CAPÍTULO DOZE

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Tive de piscar dez vezes para saber se estava acordada mesmo.

Mas eu não estava sonhando, eu estava mesmo na cama de Hanna, deitada nos travesseiros, agarrada aos lençóis. E Honie estava ao meu lado, sentado, me assistindo. Dei um pulo ao perceber tudo isso de uma vez.

—Estava tendo pesadelos? —Ele pergunta inseguro.

—Acho que ainda estou tendo. —Murmuro. —Há quanto tempo apaguei?

—Seis horas.

Tento me mostrar indiferente, mas é algo realmente surpreendente.

—Você não dormia?

—Você disse que ninguém aqui dorme realmente.

—Sim, eu disse. O que está acontecendo?

—O que quer dizer? —Pergunto no mesmo tom inseguro que ele. Ele não pode perguntar isto e ficar simplesmente calado depois. O cutuco com força; quero que ele fale.

—Vai ficar com raiva se eu falar?

—O que você fez? —Sibilo. Era uma coisa que eu fazia constantemente com Nathan quando ele fazia algo escondido e achava que eu nunca iria descobrir.

—Nada!

A habilidade mentir de Honie é uma coisa péssima. As bochechas dele ficaram vermelho-cereja, até mesmo seus dedos tremeram. Ele parece um adolescente prestes a dar o primeiro beijo e... Não. Não, me recuso a pensar nisso, me recuso a pensar em como seria beijar Honie Albertelli. Nem ferrando.

—Você não consegue mentir para uma mentirosa, Honie. —Foi o que falei, tentando dissipar meus pensamentos impuros.

Sem resposta nenhuma ele apenas aponta para onde o computador está. Senti a cor sumir do meu rosto ao pensar que ele pode ter escutado os podcasts. Ouviu sobre a Hanna do futuro e o desejo de tê-lo morto, o áudio onde a irmã diz que o próprio irmão mais velho fez uma aposta com um amigo para fazer sexo com ela. Ele ouviu tudo isso? Então porque ele está tão sereno? Não foi ele mesmo quem me defendeu quando eu estava com Nathan na cozinha?

—O que você... O que você... Sabe?

—Sua história é muito boa. Eu gostei.

Tenho certeza que se tivesse vizinhos eles teriam ouvido minha respiração aliviada. Tenho certeza de que um peso enorme saiu dos meus ombros, mas outro ainda mais pesado tomou seu lugar quando as palavras dele fizeram cem por cento de sentido, ele havia lido meus rascunhos que estavam em aberto no computador, ele havia entrado na beira do abismo e faltava muito pouco para saber a verdade, a minha verdade e a de Hanna; ele conheceu minhas palavras. Isso me apavora.

—Você leu?

—Sim, e antes que eu me desculpe preciso dizer que a protagonista... Amanda?

—Miranda. —Respondo com o coração acelerado. Para falar a verdade, "acelerado" é um eufemismo. Tive de engolir em seco quando ele desviou seus olhos de mim, o que custou minutos.

—Isso! Ela é muito ousada sabe? O que é uma coisa boa porque normalmente as mulheres nos livros não fazem nada mais do que sorrir e falar frases de efeito. Eu gostei. Podemos falar sobre o Harry? O motorista.

—O que tem ele?

—Ele é meio confuso não é? Ele gosta ou não da Miranda?

—Eu não sei. —Encaro-o. —Eu não tenho como dizer ainda.

—Bom, eu acho que você deveria coloca-los juntos. Ele guarda algum segredo? Quem matou a gêmea que todos conheciam? Porque a Miranda nunca conheceu a irmã e a família? —Honie parece ter levado um susto. —Estou me alienando por sua história Hanna Banana. Quando vai fazer final?

O final... Foi a única parte desta história que não pensei. O final da Miranda pode ser qualquer um final feliz, mas duvido que a autora tenha o mesmo. Caramba porque não consigo manter as estruturas de Hanna com ele? Com Oliver é fácil, ele me odeia, então acontece um momento reciproco disso, mas por mais que eu tente, não consigo odiar Honie, porque ele não odeia a irmã, seja o que for, ele ainda está do lado dela.

Eu e ele teríamos alguma chance fora disso tudo? Fora desta casa? Fora desse redemoinho de segredos? Eu acabaria estando em um lago congelado com ele a metros de mim, então teria que ir ou me afastar, neste momento eu não consigo decidir o que quero. Não com Honie, mas com Harry talvez.

—Todos os personagens guardam algum tipo de segredo.

—Você está sendo misteriosa de propósito?

Balanço a cabeça, rindo. Meu hálito não é dos melhores e sinto a extrema necessidade de ficar no chuveiro por horas, mas estou gostando de conversar com ele, sobre outra coisa que não seja essa família.

Sento na cama novamente.

—Pode ser. —Respondo.

—Achei que queria ser jornalista, expor a verdade que você sempre falava e tudo mais.

—Ando pensando nisso.

—Lembra quando a gente brincava de jornalzinho? Eu era o câmera, você cuidava de todas as partes legais e Oliver... Bem, ele não costumava brincar tanto com a gente, mas era ótimo. Fizemos entrevistas com todo mundo da casa, até fizemos um seriado de dez episódios quando Marley chegou. Gravamos de tudo um pouco. Não sei quando aquilo tudo acabou. Só acabou. Foi um dia normal e não queríamos mais fazer o que fazíamos, é tão estranho pensar nisso depois que acabou.

—Era legal.

—Sim. Era. Nossa mãe está no quarto. —Sua voz volta ao estado de hesitação.

—Como ela está?

—Está dormindo, bem, não quebrou nada e nem se machucou além de uns arranhões, ela também não bateu a cabeça. Bem. —Ele repetiu, mais firme, mas eu já estava convencida disso, ele não.

—Você... Já falou com ela?

—Não. Não acho que vou falar com ela. Oliver já faz muito.

—Você não gosta dela?

Ele sorriu, um sorriso torto e inseguro, quase uma desculpa para não responder realmente. Meu joelho está tocando o dele, eu estou usando a mesmas roupas, mas ele parece ter tomado banho.

—Na verdade é meio o contrário. Você sabe o porquê.

—Não, eu não sei.

—Não é uma história que eu gosto.

—Você leu meus rascunhos sem minha permissão. Não acha justo me contar uma história?

—Talvez depois. —Ele se levanta e depois fica parado recebendo a luz que entra pela janela; que horas são? —Fico feliz que esteja bem, Hanna Banana.

—Vá se ferrar. —Murmuro mesmo sorrindo.

***

Depois de um banho, depois de me vestir com um pijama de ceda amarela, depois de trancar a porta eu decido escutar a voz de Hanna novamente. 

Eu, HannaOnde histórias criam vida. Descubra agora