Likastía II

Nas sombras

Carya estava muito irritadiça com a ofensa de Rádara ao menosprezar seu irmão, cansada das discussões que não conseguia evitar com Rodan e cansada de interrogar Bafo. Ela não era pacífica, não dialogava calmamente com nenhum inimigo. Era uma rainha justa, mas também era bastante cruel quando necessário. Com Bafo ela estava mais cruel que o habitual em seus interrogatórios, aproveitando pra extravasar toda a raiva que vinha sentindo. Mas não estava dando em nada. O homem era irritante, resistente e, mesmo com todos os dentes quebrados à marteladas, não lhe deu nenhuma informação. Ele só a provocava, xingava, mas nada de útil estava saindo dali. Rodan, Carya e a comandante da guarda pessoal da rainha, Maya, eram os únicos com acesso à Bafo que estava preso na cela onde Tigrésius manteve Ilena por anos. Ela entrou no escritório, expirando com força, secando o sangue nas juntas dos dedos feridos por socar a cara do prisioneiro a alguns minutos. Seth passou pelos dois guardas na porta e entrou com o cenho franzido.

- Irmãzona, podemos conversar? – Seth perguntou.

- Agora não dá, Seth. Preciso de um tempo pra me acalmar ou vou explodir esse palácio inteiro. – Carya não conseguia nem se sentar de tão agitada.

Seth tinha sentido que a irmã estava à beira de um ataque de nervos, muito antes de vê-la, com aquela ligação estranha e poderosa que eles tinham. Mas precisava tentar contar à ela sobre suas suspeitas. Um olhar pra ela o fez mudar de ideia. Já tinha muita coisa na mente de sua irmã.

- Toma. – Seth entregou uma pequena garrafa com um suco misturado à uma poção calmante que ele fizera assim que sentiu a agitação de sua irmã.

Carya pegou e bebeu sem pensar duas vezes. Ela sabia intuitivamente que seu irmão faria algo pra ajuda-la a se acalmar. – Obrigada, garoto chato. – Ela disse com humor.

- Majestade. – Maya chamou da porta. – Lorde Daro deseja uma audiência.

- Você não precisa atendê-lo agora, irmã. Pode descansar um p...

- Não. – Carya disse enfaticamente. – Ele provavelmente quer saber se há alguma novidade sobre aquele babaca lá na cela. DROGA! – Ela jogou a garrafinha longe, se espatifando na parede. – E eu não tenho nada porque aquele imbecil não abre a boca! O pobre Daro sofrendo pela morte de servos que ele amava como sua família e EU NÃO TENHO NADA!

Seth apenas olhou pra sua irmã com aquele ar calmo de sempre, sem falar nada, deixando que a raiva dela fosse colocada pra fora. Mandar Carya se acalmar era a pior coisa que se podia fazer e ele sabia disso. Muitas vezes, apenas a presença calma de Seth era o suficiente pra acalmá-la lentamente. Ela respirou fundo se acalmando.

- Tente descansar um pouco depois que falar com ele, irmã. – Seth disse e lhe deu um abraço antes de sair.

- Mande-o entrar, Maya. – Carya disse.

~o~

Dreyfus fora transferido para o quarto que tinha no palácio Tiger, sempre com Devon ou Rania cuidando dele.

- Isso é tão chato. – Rania expirou sonolenta. – Eu odeio estudar essas magias... Não sei como você consegue ter paciência pra isso, Dreyfus.

Dreyfus olhava pra ela e ela conseguia até sub entender o que cada olhar significava, como se fossem palavras. Drey sabia, mas Rania ainda não tinha percebido. A união deles era cada vez mais parecida com a de Rodan e Carya que se entendiam perfeitamente sem nem mesmo olhar um pro outro. Isso quase compensava seu estado deplorável e a constante humilhação de Kursk sempre que ficavam sozinhos. Como se invocado pelo pensamento, Kursk apareceu na porta.