Capítulo 39

472 57 46
                                    

Demorei? Um pouco, mas estou de volta! 

--

LEONARDA

Uma porrada. Foi assim que eu me senti quando saí do sítio para voltar a cidade. No primeiro dia lá, foi como se eu tivesse tomado um choque e aquilo dali não fosse para mim. Sentia falta da cidade, do movimento dos carros, das luzes do poste que nunca apagavam e até mesmo das pessoas que me rodeavam a cada passo que eu dava, deixando difícil a locomoção. Entretanto, vendo por outro lado – mais precisamente o meu lado que voltou pra cidade – lá era o paraíso. Lá eu consegui estudar química, física e biologia e aprender, porque consegui me concentrar e... bom, devido ao meu histórico péssimo de concentração, aquilo foi uma vitória.

Tirando que o meu sono ficou regulado, eu tinha hora para dormir e hora para acordar, mas sempre acordando disposta. Minhas crises diminuíram estratosfericamente, quase não tendo uma durante a minha estadia. Lucas também melhorou, parecia que ele agora conseguiu colocar a sua cabeça no lugar e fazer o peso das medidas que o deixavam triste e alegre, mas ainda não consigo decifrar o que ele "decidiu". Ian parecia o mesmo. Ele não parecia ter sido tão afetado pelo clima interiorano quanto eu e Lucas, mas ele nem estava tão estressado quanto estava aqui.

E o silencio? Acho que o silencio é o que me dá mais saudades, visto que a casa mais próxima de nós ficava bem distante. Depois me vem em mente o canto alto dos pássaros todas as manhãs, o que aqui na cidade não se tem, levando em conta tamanho desmatamento; o cheiro das árvores e principalmente a liberdade que nós tínhamos lá. Liberdade de corrermos, brincarmos e tudo sem ter uma pessoa de olho na gente.

- O que tanto você pensa, minha sobrinha? – Meu tio me olhava curioso e eu apenas sorri para ele. Desde que voltamos, mais ou menos dois dias atrás, eu ainda não havia tido tempo de falar com o meu tio pessoalmente, visto que eu tive que ir para o banco resolver alguns problemas da minha conta, tive que ir no hospital com o Ian, porque ele teve que tomar outra vacina, o que o deixou bem mais chatinho e chorão por tudo. Resumindo, muitas situações desgastantes.

- Eu estava sentindo saudades do sítio. – Dei de ombros e ele assentiu. – Lembra quando você disse que já morou no interior? – Ele assentiu novamente. – E que se sentia bem melhor?

- Claro, morar no interior é um paraíso, mas tem seus prós e contras. Nós que já temos muito dinheiro e não precisamos trabalhar, bom, pelo menos você não precisa, nos damos bem. Porém, as pessoas que moram lá precisam de emprego e essa é a parte ruim, muitas vezes o interior não dá suporte para que as pessoas cresçam dentro de seu próprio município ou cidadezinha.

- Você está militando muito, tio. – Meu irmão chegou e sentou perto do nosso tio, segurando um Ian que estava vermelho de tanto chorar. – Eu queria ter ido junto com vocês, mas só que ninguém me avisou e quando eu soube onde era, também tive uma informação bem privilegiada de que os dois não queriam outra pessoa junto deles. Sabe tio, acho que estou pensando em escolher uma irmã e um cunhado melhor, a única coisa que eu vou manter igual é o meu sobrinho gordinho. Não é meu amor? Diz pro tio que é, diz!

- Pobre Ian, mal nasceu e já está entre doidos... – Concordei com o meu tio, o que resultou em um olhar ofendido do mesmo, mas não é muito mais do drama que ele faz todos os dias.

- Sim, mas voltando, você lembra de que eu falei que eu nunca conseguiria morar em um lugar assim? pois é, eu estava errada demais! Não tem um barulho alto de carro, não tem gente mal-educada gritando no nosso ouvido cedo da manhã, o ar... aí que saudade que eu estou daquele ar friozinho da manhã...

Minha tarde com meu tio foi resumida em falar do interior, tentar acalmar o Ian, que de vinte em vinte minutos começava a chorar e tentar não matar o meu irmão por idiotices que ele falava. Bom, mais um dia normal na minha vida!

É QUE EU... TE AMO!Onde histórias criam vida. Descubra agora