Segredos semiexpostos

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Depois do velório dos pais de Carya e Seth e do de Vó que seguiu o mesmo padrão, com honras de um membro da família real Tiger, Rodan mandou trazer Devon e Amara, ainda desacordados e com um pé na cova, e da pequena Juliette. Dreyfus precisava voltar ao próprio reino, mas estava adiando o máximo que podia. Rania estava tão esgotada emocionalmente que ele não tinha coragem de se afastar dela nem por um minuto. E isso porque ela ainda não sabia do estado real em que sua mãe estava. Tudo que lhe disseram é que Carya tinha gasto muito de sua magia e precisava ficar no templo de Kallisti se recuperando. Rodan tentou contar a verdade, mas, tudo estava tão sombrio, tão triste, que ele não conseguia jogar mais essa dor no coração de sua adorada filha.

Outra preocupação constante era Kursk. Seth avisara à Rodan que não tinha mais nenhuma dúvida sobre a fonte dos poderes do rapaz e da proximidade dele com algum tipo de fantasma do falecido Leviatã. Quem diria que o sempre tão calmo e responsável Kursk seria uma fonte tão perigosa de preocupação? Seth o alertara a não confrontar Kursk por enquanto. De acordo com o mago, a influência de Leviatã sobre ele era muito grande e já devia estar ali a mais de dez anos. Enfrentar cara a cara podia não ser uma boa ideia, podia destruir qualquer resquício de bondade no rapaz ou fazê-lo perder o autocontrole, dominado pelo ódio e pelo poder de Leviatã. Rodan amava o filho e não iria condená-lo com uma imprudência dessas, até porque Carya arrancaria seus olhos se ele fizesse uma besteira dessas com o filho deles. Então ele decidiu dar alguns dias para ir cercando Kursk sorrateiramente, preparando um momento adequado para prendê-lo em um templo para que os magos lidassem com a magia dele e o pai pudesse conversar, atraí-lo, tirá-lo do poder de Leviatã. No momento, haviam dois espiões trazidos especificamente da escola de espiões leoninos, recém formados, conhecidos por poucos, dentre eles, Rodan e Devon.

- Mago desgraçado. Mesmo morto me traz problemas. – Rodan disse, esfregando as têmporas doloridas.

- Rodan. Você precisa comer. – Seth entrou carregando a bandeja que ele tinha feito a serva levar de volta a menos de um minuto.

- Não sinto vontade de...

- Não perguntei se você sente vontade de comer. Estou dizendo que você PRECISA comer. – Seth disse e calmamento colocou a bandeja na mesa em frente à Rodan.

Rodan olhou pra ele com uma carranca aprofundada, parecendo ainda mais bravo do que a aparência de sempre. Mas Seth aprendera a ler o leonino a muitos anos e sabia que esse era seu jeito de tentar ser brincalhão.

- O que aconteceu? Minha mulher andou te dando aulas de como ser mandão? Você falou igual ela agora. – Rodan disse.

- Não me enrole, Rodan. Eu ensinei magia à adolescentes. Acredite, ninguém os supera no quesito enrolação. Agora coma. Quando minha irmã acordar se ela souber que não cuidei direito de vocês ela vai fritar meus olhos. – Seth disse, colocando as mãos na cintura numa péssima imitação da irmã.

Rodan esboçou um sorriso e pegou a colher pra tomar a sopa. Alguém bateu na porta enquanto ele colocava a colher no prato.

- Entre. – Ele respondeu e um de seus espiões entrou.

- Senhor, Comandante. – O espião cumprimentou respeitosamente os dois. – Temos um problema. O príncipe Kursk saiu e conseguiu enganar os espiões no caminho. Nós o perdemos.

Rodan parou a colher a meio caminho da boca e a jogou dentro do prato de qualquer jeito, se levantando bruscamente.

- Merda. – Ele rosnou. – Como ele descobr...

Ele e Seth se entreolharam entendendo a resposta para a pergunta não formulada.

- Ele vai fazer algo grande se precisa se arriscar a mostrar a ligação deles assim. - Seth comentou, já saindo ao lado de Rodan.

Likastía IIOnde histórias criam vida. Descubra agora