Seja racional

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Os meses passaram e Vó estava vivendo quase o tempo todo no palácio Tiger, sempre discutindo com Hunna ou mimando Amara. A serva continuava seu trabalho, aparentemente sem nenhuma punição por ter escondido sua magia que ainda era um segredo para os outros servos e o povo. Mas ela sentia a frieza com a qual a rainha a tratava, sempre distante, mas sempre atenta à tudo que a serva fazia. Aquilo parecia muito pior do que as agressões psicológicas que Daro a infligia sempre que podia. Só a amizade de Kursk e Devon tornavam as coisas mais suportáveis.

Mais felinos morreram em consequência dos ferimentos do atentado à escola de dança durante esse tempo e as pessoas na cidade estavam inquietas, a tensão no ar era quase palpável. Carya temia uma nova revolta, mais violenta que a enfrentada anos antes. Em compensação, tando Rania quanto Dreyfus estavam melhorando visivelmente. Dreyfus já conseguia sentar com ajuda, mas ainda não tinha 80% dos movimentos do corpo, precisando de ajuda até pra levar uma colher à boca e comer. Devon cuidava dele quase o tempo todo, quando precisava sair Line se oferecia pra cuidar do príncipe leonino ou Kursk era chamado. No início, Drey odiava a atenção da jovem Line que parecia ter pena e dele, mas, dado à opção, ele quase ficava grato só por não precisar enfrentar Kursk. Se ele ao menos conseguisse falar ou mover o corpo de alguma forma...

Naquela tarde, seu pai pela enésima vez saíra pra informar à sua mãe sobre seu quadro e tentar fazer a rainha leonina ir visitá-lo. Infelizmente pra ele, Line estava com Rania, então Kursk ficara cuidando dele.

- Sabe, você está aqui ocupando espaço e gastando o ar inutilmente mesmo, então vou te informar como estão as coisas no mundo dos úteis. – Kursk disse, sentando na cadeira ao lado do ex-amigo, colocando o tornozelo esquerdo sobre o joelho direito, exibindo o movimento que ele podia fazer e o outro não.

Imbecil. Dreyfus revirou os olhos, irritado.

- Hoje cedo escalei as árvores com mais rapidez que um leonino, mais rapidez do que você faz. Ah, espera. Fazia ne? Agora você não vai nem no banheiro sozinho. – Kursk riu. – Os felinos internados, muitos daqueles pobres plebeus que você acha tão pouca coisa, estão bordando e fazendo trabalhos manuais mesmo em suas camas pra passar o tempo. Eu vi alguns trabalhos. São lindos. Tem uma senhora de uns 120 anos que quebrou vários ossos da perna, costelas e perdeu uma orelha. Mas ela está criando uma cortina lindíssima pra doar pro templo de Kallisti, agradecendo por ter sobrevivido.

Grande merda. Como se isso fosse me incomodar. Dreyfus pensou, mas sabia que realmente incomodava. Ele tinha se tornado um inútil.

- Ah e tem a Rani... – Kursk continuou, sabendo o quanto aquilo devia doer no outro, mas não dando a mínima. Ele queria causar o máximo de dor ao ex-amigo, nada parecia suficiente. Sua sede de vingança só aumentava. – Ela conseguiu ficar ainda mais linda mesmo depois de quase morrer de estafa pra salvar você. Que tipo de homem incompetente não consegue cuidar de si mesmo e precisa quase matar a própria namorada só por medo de morrer? – Kursk deu um olhar de desprezo e crueldado ao ex-amigo. Se qualquer pessoa entrasse no quarto e só olhasse pra Kursk, não saberia dizer se aquele era o príncipe Tiger criado pela Rainha Carya, ou o príncipe Tiger criado por Tigrésius, o falecido Eltar. A semelhança era quase assustadora. Até mesmo a cicatriz no pescoço de Kursk era muito parecida com a do falecido pai.

Eu vou matar você, filho de uma rameira, canalha, demônio com máscara de santo! Covarde bostético! Dreyfus pensou e tentou balbuciar alguma ofensa, gritar, mas seus lábios mal se moviam, só tremiam de forma patética. Mas seu olhar de ódio era bastante eloquente para o jovem que crescera com ele.

– O que foi, Drey? Ficou nervosinho? Quer me matar, não é? Eu sei que quer porque eu quis muito matar você quando você roubou o que era meu. Mas você não consegue nem abrir falar... Olha só pra você. Um corpo inútil na cama, babando como um velho esclerosado. – Kursk sorriu maliciosamente. Ele se levantou, esticou os braços sobre a cabeça se espreguiçando calmamente, exibindo os movimentos que podia fazer. - Ainda bem que ela não precisa mais ficar com você, já que você é um completo inútil agora. Mas, fique tranquilo, irmão. - Kursk disse com ironia. – Eu vou cuidar da minha Rani muito melhor do que um estrupício como você faria.

Likastía IIOnde histórias criam vida. Descubra agora