Ossos e vermes

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~o~ A lenda de Kallisti e Morrin ~o~

Em um tempo antes do tempo, Kallisti, a deusa primordial, a luz nas trevas, tinha uma jovem amiga, uma deusa menor criada por uma deusa que fora criada por Kallisti, chamada Morrin. Morrin era irmã caçula de Merrik, um deus de bom e nobre caráter, por quem a jovem deusa sentia uma paixão oculta e inveja do carinho do irmão por Kallisti que o amava. Em algum tempo antes do tempo, Kallisti o pediu em casamento e jovem deus aceitou. Por isso, ela o presentou com poderes sobre os estágios físicos dos mortos. Seu poder faria com que a carne servisse como alimento para outros seres pequeninos do solo e os ossos como fertilizante para a terra produzir ervas de cura. Morrin, cheia de inveja e despeito, rouba o poder de Merrik e sua imortalidade, a transformando em um líquido ácido semelhante à água. Temendo a vingança de Kallisti, Morrin foge para o subsolo onde a luz do sol não chega e atrai Merrik com a promessa de lhe devolver a imortalidade. Em vez disso, ela devolve apenas uma pequena parcela, o transformando em um ser meio vivo e meio morto, incapaz de viver entre os mortais ou os deuses, e devora metade de seu cérebro o tornando um ser praticamente irracional. Assim, ela o faz proferir o juramento de lealdade e casamento, lhe dá o poder de controlar os vermes do solo, se auto denomina deusa da decomposição e Merrik seu rei. Kallisti então os amaldiçoa com a incapacidade de viver sobre o solo em suas formas imortais e proíbe o casamento entre irmãos. Os mortais, leais a deusa suprema, 'a luz na escuridão', extinguem completamente qualquer tipo de culto à Merrik e Morrin. Desde então, diz a lenda que Morrin ainda inveja a lealdade dos mortais à Kallisti e espera o momento certo para destruir a deusa e seu povo.

Dizem que, mesmo um morto-vivo com meio cérebro, Merrik lembra de sua antiga noiva e que por isso alimenta os vermes como ela desejava.

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O sepultamento de Rádara foi rápido. Os magos de quase todos os templos da cidade compareceram e alguns populares. A grande maioria foi apenas por respeito à Dreyfus, atual rei, não pela falecida. Rania andava de braços dados com Drey, Carya e Rodan logo atrás, Seth e Line depois. Os olhos inchados de Carya surpreenderam à todos, mas duvidavam que o estado dela fosse pela ex amiga. Realmente, Carya não ligava pra morte de Rádara, o que a assustava um pouco. Ela estava mais preocupada com o filho e Eltar que parecia ter voltado do inferno só para estragar sua vida.

Conforme a cerimônia de cremação tradicional acontecia, Rodan percebeu a figura ao longe no galho de uma árvore observando. Sutilmente, ele mostrou para Carya e, mesmo sem ver o rosto, eles souberam quem era. Mas não se aproximaram. O momento não era ideal. Quando entraram no palácio leonino, Drey se despediu de Rania e saiu para cuidar do reino. Carya e Rodan aproveitaram o momento para conversar com a filha em seu quarto. Rania entrou seguida por sua mãe enquanto Rodan falava com o guarda na porta e a fechava.

- Foi tão triste. – Rania bocejou e Carya começou a ajuda-la a se arrumar pra dormir. A princesa estava visivelmente cansada, as tentativas de cura de Devon e Amara, depois a viagem, haviam esgotado ela. – Obrigada, mamãe.

- Sente-se docinho. – Rodan se aproximou. – Precisamos conversar.

- Agora, papai? Eu to tããão cansada... – Rania disse em uma voz mais infantil.

- Agora, Rania. – Carya disse mais séria. – Nós queremos conversar com você sobre seu casamento com...

- Só pode ser piada! – Rania levantou quase num pulo da cama, rangendo os dentes furiosa.

- Docinho... – Rodan tentou acalmar a tempestade Rania. Ele já tinha lidado com a tempestade Carya mais cedo durante a difícil conversa com Kursk. Tudo que ele não queria era enfrentar mais uma tempestade feminina, ou duas se Carya entrasse numa discussão com a menina.

Likastía IIOnde histórias criam vida. Descubra agora