Capítulo 3

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LEONARDA

Como já era de se esperar, a festa havia dado o que falar antes mesmo de terminar. Os portais de notícias e jornais famosos já estavam divulgando as fotos que foram tiradas por eles, com os mais diversos tipos e títulos de matérias. Algumas mais sensacionalistas do que as outras, trazendo à tona um passado de relacionamento de Lucas com outras garotas e dizendo o quanto ele se rebaixou, porquê agora está com um homem. E nos comentários das mesmas não faltavam pessoas preconceituosas destilando seu veneno em minha pessoa, com os argumentos mais imbecis que nem eu mesmo poderia imaginar.

Seria uma mentira se eu falasse que estava surpreso por ter tamanha recepção e comentários acerca do assunto, porque todos sabem que as pessoas que são transexuais dão muito o que falar por onde passam. Nem sempre são comentários bonitinhos e polidos sobre nós, mas sim, na maioria das vezes, comentários ruins sobre como deveríamos ser ou nos comportar, porque estávamos erradas e outras coisas a mais que não tenho estomago de repetir.

Minhas amigas, coitadas, de tanto eu avisar que elas ficariam chocadas, elas estavam se preparando para uma coisa bem mais básica do que essa. Talvez um anuncio de namoro com algum dos meninos do time de futebol ou alguma doença que poderia me sugar até o último resquício de alegria que tenho em meu ser. Porém, a surpresa delas foi maior ainda do que elas panejavam, já que pelo histórico de tretas que existe entre mim e Lucas, poderia ser qualquer outra coisa no mundo, menos isso... bom, realmente não é de verdade esse namoro, mas elas irão saber quando eu conversar com elas. Entretanto, isso só irá ocorrer na segunda-feira, porquê hoje é madrugada de sexta para sábado e depois de uma noite inteira em cima de um salto, eu só vou dormir.

E nem mesmo as 250 mensagens no grupo que tem apenas 3 participantes irá me impedir.

Acordei exatamente nove horas da manhã com o meu despertador tocando, enquanto no resto da minha casa, parecia que as pessoas estavam mais agitadas do que o de costume. Minha mãe falava alto com alguém que não reconheci a voz, meu pai estava estranhamente quieto e meu irmão ainda não veio me pertubar a essa hora da manhã. Poderia ser desse jeito pelo resto do ano! Segui em direção à cozinha e parei no fim do corredor que levava para a sala, quando vi aquele amontoado de homens dentro da minha casa.

Tinha para todos os gostos. Gordo, magro, alto, baixo, malhado, negro, branco, loiro, moreno, ruivo, careca.

- O que é que você está fazendo aqui na sala com esse pijama curto, Leonarda do céu? – Minha mãe me empurrou correndo de volta para o quarto e eu, que ainda estava sem reação, apenas me deixei ser guiado por ela.

- Eu ia tomar café. – Disse e revirei os olhos, porque isso é algo bem óbvio que eu ia fazer, como faço todos os sábados a essa hora. – E por que você está estranha desse jeito? Aconteceu alguma coisa?

- Eu já deveria imaginar, que você com esse sono... se caísse uma bomba ali do lado de fora você não escutaria e se entrasse um ladrão aqui dentro de casa, até tu ele levava e tu não se acordava, minha filha. – Assenti, olhando para ela com estranheza. Minha expressão, sem dúvidas, dizia muito sobre o que eu estava pensando no momento: minha mãe deveria ser internada em uma clínica psiquiátrica.

- Ainda não me foi explicado o motivo de tantos homens ali na sala, além de eu não poder seguir e tomar meu café como eu faço todos os dias. – Comentei, impaciente.

- Oxe! E num foi tu e aquele psicólogo que disseram que meu filho, na verdade, é mulher? – Respirei fundo e assenti. – E não foi ele quem conversou comigo que eu deveria te apoiar e todo aquele blá, blá, blá? – Assenti novamente. – Então você vai ter que entender que ser mulher não é apenas ter peitos e uma buceta, depois que fizer a bendita cirurgia.

É QUE EU... TE AMO!Onde histórias criam vida. Descubra agora