"De tempos em tempos acho que estou louca, de tempos em tempos espero que acabe fazendo alguma loucura irreparável, então me sinto reconfortada ao perceber que já fiz uma coisa assim e as dezenas ao meu redor também. Só esquecemos para que uma loucura ainda maior aconteça."
Handel Dantes disse essas palavras em sua biografia.
Acabo de perceber o quanto acho essas palavras exatas para mim. Acho que foram feitas para mim. Tinha chegado à festa há meia hora, até aí tudo bem, vi Oliver e Nathan conversando entre várias outras pessoas e pareciam estar confortáveis ali então não quis incomodar. Passei um tempinho bebericando alguma coisa sozinha em um canto enquanto uma música de péssima qualidade tocava nas caixas de sons brilhantes que ficam em cima de duas mesas de granito. Então quando repensei em ir embora pela milionésima vez, vi Honie conversando com alguns outros garotos perto e uma imensa janela sem cortinas. O vento soprou os cachos dele e ele sorriu na mesma hora, quase como se ele tivesse combinado com o universo para que eu visse isso. Senti minhas pernas fraquejarem um pouco. Tudo bem, eu mesma quase sorri para ele após aquilo, mas não o fiz. Quase fiz.
Olhei para a extremidade oposta, onde algumas pessoas dançavam. Estamos em um grande salão oval, a praia fica apenas alguns metros. —Por isso o vento.
Nolan está ali, dançando segurando uma garrafa de cerveja. Os cabelos cor de mel estão grudados na testa molhada de suor. Ele abraça algumas pessoas enquanto dança, coloca a mão na cabeça e depois na cintura. Depois de ficar olhando por muito tempo percebo que ele está vendendo suas coisas. Coisa que Hanna não gosta.
—Ele é gostoso.
Olho para o lado e encaro Sely. Segurando uma latinha de cerveja ela morde o lábio ao olhar para Nolan fazendo algum passo esquisito.
—Sim, é mesmo. Mas você não está com meu irmão?
—Estava. —Ela corrige. —Somos amigos agora. Bom... Foi uma decisão dos dois. Não rolou...
A notícia tem efeito instantâneo em mim. Quando bebi assim que cheguei senti uma queimação incômoda na garganta. Sinto novamente esta queimação, mas agora ela se alastra pelo meu corpo todo, até os tendões das mãos e a nuca, me arrepio e crio um interesso genuíno pela novidade. Desejo que ela me conte mais, mas isso não acontece porque Helen nos chama para o andar de cima. Ela estava junta a outras mulheres risonhas. Acabamos subindo e entramos em um dos quartos.
Queria correr e ir para perto de Honie logo, não queria estar perto de ninguém que não fosse ele, não sei o quão alterado ele está, mas pretendo descobrir.
Sento-me na cama com Sely e outra mulher de cabelos cacheados que veste apenas uma saia e sutiã; ambas as peças brancas.
Me sinto tão deslocada quanto poderia. Já estive em algumas festas claro, mas nunca tive que estar tão próximas de pessoas; geralmente meu lugar está destinado a ser o cantinho, ser a invisível que ninguém se importaria se foi embora ou se bebeu até desmaiar. Enfim, sou invisível e agora estou sendo olhada demais, é aí que está o ponto.
—Vamos jogar. —Uma delas fala.
Fiquei presa neste quarto por mais de quarenta minutos, eu acho. Apenas jogando um jogo besta de verdade ou consequência, toda vez que Helen me escolhia pedia que eu falasse alguma verdade. E todas às vezes eu olhava para ela, cansada. Não posso acreditar que estão pedindo a verdade para uma pessoa que escreve e ainda por cima, que mente desde os nove anos. Todas as vezes que a respondia, ela parecia insatisfeita, o que fazia com que ela bebesse mais e mais. Quando muitas daquelas mulheres já estavam bêbadas para fazerem frases coerentes, decidimos ir a última partida.
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Eu, Hanna
Ficción GeneralVer uma pessoa morrer não é nada de tão incomum. Mas se a pessoa que você visse morrer for idêntica a você? E se ela lhe pedisse um último favor? E se você aceitasse? A vida de Amanda Voz, uma escritora amadora, agora se resume no "e se". Decidida...