Kursk se debateu até se soltar dos dois loucos que o seguravam pelos braços. Os cânticos guturais e as danças que beiravam à histeria corporal, estavam quase o ensurdecendo. Ele não podia deixar Rania morrer, não agora que ele a tivera uma vez. O que Kursk não sabia é que o poder de cura de Rania atrapalhara um pouco o efeito nocivo do veneno. Apesar de não conseguir se mexer ou acordar, ela ouvia e sentia tudo ao seu redor. Ele tentou correr até as pessoas dançando enquanto os dois que o seguravam pouco antes corriam atrás dele. Mas, quando alguns membros do grupo se viraram para ele, com olhos virados nas órbitas, completamente brancos, com semblantes desfigurados pela loucura, ele paralisou. Nesse momento ele percebeu: estava com sua magia praticamente nula e sem nenhuma arma. Claro, ele podia lutar contra aquela gente, mas eles eram tão assustadores e, até onde ele se lembrava, muito fortes quando ficavam daquele jeito. Quem garantia que eles não iriam mata-lo, esquecendo que ele era supostamente seu deus? Se isso acontecesse, com a magia tão fraca, como Levi o salvaria?
Não posso abandonar a Rani.... Não depois que já a possuí. Não. Eu quero ela de novo várias vezes na vida, mas dessa vez sempre acordada. Não vou deixar ela morrer. Kursk se decidiu e avançou contra seus inimigos.
O líder rosnou de um jeito semelhante à um felino engasgado com um osso. Quatros dos dançarinos daquele rito bizarro avançaram em direção à Kursk com adagas de cabo de osso. Ossos de outros Tiger, inimigos de Kursk que ele ordenara a morte. Atrás dele os outros dois haviam sacado adagas idênticas. Ou eles iriam mata-lo ou ferir gravemente, afinal, se ele era mesmo o tal deus encarnado, não poderia morrer. Mas ele era mortal, afinal. Ele não era a encarnação do deus morto-vivo. Kursk sentiu as pernas tremerem, os joelhos fraquejarem, a sensação de estar morrendo naquele dia no lago lamacento o atingiu como uma rocha. Ele não queria morrer. Não queria sentir aquilo de novo nem por um segundo.
O instinto de sobrevivência, o medo da morte, o dominou. Lentamente, quase sem se dar conta, seus passos mudaram de direção. Ao invés de correr para salvar Rania, ele se virou e correu para mais e mais dentro da mata. Sem parar, sem diminuir a velocidade. Correndo até seus pulmões não aguentarem mais.
Kursk... Levi tentou chamar, mas Kursk estava tão em pânico que nem percebia os pequenos galhos o atingindo e ferindo, causando arranhões e manchas rochas pelo corpo.
Kursk... Pare, filho.
Kursk continuava, ouvindo a voz de Leviatã tão longe como se estivessem a quilômetros um do outro.
KURSK! PARE!
Ele finalmente parou, com as mãos apoiadas no joelho, respirando pesadamente, manchas escuras turvando sua visão pela má oxigenação do corpo, lágrimas caindo como rios de seus olhos.
Recomponha-se, garoto. Levi falou. Você ainda pode voltar lá.
- Pra que? Ela já deve estar morta. Eu não podia ficar.... Não podia...
Então procure se vingar da morte da sua mulher. Aquele rei, seu falso amigo, ele é o culpado de tudo isso. Leviatã disse. Mate-o.
- Sim. Você...você tem razão....Ele...Foi o Dreyfus....Ele me roubou....ela morreu por culpa dele. – Kursk disse, agradecendo pela culpa que sentia ser de outro.
Pelo menos você aproveitou a chance na carruagem. Eu disse que você tinha que possuir sua mulher naquela hora.
- Sim. Pelo menos ela foi minha. Só lamento ela não ter aproveitado também. Achei que teríamos mais chances depois com ela acordada. – Kursk se acalmou sentado em uma pedra com Leviatã agachado em sua frente, as mãos fantasmagóricas apoiadas no joelho de Kursk. – Obrigado, Levi. Você é o único amigo de verdade que tenho.
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Likastía II
FantasyFelinos são seres tão majestosos, tão lindos e meigos... Alguns são mais selvagens e indomáveis, é bem verdade, mas é impossível ficar indiferente ao magnetismo dos felinos. Em Likastía é mais impossível ainda considerando que é um planeta completam...