Capítulo 47

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Oi, vocês podem não me barbarizar? Eu estava no porão da minha escola T-T

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LEONARDA

Quando minha ultima semana de aula no ensino médio chegou, eu já estava mais do que preparada para deixar tudo para trás. Não queria levar a amizade de ninguém ou falar com qualquer uma daquelas pessoas que em algum momento já nutri um sentimento bom, porque eu só acabei me ferrando no final de tudo e eu já estava tão sem saco para a maioria das relações com outras pessoas que são de fora do meu ciclo familiar que nem me importava mais.

Como eu poderia, afinal? Eu sempre confiei nas pessoas erradas e essa escolha se refletia na minha vida atual. Não fiz coisas boas, muito pelo contrário, cega pelo ódio, acabei destruindo muitas pessoas.

Se eu parasse agora e me perguntasse se eu me arrependo, bom, a resposta seria não. Sem a mínima dúvida. Claro que eu tentaria fazer algumas coisas de maneira diferente, como por exemplo, tratar os problemas de uma maneira mais séria, não fazendo tanto descaso deles, porque essa minha atitude e a maldade das pessoas que me rodeavam culminaram em todos os acontecimentos ruins que todos nós passamos.

A culpa não era apenas minha, obviamente. Começando que eu nunca fiz nada para ninguém me odiar. Nunca fui uma pessoa ruim com ninguém, nunca xinguei alguém que não tivesse merecido, nunca ignorei as pessoas quando elas precisavam de ajuda – mesmo as pessoas que sempre me magoavam, e o pior de tudo é que eu sempre empurrava com o peito e ficava me culpando pelo que as pessoas pensavam de mim, mesmo sabendo que, no final, apenas por eu escolher me amar e me tornar quem eu realmente era, incomodaria e faria cair uma onda de ódio sobre mim.

A pressão estética também sempre foi um fator muito recorrente na minha vida e mesmo que eu não queira admitir, eu sempre fiz de tudo para que as pessoas não notassem que eu sou uma pessoa trans, porque mesmo com o cabelo curto – que pra mim não define uma mulher, mas para muita gente define – eu me considerava uma pessoa que conseguia passar nos lugares sem ser lida como uma mulher trans e isso me tira de muitas situações de perigo.

Infelizmente!

Porque mesmo eu não sofrendo tanto quanto as outras, eu sei que elas que começaram a transição tardiamente ou que não conseguiram um nível de feminilidade que aos olhos da sociedade deveríamos ter, vão sofrer. Os perigos que rodeiam a minha existência sempre foi muita, por motivos bem óbvios, mas não acho que seja nada parecido com ter o estigma de ser trans.

Ser trans, muitas das vezes, nos coloca como alvo e quase sempre estamos à mercê da sociedade. Empresários, comerciantes, donos de lojas, restaurantes, lanchonetes e os demais de todas as outras áreas, muitas vezes, não contratariam uma pessoa como eu. Mesmo que estejamos mudando, essa mudança chega em passos de tartaruga, uma vez que nós temos que nos sujeitar a muita coisa apenas para ter uma certa segurança que nos é negada, muitas vezes, dentro dos nossos próprios lares.

Entretanto, eu estou grata por todas as coisas boas que eu vivi desde a minha própria descoberta até hoje, porque isso me tornou quem eu sou. Me moldou, como mulher e como ser humano errante que eu sou e depois de todo um ciclo fechado em minha vida, não tenho mais como voltar atrás em muitas atitudes – porque algumas eu não conseguiria mudar nem com todo o tempo do mundo ao meu controle.

- Como foi lá? – Meu pai me perguntou assim que entrei no carro. O som tocava uma música sertaneja que eu não conhecia e estava com o aroma clássico que aqueles aromatizantes têm.

- Nada demais. – Respondi simples, enquanto bocejava. Minha noite não tinha sido bem dormida, porque Ian agora está tendendo a trocar o dia pela noite e isso está acabando com meu sono, porque eu não sei dizer não e colocar regras nele, imagine o Lucas? Aquele dali se o Ian quiser cagar na cabeça dele, ele deixa.

É QUE EU... TE AMO!Onde histórias criam vida. Descubra agora