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Cinco anos antes...

O bairro mais distante e mais pobre na capital Smilon, já perto da floresta que levava à famosa Fonte Termal Sagrada, era conhecido pelo alto índice de prostituição, roubos, assassinados, sequestros e todo tipo de coisas ruins que os seres vivos podem imaginar fazer uns com os outros. As gangues locais agiam com extrema organização e violência e havia muita resistência entre os habitantes locais com relação à rainha Carya. Uma das rebeliões mais violentas às medidas implantadas por Carya, por sinal, se iniciara naquela região. O clima era tão pesado que apenas os magos do reino eram bem recebidos ali e nem mesmo as medidas da rainha para melhorar as condições da região eram aceitas pelo povo que a consideravam uma usurpadora. Muitos ali desejavam que Carya abdicasse em favor de Kursk, filho de Eltar, o 'herdeiro verdadeiro' que fora 'assassinado' pela usurpadora e que Rania fosse casada com Kursk, a única felina na atual família real respeitada naquela região.

O local era, basicamente, um barril de pólvora, dificilmente mantido sob atenta observação e uma relação diplomática graças aos magos. No local havia um único orfato que não dava conta do alto nível de crianças abandonadas, muitas sendo filhos de prostitutas, bandidos, pais assassinados, etc. A verdade é que a maioria desses órfãos fugiam e passavam a viver nas ruas, muitos entrando para o crime ou prostituição (ou ambos) antes mesmo dos 5 anos de idade. Três anos atrás, a menina fantasiada de garoto para evitar certos perigos, havia fugido do orfanato onde apanhava constantemente e era feita de escrava, passando horas limpando locais enormes, sendo humilhada e chicoteada. Praticamente não tinha direito de comer ou dormir, exceto quando já estava desmaiando de cansaço e fome. Nesses períodos, no máximo, tinha permissão para dormir por quatro horas e lhe eram servidos ossos de aves assadas e restos dos pratos de outras pessoas. Quando a dona do lugar, uma velha encurvada e de aparência assustadora, recebeu um dos maiores bandidos da região em sua casa, a menina com sua magia latente, embora ainda não tivesse consciência disso, ouviu quando o homem lhe fazia uma oferta por uma jovem para ser sua nova 'bonequinha dos rapazes'. A velha aceitou o valor e a menina, ao ouvir seu nome, fugiu aterrorizada, entendendo que a tal 'bonequinha' era ela.

Não foi fácil. Os primeiros meses nas ruas foram os piores. Mas, por alguma bênção do destino, ela conseguira se esconder e sobreviver nas ruas. Quando aprendeu a usar um pouco de sua magia isso a ajudou a roubar comida nas feiras e tavernas locais. Quase foi pega algumas vezes, mas, sendo tão magra, ela corria muito bem e sempre escapava. Seus amigos das ruas lhe deram o apelido de 'ventania' por sua velocidade e nunca souberam que ela era uma menina. Certo dia, depois de mais um roubo que lhe rendeu uma boa quantidade de bananas, uma mulher encapuzada a agarrou por trás e puxou para um beco. A menina se debateu, tentou gritar, mas uma mão firme tampava sua boca. O horror a dominou. Ela tinha sido descoberta? Seria entregue pro bandido que oferecia uma recompensa para quem a encontrasse?

- Calma, criança. Não vou machucá-la, menina. – A voz feminina e melodiosa disse atrás dela.

A menina mordeu a mão da mulher e disse, ainda se debatendo: - Me solta, velha! Eu sou menino! Me respeite!

- Nenhum menino teria uma magia tão poderosa ligada às águas, criança. Pela minha experiência, quase sempre isso é traço feminino. Agora, você pode gritar e ser encontrada por sei lá quem a persegue, ser presa por roubo e ter o braço cortado, oooou pode se acalmar e me escutar.

- E...eu... Eu tenho que comer!

- Essas frutas todas? Menina, você não tem um estômago tão grande assim.

- Não é só pra mim, ta legal?! Eu preciso levar pros pequenos que vivem com a gente! Vocês adultos não se importam com a gente, mas nós, os Largados, cuidamos uns dos outros! – A menina parou um pouco de se debater, cansada.

Likastía IIOnde histórias criam vida. Descubra agora