho.

Tomei um banho demorado, fui à cozinha e preparei café. Liguei a televisão. Foi aí que vi.

A televisão mostrava uma foto de Hanna. A mesma foto que mostraram um dia depois de eu acordar no hospital e um dos médicos me confundir com a vítima. Sinto um gosto amargo na língua, o café ficou péssimo. Chamar Hanna de vítima me parece meio contraditório, ela foi morta, sim, mas também fez vítimas. Não sei do que poderia chama-la e estava pensando nisso quando falei para mim mesma que o melhor não seria nomear. Mas esquecer. Desliguei a televisão e coloquei a xícara na pia, me fiz ficar ocupada a noite toda, até iniciei outra história.

Às dez e meia, mais ou menos, recebo uma ligação de um número desconhecido. Demoro a atender, meus dedos tremeram quando apertei para aceitar a chamada. A voz invadiu meu ouvido, ecoou na minha cabeça.

— Por favor, não desligue. Han... Amanda. Amanda Voz, é esse o seu nome verdadeiro, agora eu sei. Eu implorei para ligar para você, para dizer que não estou sentindo nenhuma mágoa de você, não estou com raiva. Eu perdoo por que quer que seja, mas ainda há uma coisa que preciso te dizer. Está intalada na minha garganta desde que você desapareceu. Eu sei que não deveria estar falando, sei que não deveria estar ligando. Você deve não querer chegar perto da minha família, não nos quer ver nem pintados de ouro, mas é necessário que você escute. Eu enviei uma coisa a você, seu irmão me deu o endereço da sua casa e juro que vou esquecer dos detalhes assim que possível. Amanda, você foi corajosa. Honie... Disse que você não se parece com Hanna. Eu concordo. Em algumas coisas vocês são completamente singulares, mas dentro de vocês duas... Vocês têm... Tinham, uma coisa em comum. A coragem. Não é qualquer pessoa que fez o que você fez para seguir seu sonho e eu... Estou bem... Não sei qual a palavra certa, pois eu estou totalmente dividida, ainda não acredito que minha filha se foi, eu não a vi, não a vi morrer e sim você. Deve ter sido aterrorizante. Você iludiu todos daqui de casa, mas, eu... Não... Foi uma enorme dor. Estou começando a entender a realidade de agora, sem ela, sem algumas coisas a mais. Enfim, você deve estar querendo desligar, eu já vou fazer isso, mas antes eu quero dizer mais uma coisa... Às vezes um erro não merece um castigo, apenas merece que você perdoe ou esqueça, para poder seguir em frente sem peso algum. Faça isso apenas por você, Amanda. Boa noite. Tchau.

Vanessa desliga antes que eu abrisse a boca.

***

No meio da tarde enquanto almoçava, bateram na porta. Gostaria de colocar um olho-mágico para poder ver quem me incomoda antes que faça barulho ou decida abrir.

É um carteiro.

Não o mesmo que me entregou o presente de Nathan.

Recebo o pacote dele e entro em casa, tranco a porta. Sento à mesa e termino de comer com pressa, coloco a louça suja na pia e sento-me no sofá com o pacote em mãos. O abro.

Eram maços de dinheiro. Havia duas cartas.

Sinto-me ridícula por estar recebendo dinheiro deles. Certo que eu usei algo aqui e ali, mas receber uma quantia dessas por nada? Aquela ligação foi um aviso para uma esmola? Coloco a caixa de lado e fico ali, sentada, encarando as notas. Estou tentada a esquecer do destinatário e usar o dinheiro. O concurso me vem à mente e aí foi a cartada final. Perdi em um jogo contra mim mesma. Pego o dinheiro e faço uma promessa silenciosa de devolver o que gastar (tudo, talvez) assim que puder.

Eu, HannaOnde histórias criam vida. Descubra agora