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ྉSerkanྉ

Tem café por toda minha camisa, café quente, café quente para um cara...

— Caramba! O que aconteceu aqui? — Ferit se deteve à soleira da porta entreaberta. — Um furacão acabou de passar por mim. Era bonita, mas as roupas não deixaram eu ver muito. — Me analisando ele atravessa a sala até o centro. — O que aconteceu com você?

O que aconteceu comigo? Eda Yildiz aconteceu comigo, pela segunda vez. Devo concordar com o termo que ele escolheu para descreve-la. Ela era um furacão. Do tipo que deixa uma grande bagunça por onde passa.

— Senhor Serkan. — Leyla empurra os óculos com a ponta do dedo, parecendo bem mais preocupada do que eu. — quer que eu vá buscar outra camisa? Ou mande Mark...

Estudo o relógio — um hábito recorrente — sei que não tenho tempo, tenho uma reunião em vinte minutos com alguns árabes e ela levaria no mínimo trinta para chegar a minha casa e mais trinta para voltar, isso se o trânsito ajudasse.

— Não há necessidade Leyla, preciso de você aqui.— essa era outra verdade, precisava de Leyla me assessorando durante a reunião. — Prepare a sala de reuniões, eu irei em seguida.

Leyla juntou as folhas que tinham sido derrubadas por ela mesma no chão as colocando na mesa e deixou a sala apressada. Ela fazia absolutamente tudo assim, ao menos quando eu estava por perto. Ferit ainda me olhava como se tentasse resolver um enigma quando voltei minha atenção para ele.

— O que aconteceu com você? — Se aproximou esticando o braço para  tocar o local com a mancha de café. — Foi a garota? O que você fez?

— Por que eu tenho que ter feito alguma coisa? Ela é louca. — as sobrancelhas grossas se uniram fazendo seu cenho se franzir. — Invadiu meu escritório, você viu o estado de Leyla? Estava perto de um derrame.

— Leyla parece estar sempre assustada. — Pontuou. — São os efeitos de trabalhar para você. Mas o que eu quero saber é o que fez para a garota invadir seu escritório e tentar te deformar com café quente.

Engraçado, achei que o ocorrido não tinha  passado de um ato de impulsividade, um meio de desviar a atenção para que ela escapasse e ganhasse um pouco mais de tempo. Mas analisando agora, sem a presença dela, Ferit poderia mesmo estar certo, aquilo poderia ter sido um ato premeditado, um atentado a minha vida. Não bastava ter me roubado, agora tentaria me matar também.

— E então? O que fez? Não me diga que prometeu ligar no dia seguinte...

— Você ao menos viu o rosto dela? — Encolheu os ombros.

— Bem rapidamente na verdade, ela estava quase correndo para o elevador...

— E não notou nada? — Negou se deixando cair na cadeira. — Era ela...

O rosto dele adquiriu uma expressão de descrença e eu observei seu queixo cair.

— Ela... Ela? — perguntou levando a mão ao queixo.

Apenas assenti confirmando para ele de maneira rápida, ele permaneceu em silêncio por um tempo antes de se levantar e começar a caminhar pela sala.

— Que estranho... — Disse quando eu já estava arrumando as cadeiras para deixar a sala. — A garota te roubou e teve coragem de vir até aqui para te confrontar? — ele coçou a cabeça e me encarou. — Faz sentido para você?

Não fazia sentido para mim, mas tão pouco me surpreendia. Ela estava apenas executando o papel de boa garota com o qual havia me enganado, mas algo eu tinha de admitir: tinha melhorado muito naquele jogo. Antes eu conseguia ver o  cinismo atrás de suas atitudes e sua ambição era notável, agora tudo que consegui enxergar nos olhos obstinados era indignação. Chegava a ser sincero.

Duas vezes você |✅|Onde histórias criam vida. Descubra agora