Decididamente indecisos

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- Está tudo bem? – Carya perguntou, vendo Rodan parecer um pouco tenso ao seu lado.

- Sim. Só cansaço. – Rodan disse a meia verdade. Só tinha olhado pra jovem serva novata duas vezes desde que ela chegara e toda vez era um inferno. Seus pensamentos embaralhavam, sua garganta ficava seca, seu corpo todo parecia ficar mais quente e tenso. Isso era assustador porque a única mulher que sempre teve esse efeito sobre ele era Carya. Mas essa menina que nem era adulta ainda parecia ter um poder quase hipnótico sobre ele, fazendo com que ele precisasse de todo seu autocontrole e pensar mil vezes na mulher que amava pra não ceder à tentação anormal que a menina causava nele. Ele nunca trairia sua amada Carya. Nunca. Em todos os anos desde que começara a se sentir atraído por ela, ele nunca nem mesmo olhara pra outra mulher. Amara nem era seu tipo, caramba! Ele se forçou a focar na voz de Carya como se ela fosse sua última gota de água num enorme deserto, trazendo-o de volta ao seu corpo, aliviando aquela atração que parecia sufoca-lo, destruí-lo por dentro.

- Espero mesmo que você tenha razão. Me sinto a pior mãe do universo. – Carya dizia.

Felizmente, ele sabia instintivamente do que ela estava falando e desviou o olhar do reflexo de Amara no espelho, passando discretamente no corredor em seus afazeres. – Você é uma ótima mãe, querida. Quantas vezes preciso dizer isso?

- Mas..

- Minha amada, - Rodan pegou a mão dela e com a outra levantou o queixo pra que ela o olhasse nos olhos e deixou todo aquele amor intenso e revigorante que sentia por ela o inundar. – Nossos filhos são dois jovens de bom coração, leais até a alma, corajosos, justos, unidos e amados até por nossos inimigos. Querida se isso não é prova de boa criação, então eu não sei o que é.

Carya suspirou e apoiou a testa no peito dele enquanto ele acariciava gentilmente sua cabeça. – Só queria que ele me visse como mãe.

- Ele vê, amor. Só que Kursk sempre foi assim, autossuficiente, adulto demais pra idade dele. Também me preocupo, mas não podemos forçá-lo a mudar.

- Não é isso, Rodan. Eu sei que é o jeito dele, mas me preocupo porque ele parece pensar que nos deve algo, que o criamos como se fosse um fardo que tivemos que aceitar, como se não quisesse ser um peso. Caramba, às vezes acho que se não fosse pela desmiolada da Rania ele nunca teria tido infância porque só ela pra arrastar ele para as confusões típicas da juventude.

- Eu sei, amor. Também me preocupo com isso, mas garanto que ele a ama como a mãe maravilhosa que você é. E...

- Licença. – Kursk disse meio sem jeito, entrando no salão do trono. – Mãe, err...será que...que...enfim...podemos conversar?

Carya acenou e ele se aproximou nervosamente. Ele tinha decidido contar seus sentimentos por Rania e viera o caminho todo planejando quais palavras usar, até mesmo que gestos fazer. Mas agora, olhando pros olhos astutos do pai e o olhar intenso de Carya, sua determinação vacilou. Rodan sentou em seu trono de rei consorte e Carya se acomodou sentada de lado em seu colo. Ver o carinho entre os pais sempre fizera Kursk idealizar um casamento igual, com aquela devoção e união que parecia quase tangível no ar entre eles. E ele sabia que Rania idealizava o mesmo.

- Estou ouvindo. – Carya disse, tentando não soar tão magoada como estava, mas ela nunca fora muito boa em ocultar suas emoções.

- Bem, primeiro eu....eu quero me desculpar. A senhora sabe...por...não contar sobre...sobre meu estado...

- Tudo bem. E? – Carya disse, sentindo o braço do marido se apertando um pouco mais ao redor dela. Kursk a olhou confuso, temendo que seus pais já soubessem sobre seus sentimentos, ainda mais nervoso com a ideia. Percebendo o olhar confuso e meio aterrorizado do rapaz, Carya disse, com desconfiança: - Você disse que essa era a primeira coisa... Qual é a segunda?

Likastía IIOnde histórias criam vida. Descubra agora