Capítulo 44

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LEONARDA

Minha noite não foi das melhores por alguns motivos: eu não consegui dormir bem, pelos choros constantes do Ian, que estava doente e chorava por tudo; Lucas, por outro lado, não conseguia dormir e a todo momento se mexia na cama, o que me deixava preocupada com ele e também pelo fato de que ele estava tentando esconder que estava triste, quando estava escrito na sua cara, com letras garrafais, que ele não estava bem. Fiz questão de não acordar minha mãe nessa madrugada, porque ontem ela cuidou dele e passou a noite inteira sem dormir.

Eu também não posso e nem vou cobrar nada dela, visto que eu quem sou a mãe dele e sou eu quem tem de cuidar. Ainda deixo com ela quando eu vou pra escola, porque não tem como eu levar uma criança para um ambiente cheio de adolescentes que não conseguem ficar calados.

- Ele dormiu? – Ele me perguntou sonolento e eu concordei, depois de voltar para a cama.

- Dorme também. Amanhã você precisa acordar cedo e apresentar um trabalho na faculdade, ou você esqueceu? – Ele levou sua cabeça até a minha barriga e ficou com ela apoiada lá. Eu comecei a fazer cafuné, porque eu sei que era uma coisa que ele gostava muito.

Não demorou muito para que eu percebesse que sua respiração havia ficado mais calma, ritmada e seu aperto diminuído consideravelmente na minha cintura. Meu sono não estava mais dando as caras e eu não tinha mais muita coisa a fazer, senão estudar um pouco e esperar que Ian acordasse outra vez na madrugada.

Já no outro dia bem cedo, quando eu acordei, não tinha mais ninguém dentro do meu quarto além de mim, mas eu conseguia escutar minha mãe tomando banho no quarto dela e eu só sei disso porque ela estava cantando e ela não era a pessoa mais afinada do mundo quando fazia show para os seus shampoos e cremes de cabelo. O que me deixou mais alerta foi a conversa alta na cozinha, o que, pelo menos na minha vivencia, não era algo que acontecia todos os dias.

- Bom dia! – Cheguei na cozinha de mansinho, assustando a todos os que estavam presentes. Até mesmo Ian tomou um susto. – Qual é o motivo de tanta risada uma hora dessas?

- Nada, meu amor. Estamos apenas comentando de quando você era criança e digamos que você não era das mais coordenadas.

- Não acredito...

- Quem é que sai correndo de uma ponta a outra e cai em cima de bosta? – Ele sorria alto, enquanto minha mãe acompanhava e meu pai tinha um sorriso discreto em seus lábios.

- Cala a boca, Lucas. Toda criança é desengonçada. – Revirei os olhos. Digamos que ter uma lembrança assim não é muito boa pra sua convivência em uma fazenda, por exemplo.

A lembrança vai envelhecendo e o trauma também, mas brincadeiras a parte, eu não tive muita culpa. Eu sempre fui muito curiosa desde que eu era apenas um pequeno bebezinho e quando fomos a uma fazenda pela primeira vez foi uma experiencia extraordinária. Todos os bichos, todos os sons e as árvores, além do cheiro de interior me faziam ficar encantada, mas aí veio o terrível acidente, que me fez ficar toda suja. Como ele já disse, eu não era nada coordenada motoramente, então digamos que no processo de me levantar eu levei mais algumas quedas, o que resultou em uma mini pessoa TODA suja.

- Isso é um assunto muito nojento pra conversar no café da manhã, vocês não acham não?

- Não! – Responderam todos ao mesmo tempo. Dei de ombros.

Consequentemente, como acontecia na maioria das casas que se tem muita gente, o assunto começou a variar e passaram a ser coisas mais fúteis, como preços de alguns eletrodomésticos e outras histórias da vida das pessoas ali – mais predominantemente da minha, visto que meus pais naquele dia não conseguiam calar a boca nem por um segundo.

É QUE EU... TE AMO!Onde histórias criam vida. Descubra agora