Likastía II

Ideias

Amara nunca sentiu tanto medo antes. E olha que ela já tinha passado por cada uma... Algumas semanas depois da morte de Bafo, Amara enviou a mensagem mais difícil de sua vida: avisar a seus inimigos que ela estava grávida. Devon estava sempre a observando de longe, enviando mensagens por Rodan, mas evitando proximidade pra que o plano de enganar a Coligação não falhasse e eles descobrissem sobre o caso deles. Era difícil para ambos, especialmente agora que ela carregava o filho dele. Depois de inúmeras informações vitais passadas, muitas atrapalhando envios importantes de cargas do reino Tiger para o reino leonino, Amara tinha conquistado um pouco das boas graças de seus chefes, mas a desconfiança sempre permanecia. Dois dias depois que Dagmar levara a mensagem de Amara e confirmara sua gravidez, um trio de espiões a raptou e levou até um galpão fétido, cheio de ratos, baratas e caindo aos pedaços. Ela foi pressa à uma cadeira no escuro, mal conseguindo evitar as náuseas. Não demorou para Zedd aparecer, seguido por Dagmar que carregava uma lamparina mágica emitindo um feixe de luz apenas suficiente para iluminar o trio. Amara tinha certeza que haviam mais espiões ao redor, ela podia sentir a presença deles e Zedd era excessivamente cauteloso.

- Se você estiver mentindo... – Zedd ameaçou.

- Não estou, senhor. Eu juro. Fiz exatamente como me ordenaram. – Amara tremia e sabia que era inútil tentar conter. Zedd tinha um dom de causar pavor em qualquer um sem nem mesmo olhar feio. Muitas vezes Amara se perguntou se ele tinha algum tipo de magia que fizesse isso.

- Amara... Não teste minha paciência, pequena. Sabe que eu não tenho muita. – Zedd testou querendo ver se a menina cedia.

- Eu disse a verdade. Meu filho, ou filha, é fruto das minhas relações com o rei-consorte e comandante, Rodan. Ele ainda não sabe.

Zedd a encarou por um minuto que mais pareceram horas e Amara temeu que ele não acreditasse.

- Conte pra ele. – Zedd disse, por fim. – Queria ser uma mosquinha pra ver a cara dele... Mas, não podemos ter tudo que desejamos, não é.

O olhar de Zedd pra Amara a fez se encolher. Ele nunca mais a tocara depois daquela única noite em que ele foi seu primeiro. Na época lhe disseram que devia ser ele porque ele tinha mais coisas para ensiná-la, e ele realmente ensinou, muito tempo antes daquela noite e durante também. Mas hoje ela suspeitava que era também porque ele era o chefe supremo da Coligação. Amara não sabia ainda, mas era mais do que apenas isso. A noite não foi ruim. Foi intensa, poderosa. Mas o olhar de desejo dele sempre lhe causara uma sensação ruim, um mau presságio.

- Tirem ela daí e a levem de volta. Com cuidado pra não perdermos nossa arma mais poderosa contra aquela família patética. – Zedd disse sem tirar os olhos de cima dela. Quando ela ia passando por ele, Zedd a segurou com tanta força pelo braço que a marca da mão dele com certeza ficaria ali. – É melhor você não pensar em pisar na bola de novo, querida. Se comporte e eu posso repensar sobre seu final.

Ele a soltou com aquele sorriso tão doce e gentil, tão genuíno, que poucos duvidariam dele, mesmo naquela situação bizarra.

~o~

A melhora de Dreyfus em poucas semanas era quase assustadora. Toda vez que Rania dormia ele a encontrava em seus sonhos e Circe avaliou o príncipe leonino detectando o poder da magia onírica nele. O que era bem esquisito porque ninguém na família real leonina ou na de Devon tinha esse dom e Dreyfus também nunca o tivera. Circe suspeitava que aquilo fosse algum tipo de efeito colateral da morte e renascimento dele. Apenas Line, Circe, Rania, Devon, Caria e Rodan sabiam daquele poder. Em sonho, Drey insistiu tanto pra que Kursk e Rádara nunca soubessem daquilo, que ninguém quis desrespeitar o desejo dele, apesar da estranheza nesse pedido.