ྉ20ྉ

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ྉEda


Mais essa agora, não bastava uma criança perdida teria que lidar também com a aparição da minha irmã.

Justo agora?

Justo quando eu dou um passo sem pensar em ninguém além de mim, justo quando me sinto feliz. Não parece certo, mesmo sabendo que esse momento chegaria, eu não achei que abriria a porta de casa e daria de cara com ela.

Os braços de Serkan deixaram meu corpo, senti sua falta imediatamente, a expressão em seu rosto tornou-se inescrutável, ele estava se tornando distante e o meu medo era que essa distância preenchendo seus olhos agora o levasse para longe de mim. Seu rosto duro me trouxe lembranças da primeira vez que o vi, ele tinha essa mesma expressão quando me confundiu com minha irmã.

Serkan respirou fundo com o maxilar apertado eu conseguia ouvir o ranger dos seus dentes, ao contrário dele minha respiração estava presa e eu não conseguia deixa-la sair. Senti seu calor ao redor da minha pele quando sua mão cobriu a minha, ele entrelaçou nossos dedos como um lembrete para que eu respirasse, prendeu seus olhos nos meus e os manteve ali por um longo tempo conversando silenciosamente antes de desviar seu olhar para a minha irmã.

Aylin era bastante peculiar, ela inalou o aroma do líquido quente em sua xícara, a fumaça desenhava ondas verticais no ar.

— O gato comeu sua língua irmãzinha? — Aylin experimentou um pouco do líquido fazendo uma careta e quando não respondi ela caminhou em minha direção, eu não a tinha visto muito desde que ela saíra de casa aos dezoito anos, uma das suas principais características era não olhar para trás ela não gostava de passado, minha irmã não se ligava a praticamente nada, mas ainda assim ela me pareceu tão diferente do nosso último encontro.

Tão mais fria.

Seu cabelo estava mais escuro o que a deixava mais pálida e seus olhos — castanhos como os meus — brilhavam com recriminação, o que não afastava seus esforços em entender o que estava a sua frente. Senti uma nevasca se aproximar quando ela parou a alguns passos nos analisando. — Acho que seria mais apropriado um tubarão já que vieram das Maldivas. Me digam, se divertiram?

Foi minha vez de respirar fundo, minha irmã manteve um sorriso preguiçoso no rosto que não chegava a alcançar as bochechas, conhecia bem esse sorriso, geralmente usado quando ela se sentia contrariada.

Mudei o peso de uma perna para outra e apertei a mão de Serkan com um pouco mais de força, apenas para ter certeza de que ele ainda estava ali, esse silêncio desconfortável estava me deixando inquieta.

Começando a bater meus pés contra o tapete eu desejei muito que meus fones estivessem ao meu alcance, barulho, eu precisava de barulho.

— É claro que se divertiram, os dois são jovens e apaixonados. — Melo felizmente se pronunciou me dando tempo para me recuperar do impacto. — é só olhar para eles... — Melo correu seus olhos entre nós ralhando entredentes. — Ripensandoci è meglio non guardare troppo forte.

(*Pensando bem é melhor não olhar muito*)

Aylin revirou seus olhos para cada palavra murmurada por minha prima. — Ah, pelo amor de Deus pare de resmungar Melek, sabe que detesto quando começam a tagarelar em italiano, não estamos na Itália... — Melo abriu a boca para se defender, mas teve um dos dedos da minha irmã pressionado contra seus lábios. — Shhhhh, está ouvindo? É o som do silêncio por que não aproveita ele e leva minha xícara para a cozinha?

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