Likastía II

Rainha Rádara

O corpo de Lordok havia sido transportado com uma multidão o seguindo em todo o percurso de Tiger até as Montanhas Amarelas. Felinos vindos de várias partes de Likastía, alguns do próprio reino leonino, outros de regiões que foram tomadas e defendidas durante a guerra com Tigrésius, algumas delas que haviam retornado ao domínio Tiger. Haviam felinos de todas as idades, felinos Tiger, leoninos e de cada uma das inúmeras espécies. Mesmo entre seus inimigos, mesmo entre aqueles que não eram grandes apoiadores dos leoninos, Lordok era respeitado e admirado por sua postura como militar e governante. Sua morte repentina em tais circunstâncias atraiu a preocupação até dos conselheiros da rainha Tiger que não gostavam da relação entre os dois povos.

Como Rádara se recusou a sair de seu reino pra buscar o pai, com a desculpa de não estar se sentindo muito bem (embora seu bom humor fosse notado até pelos plebeus), Devon como parente mais próximo lideraria a procissão ao lado de Rodan, Seth e Carya que conseguira se livrar com dificuldade das preocupações em seu próprio reino. O reino Tiger ficaria temporariamente sob a responsabilidade de Kursk, enquanto Line e Circe seriam responsáveis pelos cuidados médicos com os feridos, incluindo Rania e Dreyfus que estavam desacordados desde a cura milagrosa, mas estáveis.

A procissão seguiu todo o trajeto, descansando à noite por algumas horas e retomando nas primeiras horas da manhã. Todos durante os dias de viagens contavam histórias sobre momentos do reinado de Lordok, histórias engraçadas sobre a época quando ele era um príncipe, coisas que cada um lembrava ou ouvira sobre o rei, histórias reais ou lendas sobre o felino e seu dom mágico de ver a luz na alma de cada um, pessoas comentavam quando foram salvas por ele ou alguém a seu comando, alguns nunca o tinham visto pessoalmente, mas conheciam alguma história sobre o rei e seu melhor amigo com cara de bravo. A amizade dos dois era sempre mencionada aqui e ali na procissão entre os plebeus, algumas vezes chegando aos ouvidos alertas de Rodan que estava mais enfezado que o habitual, tentando se forçar a não derramar nenhuma lágrima. Os leoninos não se importavam em chorar quando tinham motivos, mas isso entre os Tiger era considerado símbolo de fraqueza e ele era o rei consorte dos Tiger. Quatro vezes por dia, em horários pré-determinados, Seth enviava e recebia notícias dos dois reinos. O combinado com os conselheiros era que, se a mensagem não chegasse no horário combinado eles enviariam uma tropa imediatamente, temendo outro ataque à sua rainha. No final da semana, a procissão chegou lotando Jubay, a capital leonina.

Rádara aguardava na entrada da cidade, coroada e com o manto de rainha, o que surpreendeu à todos, exceto Devon e Rodan. Geralmente o governante leonino só era coroado oficialmente alguns dias depois do sepultamento do governante anterior por causa do luto e só usava aquele manto em dias de festa. Até a coroa nova de Rádara geralmente só era forjada no aniversário de um ano do governante por respeito ao rei ou rainha anterior. Ela estava com uma expressão de tristeza tão falsa que não convencia ninguém.

- Rainha Rádara. – Carya cumprimentou respeitosamente, apertando a mão de Rádara que tinha dado um passo com a clara intensão de abraça-la. – Lamento pela perda de seu pai e meu padrinho.

- É bom te ver, Carya. – Rádara disse com um sorriso.

- Lamento muito, majestade. Sabe o quanto eu amava e respeitava seu pai. – Rodan disse ao lado de Carya, sempre muito educado, mas a raiva começando a ferver dentro dele.

Devon se aproximou de Rádara, mas ela nem ouviu os cumprimentos dele e o ignorou tão abertamente como nunca fizera antes em público. Carya ficou com pena e revoltada pela humilhação que Devon estava sofrendo. Antes que ela pudesse dar uns esporros e causar um problema diplomático, Rodan apertou a mão dela pedindo silenciosamente por calma, embora ele mesmo estivesse louco de vontade de dar uns tapas em Rádara.

- Eu mesmo cuidarei da investigação desse atentado, majestade. – Rodan disse num falso tom conciliatório. – Garanto que vou encontrar os responsáveis pela morte do rei e meu amigo. E eu juro que, quem quer que sejam, eles vão pagar caro por essa atrocidade. – Ele olhou firme pra ela e Rádara sentiu os órgãos tremer dentro dela, mas disfarçou. – Eu juro.