Recuperações não tão recuperadas

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Carya e Rodan convocaram Amara assim que voltaram da viagem às Montanhas Amarelas. Daro e Circe, como os co-responsáveis pela entrada da jovem no palácio, pediram para participar da reunião, preocupados com ela. Pelo menos, um deles estava mesmo preocupado. Daro não teve tempo de ver Amara antes da convocação, então tudo que pôde fazer foi se meter na reunião e ficar de olho na jovem. Mas a jovem já esperava por isso e Devon a avisou antecipadamente de que Carya provavelmente a chamaria assim que chegasse para uma conversa. A única surpresa desagradável foi a presença de Daro na sala, ao lado de Circe, em pé próximos às poltronas do casal real. Amara entrou, fez uma reverência ao rei e à rainha, e outra mais suave aos outros dois Tiger na sala. Ela recusou a oferta de se sentar na cadeira à frente da rainha e ficou de pé, no tapete oval cor de vinho, com os braços para trás e a cabeça levemente mais baixa, aguardando educadamente.

- Amara... – Carya começou calma, mas, havia um tom levemente irritado, mal contido na voz. – Primeiro de tudo quero que saiba que não está sob julgamento ou nada do tipo. Quero apenas conversar, entender o que está acontecendo e, acima de tudo, porque você mentiu. – Carya deu uma pausa, analisando o semblante e a postura da menina, esperando por qualquer sinal de contestação da jovem. Amara não deu nenhum sinal de que iria negar ou que não concordava com algo. A rainha suspirou e continuou: - Muito bem. Eu não quero ter que usar o encanto da verdade em você e você salvou a vida do meu filho, então vou lhe dar o benefício da dúvida. Vou perguntar e você vai me dizer a verdade. Estamos entendidas?

- Sim, majestade.

- Ótimo. Pra começar, - Carya decidiu testar a menina com o óbvio – você tem algum tipo de poder mágico?

- Sim. – Amara respondeu sem titubear.

- Qual?

- Chamam de magia de atração.

- Você sempre soube disso?

- Sim. Desde os cinco anos. – Amara foi sincera, cada vez mais ciente do olhar de alerta que Daro lhe dava, apesar dela não olhar para ele ou Circe.

- Você foi treinada?

- Sim.

- Por quem?

- Algumas pessoas da região. Não eram magos, oficialmente. Nunca passaram nos testes, alguns nunca nem foram treinados, mas tinham um certo conhecimento prático e me ensinaram. O resto fui aprendendo com a prática... – Amara disse. Não era totalmente mentira, de qualquer forma.

- Sabe que vou querer os nomes, certo? – Carya disse.

- Posso escrevê-los, mas não creio que será de muita utilidade. A maioria já faleceu. Eram muito idosos.

- Entendo. – Carya disse, mas um alerta soou em sua mente. – Porque você mentiu?

- Não menti. Omiti.

- Porque?

- As pessoas têm um certo receio com magos atrativos, acham que essa magia serve apenas para enfeitiçar e seduzir as pessoas sem lhes dar qualquer chance de defesa... Confesso que eu mesma me preocupo muito com isso... Mas não é só pra isso que serve e não deve ser usada pra suprimir o livre arbítrio de ninguém. – Amara respondeu, evitando olhar pra Rodan. – Tive medo que me rejeitassem aqui por causa disso...

- Entendo. Circe, Daro e Rodan. Saiam. – Carya disse, sem desviar os olhos de Amara que estava cabisbaixa.

- Mas eu gostari... – Daro começou, com ares de preocupação pela jovem.

Carya lhe deu um olhar fuzilante. – Mandei. Sair.

Rodan que já estava se levantando, deu um beijo na testa da esposa e saiu seguido por Circe e um Daro relutante. Amara se conteve pra não dar um suspiro de alívio, sabendo que Carya avaliava cada movimento dela. A rainha respirou fundo, visivelmente se controlando, levantou e Amara estremeceu. Mesmo sem dizer nada, sem esboçar nenhum sinal de ataque, Carya agora parecia bastante assustadora. A jovem aguardou educadamente que a rainha falasse, mas, por dentro ela tremia sem saber o que a aguardava. Por um instante, o medo que ela sentiu quase a fez preferir a fúria sádica de Daro. Ele parecia bem menos assustador do que a rainha agora.

Likastía IIOnde histórias criam vida. Descubra agora