Capítulo 35

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Gente, eu demorei porque eu estava sem criatividade, e vocês sabem o por quê? 

Bom, eu meio que tive ideia para um novo livro e... isso me deixou com o cérebro estagnado, acreditam? 

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LEONARDA

Já estava parada naquele quarto há alguns instantes e ainda não havia conseguido me mover. Olhava fixamente para o emaranhado de coisas que estavam dispostas ali no chão, por cima de um papelão e mais uma variedade de papéis de diferentes tipos. Sentia vontade de sorrir, mas me controlava cada vez mais, até porque eu não queria ser a culpada de um berço mal montado ou de um Lucas triste e choroso.

Eu odiava vê-lo triste, ainda mais por um motivo tão besta quanto não saber montar um berço, mas lá estava ele, com os olhos cheios de lágrimas olhando para os papéis em suas mãos.

- Ei, vem cá. – O chamei e o ajudei a levantar, levando meus braços a sua cintura e deixando-os ali. Meu queixo repousou em seu peito e eu olhava para cima, encarando o rosto com uma fina camada de pelinhos da barba rala que nascia ali. – Não precisa ficar assim, eu vou ajudar você e nós dois montamos juntos, o que acha?

- Eu queria fazer sozinho. – A primeira lágrima solitária já descia de seu rosto e eu assenti. Não fiz mais nada, apenas continuei ali com ele. Conseguia sentir a frustração dele por aquilo. – Eu sou mesmo um bosta, né? Onde eu estava com a cabeça quando dispensei o montador?

- Você só queria ter uma conexão a mais com uma coisa que vai fazer parte do universo do nosso filho, isso não é ser um merda, é o que mostra que você vai ser um pai maravilhoso. Você está se esforçando, meu amor. – Ele assentiu. – Vai montando de pouquinho. Encontra primeiro as peças primeiro e organiza, aí depois você monta as maiores. Tenta assim?

- Eu vou tentar. – Dei um beijo em seus lábios e saí dali com o coração apertado, mas já que ele achava que conseguia, eu também acreditava.

O clima por aqui não era dos melhores, desde o dia que ele resolveu falar algumas verdades para as pessoas daquela casa e... bom, eu não me sinto nada ruim com aquilo. Eu já cansei de ver o quanto eles acham que o apoiam, mas na verdade sempre estão o colocando para baixo, mesmo que façam sem perceber. Eu seria tão hipócrita se dissesse que eles não o amam, entretanto seria mais hipócrita ainda se dissesse que eles se corrigem quando dizem algo que não agrada ou deixa Lucas triste.

Amanda era a "pior". Ela sempre estava dizendo como ele poderia melhorar suas notas, mesmo vendo o quanto ele se interessava pelo aumento das mesmas. A preocupação com estudos deveria ser algo essencial, mas sem deixar uma outra pessoa neurótica. É bem mais fácil de se estudar quando não se tem nenhuma pressão para aprender algo, sabe? E ele infelizmente ainda não tem isso.

Suas notas da faculdade eram quase excepcionais, a menor nota que ele tirava era oito e mesmo assim ela queria mais. A competição com outras famílias para ter o filho mais perfeito acabou com ele, no sentido figurado, claro. Por isso todas as tatuagens e os comportamentos nada bons, porque ele só queria se sentir... livre? Não sei se essa poderia ser a palavra designada para esse pensamento. Acho que eu deveria trocar por duas outras palavras: menos preso.

Segui até onde Ian estava e pelo menos pelos momentos quando estávamos juntos dele, pareciam que essas coisas que deixavam o dia de Lucas mais cinzas, desaparecessem. Ian era como o escape dele, da realidade que quase sempre batia na porta.

Às vezes eu lembro que me perguntava como era a vida de pessoas que tinham muito dinheiro. Se eles sempre saiam para comer em restaurantes caros e deixavam gorjetas bem gordas para um garçom. Se eles realmente se encontravam em intervalos de tempo mais longo, ou se eles nem ao mesmo não tinham tempo de se encontrar.

É QUE EU... TE AMO!Onde histórias criam vida. Descubra agora