—Sobre o que é?
O espelho do banheiro está manchado um pouco, mas consigo ver perfeitamente as pernas de Sely pela brecha da cabine. Ela disse que escolhe sempre a primeira cabine, porque todos a pulam, logo é a menos usada o que quer dizer que é também a mais limpa. Olho para as pernas dela enquanto respondo.
—Um vídeo. Nada demais.
Ela dá uma risadinha e depois vem lavar as mãos.
—Você fala como seu irmão.
Vire-me para ela, pelo espelho vi meu próprio rosto com uma expressão de nojo. Então me dou conta de que ela está falando de Honie, não de Nathan. Relaxo os ombros, tento me manter quieta e confortável com o biquíni amarelo chamativo de Hanna; que não possuía nenhum tipo de maiô no closet. Meu corpo não é algo de que gosto. Não é algo que eu gosto de sair mostrando, mesmo que eu diga que me amo; eu não amo tudo. Ninguém ama.
—Preciso te perguntar uma coisa.
A frase despertou um genuíno desespero dentro de mim, tentei fingir indiferença novamente mexendo no cabelo ou arrumando o biquíni exageradamente.
—O que foi?
—Honie... Ele... Parece... Não sei, digo, ele beija bem, mas quando estamos perto para dar o próximo passo ele fica na defensiva.
—Ele só não está pronto.
—Mas isso não devia ser o contrário?
Olho para ela, pensando.
—Não. —Respondo. —Nós também temos o direito de agir, assim como eles tem o direito de brochar. De amarelar. De fugir. Ficar na defensiva.
—Então o que eu faço?
—Espere. Ele vai ceder se você compreender.
Não quis acrescentar o "eu acho".
Ela se ofereceu para passar protetor nas minhas costas.
Saímos do banheiro e fomos nos bronzear, enfim, ela calou a boca.
Respingos de água molharam minhas costas, o que me assustou.
Honie estava jogando água na minha direção.
Não, não na minha direção, na direção de Sely. Mas não me importei tanto. Continuei quieta até sentir que ele se aproximava não me sentir desconfortável foi inevitável, é a primeira vez que ele vai me ver assim, com pele demais para fora.
—Ele está aqui. —Honie fala e percebo que está falando comigo.
—Quem?
—Ele. —Seu dedo dispara em direção ao Desconhecido.
—O que tem ele?
—Tinha me esquecido que Nolan Damas também frequenta esse clube. —Ele resmunga, quase acho o ato fofo. —Vocês ficaram?
—Talvez...
—Por isso Helen está com uma cara de bunda. Ela te odeia, sabe disso, não pode dar em cima do irmão dela toda hora.
Nolan... Brevemente me lembro dele de uma citação em um dos podcasts, mas estou prestando mais atenção a Honie para conseguir me lembrar de algo concreto. Honie está vermelho, com pequenas queimaduras no nariz e na testa, gotículas escorrem dos seus cachos desfeitos e escorrem pelos braços fortes e se perdem no tecido da sunga preta encharcada. Até o caminho da felicidade dele é sexy. Volto para seus olhos. Claros, hipnotizantes e claros.
—Eu não dei em cima dele, foi o contrário. —Respondo. De uma hora para outra minha boca secou e senti a necessidade de precisar do tanto de água que a piscina tem.

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Eu, Hanna
Fiction généraleVer uma pessoa morrer não é nada de tão incomum. Mas se a pessoa que você visse morrer for idêntica a você? E se ela lhe pedisse um último favor? E se você aceitasse? A vida de Amanda Voz, uma escritora amadora, agora se resume no "e se". Decidida...