CAPÍTULO QUARENTA E UM

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(Hanna Albertelli)

Acordo sentindo o cheiro de leite azedo. Não... Urina. Vômito? Não sei que porra é. Assim que se passam dez segundos, talvez menos, sinto a dor pelo meu corpo todo, é agonizante, quase insuportável. Eu tinha alguma coisa na minha boca, era algo gosmento. Assim que sai daquele monte de sacolas de lixo, cuspi no chão e descobri que o que estava na minha boca era sangue. Meu sangue. Havia cortado a bochecha por dentro. Todos os cheiros daquelas sacolas pareceram se unir; comida podre, urina, até cheiro de algo morto. É um beco estreito, perto de uma rodovia movimentada e barulhenta. Se eu concentrar no cheiro adiante, consigo sentir o cheiro de gasolina. Um posto está bem por aqui. Ainda estou com as mesmas roupas, minhas coisas ainda estão comigo.

Meu celular é a primeira coisa que procuro.

Não... Não posso ligar para ninguém de casa, minha mãe ficaria louca e nem mesmo sei onde ela pode estar e meus irmãos estão fora de questão, eles correriam direto para meu pai. Ele acha que eu morri? O pensamento me faz dar uma risada sinistra até mesmo para mim... Mas não seria uma má ideia aparecer de novo e sei lá, dar um susto nele. Neles, um plural significativo. A dor no meu braço nem mesmo me deixa pensar racionalmente, porra. Decido andar até aquele posto, quando saiu do beco fedorento consigo vê-lo um pouco distante, ando o mais rápido possível e me pergunto como deve estar minha aparência neste momento. Não reconheço a rua em que estou. Meu pai deve ter dado várias voltas ao sair bem rápido da Price. Babaca. Ele e ela, os dois se merecem na verdade, como não posso pensar que os dois não são perfeitos para si? Ele é oportunista e hipócrita, um egoísta que não aceitaria nada que não lhe agrade ou beneficie. Já ela, uma fanática por dinheiro, trapaceira. Eles são isso tudo, sim, mas nunca pensei que fossem capazes de... Jogar meu corpo como lixo.

Quando chego à conveniência do posto, o homem que está atrás do balcão para de mexer no celular e me olha obsessivamente, me pergunto se é por causa da sujeira, do cheiro ou o fato do meu braço está de uma forma torta. Ando até ele e pego um dos papéis descartáveis que tem em cima do balcão.

—Pode me emprestar a caneta? —Pergunto, minha garganta está pior que um deserto.

Ele o faz. Tremendo, mas faz. Escrevo o primeiro número que me veio à cabeça, pelo menos nele vou ter que confiar caso o meu plano A não funcione, duvido muito que funcione. Vou ao banheiro depois de colocar o papelzinho na carteira e jogar a caneta no balcão; o balconista teve que segurá-la depressa para o objeto não ir ao chão.

—Puta que pariu.

Agora entendo o olhar daquele homem.

Meu cabelo tem pedaços do que eu acho ser comida chinesa, minha bochecha direita tem um corte fino e avermelhado. Abaixando meu olhar, vejo como meu pescoço está inchado e minha nuca ainda está dolorida. Minha blusa está com uma mancha escura na cintura e espero muito que isso seja chocolate. Minha calça, suja. Dedos e unhas, imundos.

Bufo, irritadiça.

Saio do banheiro meia hora depois de conseguir pelo menos tirar os vestígios de comida do meu cabelo e a mancha da blusa. Na verdade eu piorei a mancha tacando água. Passo pelas portas e pego meu celular, entro no aplicativo que usei antes de sair de casa e mando uma mensagem para o cara, ando pelas ruas até achar uma rua iluminada um pouco distante do olhar dos trabalhadores do posto de gasolina.

"Estou em ******"

"Bem longe"

Ele responde imediatamente. Infelizmente minha paciência já tinha ido para os ares.

"Você vai aparecer ou não?"

"Em dez minutos".

Passo os próximos dez minutos olhando minha conversa com Christina. Eu poderia ligar para Nolan, mas duvido que ele aceite vir me buscar depois da nossa briga que, na verdade, é culpa dele.

Eu, HannaOnde histórias criam vida. Descubra agora