Likastía II

Perdão, surpresas e paz

- Tôzinho, o que é esse cristal que o papai falou? – Juliette perguntou, sentada desenhando.

- É uma história longa, Juli. – Heitor disse, parado ao lado, tentando advinhar quem eram naqueles traços horríveis que a menina tentava desenhar.

- Eu gosto quando você conta historinhas. Conta, Tôzinho. Por favoooooo. – Juliette olhou pra ele com olhinhos fofos.

Heitor nunca resistia à nenhum apelo da menina. Rania e Drey sempre diziam, e ele sabia que era verdade, que ele iria estragar a menina de tanto mimá-la.

- Bom, você lembra que eu falei que nem sempre os felinos foram seres superiores? – Heitor começou e Juliette largou o desenho e se sentou no colo dele.

- Humrum. Você falou que a gente era igual os bichinhos e que corria com as quatro patinhas no chão.

- Isso mesmo. Bem, acontece que os Tiger foram os primeiros a evoluírem e eles começaram a ensinar os outros felinos a evoluir também. Mas era uma coisa demorada de se fazer porque cada espécie de felino levava um tempo diferente pra aprender a andar sobre os pés, contar, pensar, falar...

- Aí os Tiger aprenderam a usar a natureza e tirar energia dela. E, porque eles tinham evoluído e sido gentis com os outros felinos, Kallisti ficou orgulhosa deles e deu a magia das chamas de Éris pros Tiger.– Juliette comentou.

Heitor olhou todo orgulhoso. – Isso. Menina esperta.

- Hihi.

- Então os Tiger tentaram usar a magia pra acelerar essa evolução nos seus irmãos, os felinos de outras espécies. E deu certo. Em poucas gerações, todos os felinos tinham evoluído. Então os felinos decidiram que precisavam organizar, tornar nosso mundo melhor, com alguém que comandasse, organizasse tudo. Mas alguns Tiger começaram a brigar pelo poder e outros felinos tentaram fazer coisas ruins com familiares de Tiger que tinham chance de ser o líder, pra dominar tudo quando eles estivessem no comando.

- Mas e a magia de Éris? Não é isso que define quem governa?

- Menina você está ficando muito esperta. – Heitor fingiu surpresa. – Não. Antes a magia das chamas de Éris eram comuns nos magos Tiger e não era tão poderosa em uma só pessoa. Era como se fosse dividida, entende?

- Acho que sim.

- Então, muitos desses magos eram forçados à ajudar os que queriam subir no poder, outros eram mortos. Houve um período chamado "História Fria" onde não existiam magos com chamas de Éris. Todos tinham morrido.

- Nooooossa! – Juli colocou as mãozinhas na boca.

- Triste ne. Nessa época, o inferno foi muuuito rigoroso e demorado. Os oceanos e desertos congelaram. O mundo inteiro congelou. O sol pareceu esfriar. Plantações morreram. Flores não nasciam. E isso durou por 200 anos. Muita gente morria de frio e fome. – Heitor suspirou. – Então, um belo dia, algumas sacerdotisas se reuniram no vale e criaram um templo gigante pra Kallisti e fizeram danças tão lindas que emocionaram a deusa. Como recompensa ela perguntou o que as sacerdotias queriam e elas pediram que o sol voltasse a brilhar e o mundo não fosse todo congelado. Kallisti disse que faria isso, mas deixaria um emissário, um guardião das chamas de Éris no mundo para guiar e governar o povo. Esse poder seria apenas dele e passaria para um herdeiro escolhido pela deusa, ou um nomeado pelo próprio guardião. O poder devia ser canalizado em um objeto para ajudar o guardião a controla-lo.

- Por isso o rei Stefan tinha um anel mágico e a vovó Carya tem aquele brinco?

- Isso mesmo. É só um jeito de facilitar o controle deles e, quando eles morrem sem escolher um herdeiro, é um jeito de passar o poder para outro guardião.