Likastía II

Espírito protetor

Um mês.

Um mês de namoro. Um mês de tortura com a qual Kursk era obrigado à conviver vendo o casal que não deveria ser um casal. Um mês que Rania o evitava como se ele fosse a reencarnação de Tigrésius. Um mês que Dreyfus fazia questão de exibir que ele era o namorado de Rania, e não o príncipe Tiger. Um mês enrolando seus pais que lhe deram muito mais obrigações como castigo por suas atitudes irresponsáveis. Um mês de amizade com a jovem serva que o ouvia pacientemente e o mostrava que realmente poderiam existir amigos leais.

- Talvez seja algum tipo de maldição no sangue... Meu pai também era bem azarado com amigos.. – Kursk se lamentara certo dia.

- Nem tem comparação, alteza. O príncipe Eltar tivera todas as suas amizades deliberadamente sabotadas pelo pai insano, possivelmente para manter o jovem príncipe isolado, à sua mercê. – Amara respondeu servindo seu prato na mesa da cozinha.

- Você tem uma sabedoria digna da nobreza, Amara.

Amara deu de ombros. – Não é nada demais. Qualquer um pensaria nisso. – Não era necessariamente verdade, mas ela não podia dizer mais nada.

Naquele dia os quatro, Rania, Dreyfus, Line e Kursk estavam supervisionando os trabalhos na obra da escola que ainda não tinha um nome. Dreyfus tinha um braço firme na cintura de Rania, como sempre, o que só deixava Kursk constantemente tenso, irritado, descontando a raiva em qualquer um que respirasse errado do lado dele.

- Line, vamos? – Rania chamou.

- Onde vão? – Dreyfus perguntou com um tom possessivo, como sempre.

- Não vou roubar sua namorada e fugir para o quinto paraíso, Dreyfus. – Line respondeu com sarcasmo. Ela não entendia porque Rania aceitava aquele tratamento sempre tão controlador do namorado. Obviamente ela estava incomodada com isso, mas nunca dizia uma palavra que fosse pra parar ou chamar a atenção dele.

- Não perguntei pra você, princesa. – Dreyfus disse com os dentes trincando por precisar ser educado e respeitoso com a jovem que ele ainda achava que era uma farsante, que não era a filha de Seth, embora a ligação dos dois fosse inegável.

- Só vamos cuidar daquele assunto que comentei com você. – Rania se colocou na frente de Dreyfus, olhando para ele, ficando entre ele e Line. Ela se sentia tão cansada. Não precisava de uma cena agora.

Line expirou irritada, não conseguindo acreditar que Rania contara à ele sobre algo tão...íntimo.

Rania deu um selinho tímido em Dreyfus e tentou se afastar, mas, percebendo que Kursk olhava firme pra eles, irritado, quase espumando de ódio, Dreyfus a puxou de volta e lhe deu um beijo apaixonado até ficarem sem fôlego. Ele se afastou um pouco, acariciou sua bochecha e disse num sussurro, apenas pra que ela escutasse:

- Não banque a espertinha, querida. Não preciso te lembrar o que acontece com meninas desobedientes, não é?

Ela olhou pra ele com um misto de raiva e medo nos olhos. Durou apenas um segundo, mas Kursk percebeu e não era a primeira vez. Ela se afastou com Line e Kursk pensou em se aproximar do ex-amigo, ambos se encarando de longe como duas feras enjauladas. Amara apareceu na frente do portão e chamou a atenção do príncipe Tiger. Ele seguiu o caminho, trombando com o ombro no de Dreyfus propositalmente, mas o leonino fingiu que ele nem existia e sorriu docemente. Kursk respirou fundo e continuou seu caminho até a serva que o aguardava, implorando com o olhar pra que ele não fizesse uma besteira.

- Já terminei. Quer algo mais, alteza? – Amara perguntou entregando as chaves do escritório particular dele que só ela arrumava porque ele agora desconfiava de tudo e de todos.