CAPÍTULO NOVE

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É meia noite, tento pegar a panela que preciso sem fazer tanto barulho.

Pego o pote de cappuccino de chocolate e faço. Sento—me à mesa e pego alguns dos biscoitos de Honie.

O celular de Hanna está no meu colo, totalmente carregado, mas se mostrando inútil quando não sei a senha. Não é a senha do seu aniversário como a do computador, que foi a única que tentei até agora. Resolvo tentar o reconhecimento facial.

Incorreto.

—Pelo menos você sabe. —Murmuro para a tela do celular.

Não gosto de ficar fora do quarto à noite, mas me sentia sufocada desde que Christina me contara sobre o episódio do almoço. Agora estou em um conflito interno, uma parte minha diz para acreditar em Honie, sobre o que ele me disse sobre a relação tênue de Carmen e Paulo. Outra parte minha diz para avança na conversa de Christina, por mais que eu não tenha presenciado nada de afetivo entre os dois. Tive de ouvir o podcast dois novamente depois que Christina se fora, a parte especifica diz que Paulo enfiou o peru onde não deveria. Foi ai que entendi que Paulo estava com Carmen.

Antes de Christina ir, ouvimos a conversa de Oliver e Nathan. Christina ainda estava chateada por meu irmão postiço ter um namorado. Ela mal sabia...

"Você pode dormir aqui", Oliver tinha dito a ele. Senti uma enxurrada de nervosismo ao ouvir um sim vindo do meu irmão de sangue. A amiga de Hanna, entretanto, ficou animada com a ideia de um possível sexo entre eles. Tive vontade de vomitar do mesmo jeito que tive ao comer o sorvete de baunilha.

Agora, enquanto beberico minha bebida morna, desejo que os dois estejam desmaiados de cansaço na cama. Ao sair do quarto temi dar de cara com Paulo, mas até agora tudo está quieto.

Como mais alguns biscoitos.

Penso em Honie, de novo.

Meus pensamentos nele tem sido constantes. Penso no vídeo que vimos, penso no abraço que ele me deu e de quando fiz estrelinhas para que ele visse, foi algo tão natural que me sinto assustada em como fui capaz de me deixar levar. Meus pensamentos não pararam quando aconteceu, mas estavam mais distantes que antes, foi algo que não acontece com frequência.

Ter Nathan aqui estragou tudo.

Ele é a droga do meu irmão que não sabe ser um irmão; agora tenho que suportar ele namorando, morando, me olhando mesmo tendo se passado um ano que não quis nem mesmo me ligar.

Hanna disse que havia um lago congelado entre ela e os irmãos. Bem, eu entendo isso agora. Se arriscar buscar algum apoio em Nathan agora poderia estar botando tudo a perder e um pouco mais. Ter ouvido sua opinião sobre meu desejo de escrever foi necessário para calar meus sentimentos de irmã mais nova; agora sei que tenho que manter a boca fechada e reprimir quaisquer chances de que eu pareça Amanda para ele.

Ignoro os pensamentos sobre os Albertelli e Nathan.

Preciso pensar na senha, focar na ideia de que algo nesse celular possa me ser útil. Se não fizer, acabarei pensando nesta família mais do que deveria.

—Hanna?

Nathan está parado perto das escadas, com nenhuma luz acesa não consigo saber se seus olhos estão me olhando estranho ou apenas com curiosidade. Não respondo nada, deixo que seus passos se aproximem e finjo que acabo de terminar uma ligação. Coloco o celular na mesa e o encaro.

—O que está fazendo?

—O que parece que estou fazendo?

Nathan dá um risinho de escárnio.

—Você é meio rude.

—E você intrometido.

—Eu só fiz uma pergunta básica, eu não me importo de verdade Hanna. Eu só me importo com seu irmão.

—É claro. —Desdenho. —Está aqui há um dia. Quanto tempo o conhece?

—Não muito, apenas alguns meses. Mas o bastante para confiar nele, para ajuda—lo em qualquer coisa ou para ouvi—lo sobre qualquer coisa. Ele confia em mim, é algo reciproco e muito forte.

—É claro que sim.

Nathan anda até a geladeira e pega a jarra de suco.

Olho para o celular em cima da mesa e penso se a qualquer momento uma mensagem chegará. Deveria ter perguntado a Christina se ela sabe a senha. Melhores amigas sempre sabem.

—Você parece uma psicopata. —Nathan diz depois de beber o suco, ele coloca o copo em cima da pia, agora estamos mais próximos. Sinto o cheiro de Oliver nele. Sinto minha mente dando voltas.

—Se eu realmente fosse você não estaria com esse sorrisinho.

—Só para eu saber. —Ele se serve mais suco. —Como você me mataria? Me dê detalhes.

Não sou capaz de responder tal coisa. Nathan, apesar de ainda ostentar aquele sorriso de merda, ainda é meu irmão mais velho, apesar de ter me abandonado em um momento de merda, me deixando no fundo do poço e sumindo por um ano e aparecendo quando estou na casa de Hanna.

É nela que preciso pensar. Como ela responderia isso caso Oliver lhe perguntasse? Caso Paulo a perguntasse?

—Eu esfaquearia você com uma dessas. —Mostro o faqueiro de madeira. —Depois... Não sei se consigo me decidir entre enterrar você no quintal ou deixaria aqui para meu irmão ver.

Foi a coisa mais cruel que disse em minha vida.

—Que vadia você é. —Ele ainda ri um pouco mais, depois que termino de falar. —Quer saber como eu faria? Com você? —Seu sorriso sumiu, dando lugar a uma face sem emoção.

—Não.

—Mas seria de forma tão...

—Cale a boca! —Seguro meus próprios cotovelos e me afasto.

O passo que me afastei ele avança.

—Hanna, qual é? Você se parece muito com minha irmã, mas vocês não são nada parecidas, além disso, estive aqui por um dia como você disse e sabe o que sei ao seu respeito? Que você é fria, cruel. Me perguntou se eu odiava minha irmã, mas acho que você é quem odeia seus irmãos...

—Pare! —Falo exaltada.

—Oliver ficaria feliz em...

—Calado. —Escuto a voz deHonie atrás de mim. —Ou eu ficarei feliz em acertar um soco em você; bem na suaboca. 

Eu, HannaOnde histórias criam vida. Descubra agora