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» Seattle - 16 anos atrás «

— Quando ele vai sair daí afinal? — Aylin perguntou para a minha mãe enquanto balançávamos na rede, ela de um lado e eu do outro.

— Quando ele estiver pronto. — Nos respondeu com sua paciência de sempre. Minha irmã me olhou por sobre a barriga enorme e redonda e revirou os olhos. Ela detestava respostas vazias.

— E quando vai ser isso? — Ela tornou a questionar.

Minha mãe suspirou achando graça. Para ela, Aylin estava ansiosa para ver o rosto do mais novo membro da família, mas eu sabia que ela estava mesmo era irritada.

Mamãe não tinha mais tanta energia para correr com a gente, não conseguia ficar sentada ao piano por horas com ela e nem mesmo de pé em um canto de uma sala me vendo dançar. Ela estava irritada porque nosso irmão mais novo estava roubando o tempo dela conosco.

Eu não sabia se estava irritada, como ela, papai tentava compensar as horas que mamãe passava dormindo — que eram muitas — nos levando com ele para o restaurante depois da escola e eu amava estar lá com ele atrás de uma bancada nas pontas dos pés enquanto ele abria a massa.

Mas Aylin, bom Aylin se sentia entediada longe das teclas do piano então ela aprontava com todo mundo, trocava os conteúdos dos saleiros, colocava açúcar nos molhos e deixava a porta do forno entreaberta para que os pães não crescessem.

Ela achava que assim papai desistiria de arrasta-la para lá, mas todos os dias depois que ele nos buscava no colégio íamos para o "La luna".

— Quando ele estiver pronto. — Minha mãe tocou a ponta de seu nariz e ela suspirou. Ela tinha um jeito único de lidar com a gente.

Cada vez que a rede balançava um frio corria a minha barriga, era a mesma sensação de quando descíamos um lugar alto no banco de trás do carro. Chamava adrenalina.

Eu senti isso na minha primeira aula de balé com a senhorita Nasli também. Quando descobri no que eu era boa.

— Como ele foi parar aí? — Perguntei apertando meus olhos na minha mãe, fazia um tempo que estava curiosa sobre isso. Um dia meus pais nos sentaram em uma das mesas do restaurante e enquanto tia Ayfer nos trazia taças grandes de sundae de morango — a minha fruta favorita — eles nos disseram "vocês serão irmãs mais velhas, nossa família vai crescer. Sua mãe está grávida!". Lembro de ter parado de comer meu sundae de morango no mesmo instante. Mas mamãe e papai pareceram tão felizes, e todos à nossa volta pareceram tão felizes que eu decidi não me preocupar. Se todos estavam sorrindo era porque aquilo era algo bom. — Como ele fez para ir parar aí dentro?

Cutuquei a barriga dela com um dedo e ela riu.

— Foi assim, — minha irmã disse erguendo um pouco o corpo e minha mãe arregalou os olhos. — Eles se beijaram e aí Nuri foi morar na barriga dela. Não foi mãe?

— Mais ou menos... — Minha mãe respondeu, como assim mais ou menos? Eu estava curiosa. — O beijo foi apenas um passo, mas uma pessoa não engravida apenas beijando a outra, o beijo é uma troca de carinho entre duas pessoas que se gostam muito.

— Ahhh! — Aylin disse. — Então, como foi? — Ela perguntou com as sobrancelhas arqueadas.

— Bom, quando duas pessoas se gostam muito. — Eu parei para prestar atenção nela, mamãe me fazia prestar atenção em tudo que saía da boca dela. — Uma coisa acontece entre elas.

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