Capítulo LIX

44 7 10
                                    

Killian sentiu as palavras rasgarem sua garganta enquanto buscavam o caminho para saírem de sua boca. O capitão era incapaz de encarar Milah por muito tempo. Doía e ele tinha medo. Medo de que se a olhasse muito, poderia esquecer Emma.

E ele se recusava a permitir que isso acontecesse.

Jones indicou para que a mulher sentasse, tomando cuidado para manter a distância. Uma vez que Milah estava acomodada, o capitão lhe deu as costas, buscando por força e paciência.

Força para passar por aquilo sem falhar, e, paciência porque ele estava perdendo um tempo que nem ele e Emma tinham.

— Desembucha, Killian — pediu Milah, séria. A voz baixa e irritadiça da mulher fez com que o capitão voltasse a encará-la. — O que está acontecendo?

Jones abriu e fechou a boca, como se não soubesse por onde começar.

Como saberia, uma vez que alguém saído dos mortos estava bem na sua frente? A mulher que ele tirou do descanso eterno e que agora não amava mais? O tanto que Killian sofreu com a ausência dela, sentindo falta de um amor que agora ele sabia que não era verdadeiro.

Por anos ele achou que sua vida estava acabada.

Até que ele descobriu, ao lado de Emma, que estava apenas começando.

— Eu sinto muito. — Foi tudo o que o homem conseguiu dizer a princípio. E sua voz entregava o pesar que sentia. A tristeza. O cansaço. O arrependimento e o desespero. Ele sentia muito e não sabia como lidar com aquele turbilhão. — Não era para ser assim.

— O que não era para ser assim? — retrucou a mulher, a voz inflamada com um toque de impaciência. — Não era para ser assim a minha aparência depois do inferno que passei até conseguir voltar para você? Não era para ser assim a forma como me recepcionou, me largando sozinha durante a noite inteira no momento que mais preciso de você?

Killian negou com a cabeça e a encarou nos olhos. Sentiu-se um verdadeiro cretino antes mesmo de pronunciar as palavras que rondavam sua mente e seu coração.

— Não era para você estar aqui. Viva — sussurrou e engoliu em seco. — Você estava morta e deveria ter permanecido assim.

O silêncio reinou na cabine por longos segundos torturantes antes de ser quebrado pela risada histérica de Milah.

—Nossa! — exclamou com amargor e desviou o olhar. Sua mandíbula tremeu como se segurasse o choro. — Eu posso te garantir, Killian, que não estava morta, mas por muitos dias desejei estar. Porque a morte seria melhor do que eu passei por todo esse tempo em que desejava poder voltar para você.

Killian encarou o perfil da mulher, tentando entender o que ela queria dizer. Em seu âmago, ele já compreendia de certa forma. Parecia fazer sentido, agora que sabia qual era o enredo do seu destino que já parecia traçado de outras vidas.

Milah nunca esteve morta. Eles, as sombras — o Caos —, tinham-na pegado para usar como moeda de troca. Milah tinha sido mais uma peça no tabuleiro deles. Eles a haviam torturado durante todo aquele tempo, prometendo a ela que Killian estava a caminho.

E por um bom tempo ele esteve mesmo.

Até que deixou de estar.

O verdadeiro azar na vida de Milah foi tê-lo conhecido.

— Não vai me perguntar o que eu quero dizer, Jones? — indagou com sarcasmo e então se levantou, parecendo ter adquirido uma força renovada e andou até o capitão, enfiando o dedo indicador no peito dele. — Não vai me perguntar, porque sabe o que eu quero dizer — concluiu a voz embargada. — Me garantiram que você estava indo me buscar. Me disseram que você tinha aceitado.

Traiçoeiro (Em Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora