Prelúdio de uma tempestade

6 2 0
                                    

- Meu mini rei parece preocupado. – Rádara disse, observando o cenho franzido e a tempestade que parecia se formar dentro do filho.

- Está tudo bem, mãe. – Dreyfus disse sem muita atenção, perdido em pensamentos.

- Vai precisar fazer melhor que isso pra me convencer, querido. – Rádara disse virando o copo de vinho na boca. – Se é pelo público alvo do projeto...

- Tudo bem. Eu entendi seu ponto de vista. – Dreyfus disse a contragosto. Uma obra tão monumental para pobres lhe parecia ridículo, mas ele entendera a ideia da mãe.

- Então o que é?

- Deixe o garoto em paz, Rádara. – Devon disse, entrando na sala com um olhar reprovador pra bebida na mão dela.

- Não se meta, espião. – Rádara disse com desdém e encheu o copo de novo pra mostrar que a opinião dele em nada lhe importava. – A conversa é com meu filho, não com você.

Dreyfus já tenso pelas coisas que se passavam em sua mente com cada vez mais intensidade ultimamente, expirou forte, se levantou e deu um beijo na mão da mãe. – Vou sair.

- Você devia estar estudando o projeto... – Devon começou.

- Ele não 'deve' nada, espião. Ele é o futuro rei e pode fazer o que lhe der vontade, quando lhe der vontade. – Rádara disse, ácida como sempre.

O olhar de ódio de Devon pra ela prenunciava mais uma discussão.

- Eu realmente não tenho obrigação de fazer nada que eu não queira, pai. – Dreyfus disse irritado consigo mesmo por motivos que nada tinham a ver com o projeto. – Mas, não sou perjuro. Dei minha palavra que colaboraria com esse projeto de dar pérolas aos porcos e cumprirei. Mas não agora. Cuide da sua vida que da minha cuido muito bem.

- Olha o respeito, garoto. – Devon disse tentando se controlar.

- Tem toda razão, meu futuro rei. – Rádara disse orgulhosamente, olhando pra Devon com um ar vitorioso. – Vá se divertir, filho. Você está na idade de namorar, não de ficar enfurnado trabalhando como um mero plebeu.

Dreyfus não estava com saco pra aquilo agora. As discussões do pai seriam demais pra ele nesse momento. Ele precisava de paz e...de uma mulher. Uma mulher do jeito que ele gostava, fácil e mais velha, pra acalmar seus pensamentos. Com um aceno pro pai, ele saiu respirando com dificuldade. Ele andou um pouco pelo palácio, mas nem sequer saiu pra cidade atrás do que precisava. No fundo ele sabia que não adiantaria nada. Ele tentara distrair a mente assim em Tiger e na viagem de volta, mas acabara por dispensar as mulheres que conseguira, sem nem mesmo tocá-las mais intimamente porque o rosto delas de repente pareciam os de outro ser vivo, um que ele estava tendo dificuldades pra esquecer, um que muitas vezes o enojava, mas que ultimamente parecia extremamente afrodisíaco.

Andando sem rumo pelo palácio leonino, ele ignorou os olhares famintos das servas que sempre se dispunham a se deitar com ele. Honestamente, ele praticamente não as viu. Cada vez que fechavas os olhos o maldito rosto que ele desejava e, ao mesmo tempo, odiava, aparecia em sua mente como se tivesse sido tatuado nela. Seu corpo inteiro reagia de formas que ele só tinha sentido com as melhores mulheres que tivera na cama. Ele respirava com dificuldade, cada momento longe parecendo um passo no inferno, seu corpo estava trêmulo com a necessidade despertada pela simples lembrança, suas pupilas estavam dilatadas. Ele parou, colocando a testa na pilastra de mármore frio, fechando os olhos e expirou alto.

- Inferno! Sai da minha cabeça! – Ele murmurou pra si mesmo.

~o~

Lordok, sentado no banco do jardim onde Teira fora vista a última vez, seu refúgio, vira o rapaz se aproximar atordoado. A meses Dreyfus parecia agitado, nervoso, tenso, mais temperamental que o habitual e estranhamente calado. Ele observara o neto, respeitando a privacidade dele, mas atento à tudo. Dreyfus era um mulherengo famoso no planeta todo, sempre passando noites e mais noites com alguma mulher diferente. Às vezes mais de uma ao mesmo tempo. Na maioria das vezes eram mulheres mais velhas, viúvas, damas da alta sociedade dos dois reinos. Lordok não gostava disso, era o extremo oposto dele, mas não adiantava discutir com o rapaz que só obedecia a mãe que incitava esse comportamento leviano no filho. A única vez que ele chamara Dreyfus pra conversar sobre isso, o rapaz lhe dissera que "não havia mulher que valesse o esforço de ser a única". Lordok sempre ficava triste com o pensamento de que o rapaz talvez nunca amasse como ele amou sua esposa. Isso era realmente lamentável. Mas, nos últimos meses, Dreyfus praticamente não saía, ou voltava muito cedo, ou ficava nas festas apenas bebendo e conversando com amigos. O tormento do garoto naquele momento no jardim, indo em uma área que ninguém mais visitava além do rei leonino, tão alheio à tudo que nem o vira praticamente ao seu lado... Isso tirou qualquer dúvida que o rei tivesse.

Likastía IIOnde histórias criam vida. Descubra agora