Dança das sensações

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- Quando vai visitar sua irmã, Seth? – Rádara perguntou, virando um copo de vinho.

- Não é um pouco cedo demais para beber, Rád? – Seth perguntou, afinal não era nem o meio da manhã e a amiga já estava terminando uma garrafa de vinho sozinha.

- Não enche, Seth. Responda a pergunta.

- Sabe que não gosto de ir no palácio Tiger, Rád. – Seth respondeu se mexendo um pouco no sofá. Desde a coroação de Carya ele nunca voltara ao palácio. As lembranças de Nyela e seu filho o atormentavam todas as noites e visitar o local onde tudo acontecera era demais pra ele. Ele nunca mais tivera nenhuma namorada ou amante e nem pretendia, embora Devon e Lordok fizessem um ótimo trabalho em tentar empurrá-lo pra várias moças que, de acordo com eles, eram perfeitas para ele. Nunca seriam. Nenhuma delas era Nyela.

- Você devia ir. Sabe o quanto Carya te ama. – Rádara disse.

- Sei, claro. Mas podemos nos ver em outros lugares quando ela tem tempo e eu também. Você deveria ir. Convites nunca te faltaram.

- Prefiro a morte! – Rádara explodiu. Sua vida agora se resumia à essas mudanças súbitas de humor. – Olhar na cara daquele....verme...do lado da minha...

- Pare. – Seth disse com firmeza. – Já se passaram mais de 15 anos, Rád. Já é hora de você superar isso. Seu amor pela minha irmã deixou de ser amor a muito tempo.

- Não preciso dessa conversa idiota de novo, Seth.

- Sim, precisa. Você tem um marido que te ama, embora você faça até o impossível pra ele te odiar. Um filho que te idolatra e, com um pouco de sabedoria, pode se tornar um grande rei. O que te falta pra ver o quanto sua vida é boa, Rád?

- Carya. É isso que me falta, caramba! – Rádara virou a garrafa no copo, deixando as últimas gotas do vinho caírem.

- Ai, Rád... Eu te adoro, você é como uma segunda irmã pra mim e sei que Carya também a vê assim. Mas, enquanto você não sair dessa loucura, você só vai afastar quem te ama. De qualquer forma, você não é uma criança. No fundo sabe que tenho razão. Se você quer viver nesse tormento, longe da sua amiga, brigando com todos que amam você, não posso te impedir. – Seth se levantou. – Vou ver Carya em alguns dias. O que você quer?

- Quero que ela largue aquele bosta de marido falso dela. Mas,... – Ela acrescentou vendo o olhar feio de Seth - ...como isso não vai acontecer por enquanto, preciso que ela receba meu mensageiro pra analisar nosso projeto da escola de dança para aquela gente sem nobreza que ela insiste em proteger.

- Pobres. São pessoas pobres, Rádara. Não 'aquela gentinha'. – Seth disse num dos raros momentos em que sua paciência ameaçava sumir. – Porque você não mandou o mensageiro junto com o rei, Devon e Dreyfus?

- Meu filho não tem idade e não precisa trabalhar nessas questões oficiais ainda. Ele é jovem e está na idade de se divertir. – Rádara disse. – Quanto àqueles dois... Sabe que não gosto de me envolver com eles.

- Tenho pena do povo das Montanhas Amarelas quando você for rainha se você não tiver amadurecido, Rád. – Seth disse. Era o único que ainda conseguia dizer umas verdades na cara dela sem desencadear uma discussão feia. – Prepare-o. Vou acompanhar seu mensageiro e garantir que ele seja recebido facilmente. A causa vale o esforço.

Seth saiu sem falar mais nada. Mesmo ele tinha seu limite pra aturar a instável Rádara. Mas, esse projeto era novidade. Obviamente era uma tentativa dela pra se aproximar de Carya. Mas a rainha Tiger não recebia ninguém enviado por Rádara, a menos que um de seus amigos pedisse. De qualquer forma, um projeto de uma escola para a população mais carente era algo que ele não poderia e não iria ignorar. Os motivos de Rádara podiam ser errados, mas o resultado poderia ser extremamente benéfico para o povo.

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