CAPÍTULO SEIS

26 6 1
                                    

Não consigo decidir se Carmen está olhando para mim ou para Paulo, talvez para nós dois. Sempre que a olho, ela está olhando para ele, mas quando baixo minha cabeça sinto o olhar dela em mim. Não acredito que ela acha que eu sou Hanna, tinha passado tempo demais me avaliando para que dúvidas não a incomodassem. Ela tem uma opinião, suspeito que mais cedo ou mais tarde eu saiba qual é. Lucie preparou assado para o almoço, uma salada de frutas e dois tipos de suco, Carmen pediu pela segunda jarra. Paulo não saiu de casa, Vanessa desceu mais cedo que todos e pareceu radiante diante da ideia de todos almoçarmos juntos. Vejo meu reflexo. Agora entendi porque Oliver me olhou torto quando apareci, minha olheiras estão enormes e o banho não tinha ajudado na tensão dos meus ombros. Quando sai do quarto de Honie ontem à noite, me senti um pouco melhor, mas tudo voltou quando entrei no quarto de Hanna. A cama dela ainda era a cama dela, a ideia de dormir lá me incomodava tanto quanto antes. Ver o vídeo com Honie me ajudou, foi engraçado ver seus compilados de quedas, mas ele não ficou muito próximo, o que não o culpo. Não mesmo. A verdade é que não dormi, por isso sei que Paulo não foi trabalhar, sei que ele rondou pela casa quase a noite toda, e está tão péssimo quanto eu.

—Hanna?

Demorei cinco segundos desta vez para perceber que era comigo. Estou melhorando.

—Sim?

—Ouvi barulho lá fora ontem, o que estava fazendo? —Carmen pergunta, bebericando seu suco.

—Eu estava... Com Honie, só isso.

—E o que estavam fazendo? —Ela insiste.

Olho para o meu irmão mais novo postiço.

—Estávamos conversando. Nada demais, tia Carmen.

—Eu ouvi a risada de vocês, é bom saber que estão se dando bem. É bom ter um cúmplice. Um irmão principalmente. Porque estava todo molhado, Honie? Hanna te jogou na piscina então...

—Acho que devíamos mudar de assunto. —Oliver fala de repente. —Que bom que eles estão se dando bem e tudo mais, ótimo. Porque não ficamos todos calados?

Decido que gosto mais de Oliver agora.

De fato, a mesa toda ficou em silêncio, mas não durou muito.

—Oliver —Vanessa fala dócil. —Porque está com raiva?

Ele continua calado, mastigando seu comer como se sua vida dependesse daquilo. Seus olhos estão cravados na mesa.

—Nada.

—Seu namorado ainda vai vir?

Percebo que a linha tênue acabou de ser destruída.

Paulo acabou de parar de mastigar e olhou para Oliver, necessitado de uma resposta que eu percebo que quer que seja negativa. Carmen aprecia a cena com olhos famintos; claros e enormes olhos escuros.

—Ele está nervoso, conhece meu pai —Ele revira os olhos. —Acho que não seria bom, se vão trata—lo mal.

—Oliver eu juro que ele será bem tratado enquanto estiver aqui.

—O problema não é a senhora, mãe. É meu pai.

Bebi meu suco. Os pés de Honie estavam afastados demais para que eu conseguisse tocá—lo. Vanessa coça a cabeça e assente.

—Ele jura também. Não é, Paulo?

Nenhuma resposta por cinco segundos.

—Claro. Juro.

Isso fez Oliver sorrir, não só ele como Carmen também.

—Obrigado. —Ele parece envergonhado.

Antes que eu pudesse terminar sinto a perna de Honie encostar—se à minha, foi um gesto simples, quase não notei que foi proposital, então seus lábios moveram-se até que eu entendi. "Fique".

—Quer sorvete? —Oliver me pergunta.

Ficamos nós três a mesa.

Aceitei o sorvete e aproveitei para perguntar o que Honie queria quando Oliver saiu.

—Você dormiu?

—Claro que dormi. Você está péssimo também.

—É. —Ele fica tímido. —Me desculpa por... Você sabe... Te abraçar.

—Não faça de novo.

—Não vou.

Queria que ele não tivesse tocado no assunto, porque não poderíamos falar de como ele não manchou a camisa comendo ainda ou de como Marley quase pulou em cima de Carmen quando a viu, ou de como Oliver pareceu feliz ao saber que pode trazer seu namorado para dentro de casa. Odeio sentir a limitação me cercando dentro desta casa; sou dividida em áreas proibidas e que não conheço. Só. É irritante.

Oliver volta com três taças com sorvete.

—Baunilha.

Odeio baunilha.

—Seu preferido. —Ele completa.

Pego a taça de vidro e a colher. Coloco a primeira colherada na boca e sinto vontade de cuspir. Não o faço. Engulo.

—A cara do nosso pai foi terrível.

—Ele tem que... Se acostumar.

—Posso pensar em cancelar tudo isso ainda.

—Mas ele jurou. —Falo. —Vamos nos esforçar.

—Como se você fizesse jus a sua palavra. —Oliver resmunga e sai da cozinha deixando a taça com o sorvete intocado.

Olhei para o irmão mais novo.

—O que...

—Não. —Ele me corta. —Não tenho nada a ver com isso. Podemos conversar mais tarde, eu vou sair e você deveria voltar a ser amiga de Christina porque ela está insuportável. —Seus dedos estalam, ele chega perto demais para meu gosto. Quase sinto seu toque de novo. —Se cuida. Sou o mais novo, mas você quebrou mais ossos.

Ele sai.

Ficosentada por mais cinco minutos antes de ir para o quarto de Hanna. Precisoescutar o que ela tem a dizer sobre Oliver. 

Eu, HannaOnde histórias criam vida. Descubra agora