Prólogo

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Eu estava completamente consumida pela raiva. COMPLETAMENTE!

Apertei mais forte o papel entre meu punho cerrado enquanto castigava o botão do elevador, a alça da minha bolsa deslizou pelos meus ombros balançando na extensão dos meus braços e batendo contra a minha perna, a puxo novamente para seu lugar inspirando fortemente.

A pessoa que inventou o papo de que músicas de elevadores deveriam ser calmas para tornar o ambiente relaxante, nunca esteve em um com o sentimento de ódio se alastrando pelas veias e tendo ainda que dividir o espaço com um fumante, não ele não estava fumando agora, mas o seu cheiro esta impregnando o pequeno ambiente, o que não ajuda no meu estado atual de fúria.

Observei os andares passarem batendo meus pés contra o chão, o cara ao meu lado está gargalhando com alguém ao celular e isso me consome um pouco mais, eu não o conheço e também não é ele a fonte do meu ódio.

Ele gargalha um pouco mais alto e eu aperto mais o papel soltando meu ar, o 21° andar pisca em letras vermelhas na tela de LED e as portas se abrem para mim finalmente, o cara bem vestido da um passo em direção a porta aberta, mas eu me adianto passando por ele. Meus pés ecoam pelo chão liso e a garota atrás de uma mesa muito bem organizada se levanta antes que eu a alcance.

O olhar dela me varre de cima a baixo assim como o de todas as pessoas que viram suas cabeças enquanto eu atravesso a pequena recepção. Não se engane, eles estão me julgando.

Minhas roupas não se enquadram no ambiente ridiculamente luxuoso, tem um Monet na parede atrás da recepcionista e ela ensaia um sorriso para mim.

— Bom dia! — Me diz arrumando seus óculos. — Em que posso ajudá-la?
Ela se esforça bastante para me olhar nos olhos, mas não consegue evitar estudar minhas roupas. Não a julgo meu moletom desgastado e largo não passa uma impressão séria.

Limpo minha garganta chamando a atenção dela novamente para meu rosto.

— Serkan Bolat.

— A senhorita tem hora marcada?
Ela agarra o tablet deslizando seus dedo pela tela quando eu balanço minha cabeça negando.

— Desculpe, mas o senhor Bolat não atende ninguém sem hora marcada.

Eu não esperava que fosse fácil, mas também não espero que ela ache que isso será o bastante.

— Tenho algo sério para tratar com ele...

— Gostaria de marcar um horário? — Ela volta a analisar a tela. — Ele poderá atendê-la... Em três semanas.

Eu rio amarga, a garota sorri fraco e arruma mais uma vez os óculos.

— Três semanas? — Repito sinalizando com os dedos, minha cabeça se move e ela acompanha o movimento. O sangue volta a ferver.

— Eu não tenho três semanas...

— Bom, o senhor Bolat é muito ocupado.

—Ah, não me diga! Acha que eu não tenho mais o que fazer? Acha que estou aqui porque quero?

Tem um sorriso nervoso no rosto dela agora. — Talvez eu possa fazer um encaixe.

— Escuta! — A corto. — Ele está aqui?

— Não está! — A voz dela treme um pouco, ela não deve saber que mente tão mal.

A luz do comunicador na mesa dela pisca, e ela não pensa duas vezes antes de pressionar o botão.

— Leyla! — A voz grave a faz tremer ainda mais, a mulher poderia estar suando agora mesmo. Pega na mentira. — O que está acontecendo? Eu pedi os relatórios há mais de trinta minutos.

— Estão a caminho senhor... — Soltando o botão ela se vira para mim. — Desculpe, mas se  a senhorita não se importa.

— Me disse que ele não estava.

— O senhor Bolat é muito ocupado e não vai atendê-la sem hora marcada. Ele não tem tempo.

Cerro meus punhos mais uma vez estudando a porta de madeira atrás dela.
Esclarecendo algo, eu não sou uma pessoa nervosa, não sou agressiva e tão pouco mal educada, meus príncipios não me permitem tratar alguém mal e eu realmente não faria o que estou prestes a fazer em meu estado normal.

Mas no meu estado atual...

— Não se preocupe... Eu não pretendo tomar tanto do tempo dele.

Antes que ela perceba eu já cruzei o espaço que separa a mesa dela da porta de acesso da sala dele e a empurro com toda a força que o ódio alimentou na última hora.

O homem muito bem acomodado atrás de uma mesa longa de tampo escuro ergue seu olhar para mim, arrumando sua postura junto a cadeira ele deixa seus ombros encontrarem o encosto cruzando suas mãos sobre a peça.

— Perdão senhor, eu disse que ela não poderia entrar… — A voz da garota está um pouco desesperada ao meu lado.

Ele estende uma mão para ela e sem dizer uma palavra ela se vira deixando a sala.

— Estava me perguntando quando iríamos nos encontrar novamente.— O tom sarcástico dele arranha o que me resta de auto controle.

Meus passos fortes contra o piso fazem barulho na sala espaçosa atiro o papel amassado sobre ele, que cerra seus olhos verdes e frios em mim.

— O que significa isso?
Com uma paciência irritante ele desdobra a folha amassada e analisa com um sorriso no canto da boca.

— Trabalharam rápido… — Suspira afastando cadeira para se levantar. — A senhorita parece surpresa, eu avisei...Vai pagar o que me deve.

— Acho que foi longe demais, eu já disse que não sei do que está falando. Está me acusando e nem mesmo é capaz de expor o porquê.

Dando a volta na mesa ele se apoia na borda me encarando.

— Não seja cínica, nós dois sabemos que essa falsa ingenuidade não combina com você.

— Cínica? Está despejando pessoas apenas para alimentar seu ego. — Caminho para ele, meu sangue ferve ainda mais.

— Eu apenas comprei um imóvel.

— Não estava à venda... — Ele da de ombros estudando seus sapatos.

— Bom, todo mundo tem um preço... Você melhor do que ninguém sabe disso.

— QUANTAS VEZES EU TEREI QUE REPETIR? EU NÃO CONHEÇO VOCÊ!— Meu tom de voz agora é alto e desesperado enquanto fito o rosto totalmente imparcial dele.

Se afasta da mesa caminhando em minha direção, sua expressão é dura e seus olhos não transparecem qualquer emoção. Seu terno escuro se alinha perfeitamente até mesmo quando caminha e, ele caminha como se possuísse o mundo aos seus pés, o que não parece tão distante da verdade.

— E eu já disse que não acredito em você.

Volto a cerrar meus punhos, puxando o ar que agora parece faltar ao redor, elimino a distância entre nós, consigo sentir a raiva fluir pelos meus poros, me coloco frente a ele olhando dentro do par de olhos absurdamente frios que ele carrega.

— Uma ordem de despejo não vai me fazer assumir algo que eu não fiz. — Falo entre dentes em um tom tão cortante que sinto minha garganta arranhar. — Isso não vai ficar assim.

Lhe aponto um dedo pronta para me virar, mas a mão dele se fecha ao redor do meu braço, a pele queima. É o ódio que está corroendo.

— Está me ameaçando? — Me puxa deixando nossos rostos alinhados. — Sabe o que tem que fazer. Me devolva o que roubou e você e sua família podem ficar no imóvel.

— Eu já disse que não sei do que está falando.

— Ótimo! — Seus olhos passeiam pelo meu rosto. — Sendo assim... Lide com as consequências.


Agora devem estar se perguntando:

Como esses dois chegaram aqui?

Bom, para que eu possa responder essa pergunta, vamos precisar voltar um pouco no tempo.

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