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ྉ Serkan

Pela primeira vez desde... bom, desde sempre eu não queria estar aqui.

Não queria estar onde estou agora, sentado atrás da minha mesa encarando a tela de um computador e eu não estaria aqui – poderia fazer isso de casa – a questão é que: ninguém parece saber o que fazer desde que voltei das Maldivas. As pessoas ao meu redor se tornaram repentinamente incompetentes desde que pisei em Seattle, a começar por Ferit.

Esse infeliz me ligou centenas de vezes e quando eu não o atendi, ele simplesmente se materializou na porta da minha casa as seis horas da manhã. Que porra de amigo aparece na sua porta as seis da manhã com as temperaturas tão baixas?

Ferit, esse infeliz aparece.

E agora estava sentado à minha frente bastante relaxado enquanto eu resolvia o problema.

— Dá para parar de assobiar? — O som decresceu enquanto ele arrumava a postura na cadeira.

— Tudo bem com a Ezgi? — Ele sondou, apenas assenti. Estava irritado com ele. — E entre Eda e você?

O fitei, queria que meus olhos lançassem lazeres na cara de pau dele. As coisas entre mim e Eda estariam muito melhores se ele aprendesse a solucionar os problemas aos quais eu o pago para resolver.

— Você parece um pouco irritado hoje, quero dizer além do normal.

— Jura? Por que será?

Ferit deu de ombros. — Eu não sei, mas pode ser por que agora você tem mais uma responsabilidade, quero dizer lidar com uma criança não deve ser nada fácil, mas eu estou aqui para ajudar se precisar de algo. É que você não é muito bom com crianças.

— De quantas crianças você já cuidou? — Perguntei interessado e cruzei os braços sobre a mesa.

Ferit fez uma conta mental e quando abriu a boca nada saiu... Isso nada porque ele não sabia o que falava. — Nunca cuidou de nenhuma, certo?

— Bom, não de verdade..., mas eu joguei alguns joguinhos e... — Ele riu entusiasmado, fechei um pouco mais a minha expressão.

— Está comparando a Ezgi a um joguinho de celular? — Ferit gargalhou.

— Não foi uma boa colocação eu acho... desculpe. Acho que preciso me atualizar quanto aos métodos de cuidados infantis se quero ser um bom tio. — Meu cenho franziu, Ferit me encarou de volta. — Vai adotar ela, né? Não é por isso que está fazendo tudo isso?

Me senti estranhamente desconfortável em minha cadeira de couro.

Eu queria ajudar Ezgi, mas adoção era algo bastante sério. Um tutor provisório era algo, se tornar pai de maneira tão repentina era outra coisa, uma coisa na qual eu não havia pensado.

Deixei que minhas costas se apoiassem no encosto da cadeira soltando um suspiro longo enquanto as palavras de Ferit zumbiam na minha cabeça. Eu sabia que não queria que Ezgi voltasse para a família negligente, sabia que eu não a queria em um abrigo, eu a queria por perto por mais que não a conhecesse tanto, queria lhe proporcionar um futuro melhor com melhores oportunidades, mas adoção implicava em oferecer bem mais que suprir suas necessidades básicas.

Estava pensando em cuidar dela até que uma família adequada lhe fosse arranjada, mas a realidade era que eu não havia pensado muito nas consequências dos meus atos para com ela. Eu vinha tomando decisões prematuras e impensadas uma atrás da outra e era óbvio que isso me alcançaria em algum momento.

Eu precisava de reflexão, pensar sobre uma vida em que seria responsável por outra. Eu não sabia se eu era uma pessoa adequada para algo tão importante quanto cuidar de uma criança que fora tão fragilizada pela vida.

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