Inseparáveis

6 2 0
                                    

- Você não devia estar preocupado. – Kursk disse, arrumando os pêlos do longo bigode em frente ao espelho.

- Você está sendo excessivamente confiante, pequeno Kursk. – Leviatã disse, sua forma sombria sentado atrás do rapaz na cama, visto pelo reflexo do espelho. – Isso nunca é sábio.

- Ele nunca descobriu a gente antes, Levi. Não vai descobrir agora.

- Você lembra do que eu lhe disse naquele dia? – Levi perguntou.

Kursk podia se lembrar de cada segundo daquele dia a anos como se fosse hoje.

10 anos antes...

Em uma manhã quente de verão, Kursk estava passeando pela cidade com Rania e dois guardas que sempre os acompanhavam. Ele não gostava, mas aceitava como um garoto extremamente responsável e consciente do perigo que sofriam em meio às rebeliões. Mas Rania odiava e, como a menina voluntariosa e sapeca que era, vivia fugindo da guarda e Kursk, temendo pela segurança dela, a seguia. Naquele dia não foi diferente. Rania saiu correndo dos guardas, puxando Kursk pela mão, pela cidade. Em algum momento, devido à multidão de pessoas na cidade trabalhando e passeando, suas mãos se separaram. Foi uma fração de segundos, mas não houve tempo para pensar muito ou esperar os guardas que vinham correndo atrás deles. Mãos fortes e calejadas seguraram Kursk por trás no pescoço e braços e o arrastaram rapidamente para uma casa humilde. A porta foi aberta antes mesmo que eles chegassem perto e mais pessoas o aguardavam lá dentro. Kursk viu o rosto do Tiger, um homem de meia idade com um semblante rígido que o lembrou de Rodan. O Tiger se aproximou e desferiu um soco no rosto assustado do garoto. Kursk desmaiou imediatamente. Era noite quando Kursk abriu os olhos. Seu corpo todo doía, havia sangue coagulado em sua testa e sua boca tinha um gosto amargo.

- O filho daquele monstro acordou. Devo dar mais? – Um Tiger pouco mais jovem, com marcas de chicotadas nos braços, perguntou.

- Não. Já é o suficiente. Nós não tivemos o bênção da inconsciência quando o avô dele nos castigava sem motivos. Ele também não terá. – O Tiger que dera o soco em Kursk, aparentemente o líder, disse o olhando como se ele fosse um monstro como seu pai biológico e seu avô.

Eu não fiz... Kursk tentou dizer, mas percebeu que estava sem voz.

- Não tente falar, monstrinho. Não permitirei que use a lábia do seu povo pra nos corromper. Eu lembro muito bem como seu pai tinha uma boa lábia, capaz de culpar qualquer um por seus crimes...Assim como aquele demônio que ele namorava. – O veneno na voz do líder era notório. – Mandei lhe dar uma mistura que minha mãe fazia pra dormir. Como você tomou muito nos últimos dias pra não acordar, suas cordas vocais devem ficar adormecidas por alguns minutos. Claro que você não terá tempo para se recuperar disso.

Dias? Kursk pensou assustado. Por quanto tempo estou com esses senhores? Rania! Onde ela está?

- Você conhece este lugar? – O líder perguntou, como se Kursk pudesse responder.

Kursk não reconhecia, mas tinha certeza que deveria, de alguma forma.

- Aquele velho monstro morreu aqui. O corpo nojento dele foi encontrado naquele lamaçal que um dia foi um bonito riacho. – O líder apontou. – Seu pai imundo, aquele animal traiçoeiro, também se matou por aqui.

Claro! A mamãe disse mais ou menos como era o lugar onde o papai achou o corpo do senhor Leviatã. Pelo menos ele se foi em um lugar bonito. Kursk pensou e olhou confuso pro líder do grupo. Grande Kallisti, o que esse senhor maluco pretende? Ele...ele quer me matar aqui?

Likastía IIOnde histórias criam vida. Descubra agora