Capítulo 7 - Visita

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Pov Rafaella

A noite de ontem com Gizelly não saía da minha mente. Passei um bom tempo pensando no que aconteceu na sala de cinema. Não que eu estivesse afim dela ou algo do tipo. Eu realmente tinha noção do que precisava ser feito. Mas eu tinha que admitir que ela era alguém muito interessante. 

Assim que cheguei em casa Erick havia me falado que no dia seguinte a sua mãe viria almoçar conosco. Minha tia era uma mulher ingênua e via o filho como um anjo na Terra. Ela continuava morando no interior de Minas e, de início, o ajudou financeiramente a sair de casa e vir pro Rio por causa da faculdade que ele pretendia cursar. 

Eu nem sei se ele chegou a pisar os pés em alguma faculdade. Pouco tempo depois, eu fui como que obrigada a vir morar aqui com ele. Passamos a dividir as contas até que eu zerei minha poupança. Tive que trancar o curso que tanto gostava pois não conseguiria terminar de pagá-lo e passei a depender dele e desse plano ridículo. 

Era por volta do meio dia quando Erick chegou sorridente com minha tia. Ele a tinha ido buscar no aeroporto.

Logo nos cumprimentamos e fomos até a mesa que já estava posta à nossa espera. O almoço foi servido e estava impecável como sempre.

Os funcionários daqui sempre foram muito bem escolhidos. Erick e eu também sempre tomamos cuidado de não tornar público diante deles a fonte de renda dessa casa. Se alguém dentre eles sabe, essa pessoa é super discreta. 

Eu não queria compactuar com aquele teatro diante da minha tia mas, o que poderia fazer? 

— Então, Rafa, quando retomará a faculdade? - ela me perguntou curiosa. 

— Logo em breve, tia. - queria que aquele almoço terminasse logo.

— Erick me falou que você trancou o curso a um tempo. A juventude tem suas fases. - fiquei sem entender mas logo me irritei. 

O que diabos ele tinha inventado para ela? 

— Você devia seguir o exemplo de seu primo. Logo ele se formará. - disse orgulhosa. 

Eu quis tanto revirar os olhos mas preferi sorrir sem graça. 

— É verdade, Rafa. Não posso ficar lhe sustentando a vida toda. - sorriu debochado enquanto mastigava. 

Ele queria me enfurecer e estava conseguindo. Contudo, se ele sabia jogar, eu também sabia. 

— Erick, já que você é tão dedicado, porque não leva a minha tia pra ir conhecer o seu trabalho? Não custaria nada. - o homem arregalou os olhos em sinal de espanto. 

— Verdade, filho. Eu iria amar ir com você. Até porque… - Ele a interrompeu. 

— Não! Vocês têm que aprender que não se mistura trabalho com vida pessoal. - eu tinha certeza que sua mãe não fazia ideia de onde ele trabalhava. 

— Você podia ao menos mostrar pra ela aquelas fotos que você tirou nesse fim de semana. - Não tinham fotos porra nenhuma. 

— Ah, Rafaella! Pare de me encher a paciência. - Ele me encarou mas preferiu levantar e sair da mesa antes que eu complicasse mais sua vida.

— Não se importe, tia. Depois que ele assumiu a direção a nível nacional dessa empresa de transportadoras, vive irritado. - mentir era quase uma especialidade minha. 

Eu sabia que ele passava os seus dias em qualquer clube da cidade gastando tudo o que roubava com mulheres, carros, bebidas e farras. Entretanto eu ainda provaria para os outros quem ele realmente era. Mesmo que isso me custasse pagar um preço alto junto com ele. 

Pouco depois subi para o andar de cima a procura de meu quarto. Ele era como meu refúgio ali. Embora eu passasse a maior parte do tempo só, era àquele ambiente que eu sempre recorria para tentar achar paz em dias como hoje onde meus pensamentos mais íntimos gritavam e me levavam ao sufoco. 

Ao adentrar o cômodo, Erick me esperava em pé escorado na enorme janela com vista para a varanda que havia ali. O homem estava possesso. 

— Eu já não te disse a deixar minha mãe fora da minha vida? - Ele me encarava novamente assim como fizera anteriormente enquanto estávamos à mesa. 

— Eu também já não te disse para parar de inventar mentiras sobre mim? - o encarei de volta. 

— A questão é que eu te banco, você me deve obediência. - alterou a voz com rispidez.

— Eu? Eu não te devo porra nenhuma! Você ainda vai se arrepender de me usar assim. - eu sentia uma angústia pesada. 

— Eu não te uso, Rafaella. Nós temos um trato. Você não aceitou de início? 

— Eu tive escolha? - minha voz saiu fraca enquanto lágrimas rolavam pelo meu rosto. Eu só queria pular pra parte em que eu estava formada, estável financeiramente e principalmente longe dele.

Ele saiu dali. 

Rapidamente tranquei a porta e me joguei na cama lamentando a minha própria situação. Eu realmente deveria ser muito boa com disfarces pois todos se apaixonavam pela figura de uma mulher segura de si, independente e forte mas eu era completamente o oposto disso. 

A tarde se seguiu até que recebi uma ligação de Gizelly por volta das seis da noite. 

Ligação on

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Ligação on

— Oi. Só liguei pra dizer que não esqueci de você. 

— Eu também não. - tentei sorrir mesmo sem ela ver. 

— Você tá bem? - ela se preocupou. 

— Pior que não. - porque eu estava falando aquilo justo pra ela? 

— Eu te mandaria flores se eu soubesse seu endereço. - agora de fato eu tinha sorrido. 

—  Eu amaria, mas não precisa. Não quero te incomodar. 

—  Me deixa te ver. 

—  Hoje não é um bom dia. Acabei discutindo aqui em casa. - admiti.

—  Sério? Porque ontem chegou tarde?

— Não, né? Quantos anos acha que eu tenho? Doze? - ouvi sua risada. 

— Qual o motivo então? - ela era curiosa.

—  Moro com meu primo. Só que sempre entramos em conflito por não termos as mesmas ideias. - desabafei.

— Poxa, que chato. - o silêncio se fez presente por um tempo — Porque não vem pra cá? Eu realmente queria te ver hoje. 

— Gizelly, a gente se viu ontem - ri fraco.

—  Vem. O gato já parou de morder. - gargalhei. 

Ligação off

Marquei de ir até a casa dela e dormir por lá. Não sei ao certo o motivo, mas dessa vez eu me permitiria chorar no ombro de alguém e ser consolada como qualquer outra pessoa tinha o direito de ser.

O TRATO - GirafaOnde histórias criam vida. Descubra agora