ྉEdaྉ
“Um, dois, três… segura.”
“Um, dois, três… solta.”Cada vez que meus pés tocam o chão eu sinto o impacto percorrer meu corpo, é como uma pequena onda que começa grande nas solas e some conforme alcança a parte superior até alcançar minhas mãos tornando a sensação imperceptível. É diferente no caso das ondas do mar eu acho, o mar recua reunindo suas gotas e quando alcança a praia quebra com toda força.
Algumas pessoas são como as ondas do mar, recuam diante de situações confusas e complicadas buscando meios de chegar a praia com força suficiente para causar um estrago. Outras são como as ondas invisíveis que percorrem nosso corpo durante uma corrida, iniciam com um impacto e perdem força ao longo do caminho, precipitadas.
Eu ainda não decidi qual onda serei. No entanto, já estou atrasada quanto a isso. Eu recuei, mas para ser honesta queria mesmo quebrar aquele homem, entretanto, me faltam os meios.
Eu não o conheço.
E ainda assim sua ameaça mal me deixa dormir. É por isso que estou correndo em plena madrugada com o volume da música estourando nos fones de ouvido, o caos me ajuda a pensar, crescer em uma família grande como a minha deixa algumas marcas, enquanto crescia todos os cantos da casa eram povoados e barulhentos, eu me adaptei.
Os últimos dias foram uma avalanche de problemas se juntando em pequenas bolas de neve. Primeiro aquele estranho invade o restaurante me acusando de ladra e me dando um intimato, depois o aviso do banco, o segundo na verdade, informando sobre o atraso nas parcelas da hipoteca. Como se não soubéssemos.
As parcelas atrasadas não significavam muito no momento, o imóvel já pertence ao banco desde o ano passado, a questão agora é um pouco mais séria porque como não estamos efetuando os pagamentos, o imóvel pode ser adquirido por qualquer pessoa disposta a cobrir as dividas. Mas ninguém em sã consciência faz isso. Né?
Quando retorno, a casa está mergulhada no silêncio, o único momento do dia em que esse fenômeno acontece é quando todos estão dormindo, o que não vai durar muito já que o sol está começando a mostrar seus primeiros raios. O que me soma mais uma noite sem dormir, duzentas e dezesseis horas para ser quase exata, o prazo do senhor esquisitão terminou há dois dias atrás, nada me aconteceu, mas isso não me deixa mais tranquila.
Me esgueirei para dentro de casa removendo meus fones em silêncio. No entanto, mal cruzo a soleira da porta da cozinha e uma luz se acende quase me matando de susto.
— Chegando? — Me viro para encarar minha prima enrolada em seu robe cor-de-rosa e pantufas vermelhas gritantes.
— Che diavolo Melo, Mi ha spaventato!
(*Que droga, me assustou!*)Ela ri baixinho parecendo satisfeita por ter me dado um grande susto e dá uma colherada no cereal em suas mãos, são quase seis da manhã, o que ela estava fazendo acordada?
— Por que está entrando de mansinho? — Sigo para as escadas me sentando nos degraus e puxo o fôlego que ela acaba de retirar dos meus pulmões. — Não me diga que está voltando de um encontro?
Relanço meus olhos para ela, que tipo de pessoa vai a um encontro usando legging e uma camisa surrada dos Beatles?
— Eu estava correndo Melo.
— De propósito? — apoio meu rosto nas mãos enquanto ela me empurra buscando espaço ao meu lado. — Você é estranha.
— É. Eu sei... — Eu consigo ouvir a mastigação dela, os dentes quebrando os cereais “Cronc Cronc”, as pernas começaram a balançar contra a minha.
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Duas vezes você |✅|
FanfictionEscândalo: 1. fato ou acontecimento que contraria e ofende sentimentos, crenças ou convenções morais, sociais ou religiosas estabelecidas. 2. indignação, perplexidade ou sentimento de revolta provocados por ato que viola convenções morais e regras...