Acendendo uma chama perigosa

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- Rania, isso é uma má ideia. – Kursk disse.

Rania estava empilhando alguns banquinhos de madeira em frente à um armário pra escalar e roubar os doces que a cozinheira fizera para a reunião de seus pais com outros adultos, uma reunião expressamente proibida para os jovens.

- Kursk, papai, porque não para de ser chato e me ajuda aqui? – Rania disse com uma mão na cintura, o gesto tão habitual que herdara da mãe.

- Não vou ajudar você a fazer algo errado. – Kursk disse, não muito seguro. Ele sempre ajudava sem nem saber como a irmã adotiva o convencia. – Vamos, Rania. A mamãe disse pra gente não tocar nos doces. Você ainda está de castigo por ter faltado a aula de magia com a senhora Circe pra fazer bobagem.

- Eu não faltei pra 'fazer bobagem'! – Rania respondeu, fazendo beicinho e uma imitação ridícula do irmão. – Eu estava muito ocupada.

- Sim, ocupada dançando numa taverna que você nem deveria estar.

- E porque não? Não tinha nada demais lá. Só comida, bebida e dança!

- Rania, nem todo mundo é bom de coração. Não é uma boa ideia se enfiar num ambiente com pessoas bêbadas sem nenhuma proteção. Você não é uma guerreira...

- Nhem, nhem, nhem... Chaaaaaatooooo. – Rania disse com a voz mais manhosa. – Eu quero aqueles doces e vou buscar. Com ou sem sua ajuda. Mas, se eu cair, espero que você não se sinta muito culpado.

Kursk suspirou com uma mão na testa. – Desta vez não vai funcionar, Rania. Não vou te ajudar.

Rania deu de ombros. – Então ta bom. – Ela se virou e começou a escalar a pilha de cinco banquinhos empilhados.

Os bancos começaram a balançar conforme ela subia. Kursk repetiu pra si mesmo que não iria ajudar, não importava o que acontecesse. Dessa vez não. Sua firme resolução vacilou quando ela chegou ao topo da pilha e pegou a caixa de madeira com os doces. A pilha oscilou perigosamente, mas não caiu. Rania, se sentindo vitoriosa, segurou firmemente a caixa em seu peito e ergueu o outro braço num gesto vitorioso.

- Hihihi! Eu consegu.... – A pilha balançou e Kursk abandonou de vez sua resolução.

Os bancos caíram e, por meio segundo, ele conseguiu pegar Rania no colo, antes que ela caísse no chão. Ele se virou de modo que seu corpo atingisse o chão, com o dela protegido acima dele. Com seu treinamento militar intenso ele soube como cair sem se ferir gravemente, apenas mordendo a língua a ponto de sair sangue.

- Sua maluca! Nem seu poder de cura poderia te salvar de um ferimento desses, sua insana! – Kursk estava mesmo irritado. Pensar em sua irmã e amiga se ferindo era mais do que ele podia suportar. Ele odiava que qualquer um se machucasse, mas sua irmãzinha principalmente.

- Hihihihihi! – Rania ria como uma criança, embora já fosse uma adulta para os padrões Tiger.

- Acha engraçado? E se você morresse com essa queda, Rania? Tudo por causa desses doces estúp... – Kursk se calou quando Rania pegou um doce e enfiou na boca dele, ambos ainda no chão deitados.

- Ah, Kursk, não seja chato! Às vezes você parece meu pai, caramba! – Rania se levantou e colocou um doce na boca. Ela quase engasgou. O doce era recheado com um creme à base de vodka lilás, uma das bebidas alcóolicas mais potentes de Likastía.

- Se a mãe souber que você comeu isso ela vai te matar. – Kursk disse engolindo o doce. – Sabe que ela não quer que você tenha contato com álcool.

- Kursk, o chato, ataca novamente. – Rania disse, meio sorridente demais, já um pouco afetada pela vodka.

- Me dê isso. – Kursk disse quando ouviu passos se aproximando da cozinha. Rania pegou mais dois doces e fez menção de comer. – Não se atreva, Rania Tiger...

Likastía IIOnde histórias criam vida. Descubra agora