Sinais de mudança

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- O que aconteceu lá fora?! – Rodan gritava pela primeira vez com o filho. Sua voz tenor somada à sua habitual carranca já era intimidadora, mas os gritos e a visível raiva nele o tornavam mais assustador do que ele planejara.

- Kursk, que diabos deu em você? – Carya não gritava. Fazia pior. Sua voz estava baixa e calma. Assustadoramente calma, pois era como olhar para uma bomba avassaladora a ponto de explodir a qualquer momento.

Kursk não respondia, mantendo a cabeça baixa envergonhado e sofrendo por decepcionar os pais e, principalmente, pelo medo que vira nos olhos de Rania.

- Calma, men... – Vó tentou amenizar a situação, de pé com a mão no ombro do rapaz sentado na cadeira.

- Não, Vó. Eu a respeito muito, mas, desta vez, não tem como te ouvir não. – Rodan disse.

- Não mesmo. – Carya confirmou. – Aquilo foi inaceitável!

- Eu sei que vocês têm razão e esse menino bobo precisa de um puxão de orelha. – Vó continuou. – Mas agora não é a hora.

- E quando será a hora?! – Carya elevou o tom de voz, um brilho de fogo em seus olhos. – Quando ele matar alguém por olhar torto pra ele na rua?!

- Amor... – Rodan chamou atenção dela pra que ela não perdesse o controle de seu poder mágico.

- Agredir e tentar matar um rapaz que não estava fazendo nada de errado! – Carya dizia, com uma mão na cintura e outra gesticulando nervosamente. – Alguém que é não apenas um aliado da família, mas também um amigo. Um amigo da sua irmã! E, como se não bastasse, tentar matá-lo na frente de todos! Tem ideia de como sua irmã deve estar? Porque eu ainda não a vi, mas imagino, dado o coração bondoso dela. E o pobre rapaz? Você pensou em algo além de...de...sei lá que merda você estava sentindo naquela hora?

Kursk começou a inclinar mais pra frente e Vó o segurou. Carya parou de falar quando percebeu que ele estava com olhos vítreos, trêmulo e molhado de suor.

- Por isso eu disse que não era a hora. – Vó disse, deixando Rodan pegar o rapaz. – Ele está ardendo em febre e balbuciando coisas desconexas.

- Grrrr! – Carya rosnou irritada e frustrada. – Amara!

A menina que estava nas proximidades cuidando de seu trabalho, veio às pressas. Amara passou pela porta e precisou de todo seu autocontrole pra não demonstrar seu choque. Vó, por outro lado, a olhava visivelmente intrigada. Carya percebeu, mas tinha outras prioridades em mente. Rodan, tremeu com aquele desejo hipnótico, mas havia aprendido a amenizar aquela sensação pensando com toda sua força em inúmeros momentos com Carya a vida toda.

- Sim, majestade. Em que posso serví-la?

- Minha querida, por favor, chame o mago Kirin e diga que é urgente. – Carya disse.

Amara fez uma reverência e saiu para cumprir sua missão. Agora a coisa complicou mesmo. Ela pensou enquanto seguia apressada.

- Quem é? – Vó perguntou um pouco ofegante.

- A serva que foi trazida a dois meses. – Rodan respondeu sem dar muita atenção. Era melhor evitar até mencionar o nome da menina. Ele levou Kursk pro quarto, carregando-o no ombro.

- Tudo bem? – Carya perguntou segurando a mão de Vó com preocupação.

- Sim. – Vó disse, ainda olhando pro caminho por onde Amara tinha saído. – Vamos cuidar do seu filhote.

Carya acenou, sua preocupação com o filho vencendo qualquer outra.

Porque ela me parece tão familiar? A pergunta se repetiu na mente de Vó o resto do dia. Amara voltou com o mago, mas não passou nem perto do quarto do príncipe, sabendo que Vó estava lá. Ela se virou para o canto mais escondido do jardim, em meio às árvores frutíferas e esperou. Não demorou muito para ouvir os passos.

Likastía IIOnde histórias criam vida. Descubra agora