Carlos de Matos Bragança - Apresentação

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Carlos é o terceiro dos quatro filhos dos Bragança. O mais amoroso, o mais sensível, e também o mais reservado. Mas ele tem seus motivos...

A Baronesa, Francisca de Matos Bragança, ou melhor dizendo, sua mãe, sempre foi muito religiosa. Uma boa católica.

Ave Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco,

— Mãe... eu quero te contar uma coisa. — Carlos se sentou de frente para a Sra. Francisca, e segurou as mãos dela — Decidi o que fazer. Vou para a França. — Mostrou uma carta e fez com que ela pegasse — Fui aceito na faculdade de Medicina da Universidade de Paris. — Observou a preocupação dela e sabia exatamente o que a Baronesa pensava — Não se preocupe. Eu venho visitá-la. — E sorriu — Paris é uma cidade mais avançada. A mente das pessoas, eu quis dizer. A mente delas é mais avançada. Sei que queria que eu ficasse aqui ou com meus irmãos na Inglaterra, mas eu vou ser mais feliz por lá, Mãe. Eu sei que vou.

Bendita sois vós entre as mulheres, e bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus.

Na França, Carlos se apaixonou por um rapaz do seu curso e começou um relacionamento com ele quase às escondidas. Existia um grupo com pessoas para quem ele conseguia se abrir, mas as coisas não eram aceitas por lá também... não em todas as instituições.

Do outro lado do confessionário, Carlos apertava seu escapulário e chorava como uma criança ao arrancá-lo do pescoço.

"O que você está fazendo é impuro e terrível aos olhos de Deus, meu filho. Arrependa-se de seus pecados e procure uma boa moça para se casar. Ela lhe mostrará o caminho que o Senhor escolheu para você. Um caminho de santidade, muito diferente da imundice que é sua vida hoje."

Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós pecadores,

— Eloise... você é um anjo caído na terra.

— Anjo caído não é o Lúcifer?

— Está aprendendo. — Carlos riu, enquanto enfaixava a perna de um paciente junto com a amiga.

— Apenas as coisas ruins. — Eloise olhou de canto para ele e riu.

— Ah, Eloise... O que seria da minha vida sem você? O que seria de mim se não a encontrasse aqui nesse hospital? Eu, todo atrapalhado, sem confiança e sem tato nenhum, e você... a Rainha dos Necessitados.

Eloise prendeu a faixa depois que terminaram de enrolar e olhou para o paciente com uma expressão divertida.

— Ele está falando essas coisas porque quer que eu o ajude em uma missão no interior, acredita, Sr. Kyle? É um interesseiro.

— Acho que ele gosta da senhorita. — O paciente respondeu, sorrindo.

Eloise encarou Carlos, que apertou os olhos e negou com a cabeça.

— Nem que eu fosse dois homens completos eu mereceria essa mulher, Sr. Kyle.

A enfermeira riu e saiu do quarto com a bandeja.

— Chame ela para sair, rapaz. — O paciente, que já era um senhor, deu a ideia — Ela só está esperando por isso. Não perca essa chance.

Carlos saiu do quarto e alcançou Eloise com uma flor que havia pego da roseira que ultrapassava o pátio e alcançava uma parte do corredor.

— O Sr. Kyle disse para eu chamá-la para sair.

Eloise pegou a flor e colocou entre a orelha.

— Hum. Ele sabe que vai me levar em um Bistrô lotado de homens, todos intelectuais e coincidentemente os mais belos de Paris?

— Só o melhor para o meu anjo caído, minha querida Eloise. — Ele sorriu de modo travesso.

...agora e na hora da nossa morte. Amém.

Carlos molhava o lençol da cama do pequeno paciente, que até alguns minutos atrás estava respirando e com o coração batendo, porém já inconsciente há dias.

"Meu Deus... ele tinha apenas três anos. A mãe dele está esperando lá fora." Ele olhou para o teto e puxou o ar "O que eu digo a ela?" E deixou o rosto cair novamente "Um médico não deveria ser consolado pela mãe de uma criança morta." Respirou fundo e fungou algumas vezes, olhando para o teto de novo. "Eu O culpo por isso, Deus. E eu O odeio. Eu quero que não exista, eu espero sinceramente que não esteja aí, ouvindo tudo isso, inerte, como uma estátua fria, inanimada, bruta. Espero sinceramente que não esteja aí, escolhendo levar os bons e deixando os maus... deixando pessoas como eu por aqui. Quero que a vida acabe aqui, quero ser meu próprio Deus, e quero ser tudo o que esse garoto tinha como chance. Porque se ele tinha mesmo uma chance em você, Deus, eu sou incapaz de entender porque nos odeia tanto ao ponto de permanecer parado."

Ele se levantou e saiu do quarto, com o rosto inchado e vermelho. Eloise o encontrou no caminho e bloqueou sua passagem.

— Eu posso falar se quiser.

— Não. Ela tem que saber que eu me importo. — Ele passou a mão pelo rosto e suspirou — Só me dá um minuto que a minha cara deve estar tão feia... — E riu — que ela vai é levar um susto.

Eloise riu e Carlos também.

— Vai cair dura bem ali no meio do corredor. — Ele afinou a voz, brincando com a garota e já caminhando em direção ao lugar onde a mãe da criança estava. Ficou sério de repente, ainda brincando — Eloise, não podemos chegar na mulher sorrindo feito idiotas. Você está me desconcentrando.

Por dentro, no entanto, Carlos estava destruído, e esteve ainda por mais umas mil vezes nos quartos daquele hospital antes de receber a notícia da morte de seus pais, sentir um frio na barriga... e desejar profundamente o céu existisse, e que eles estivessem lá.

Bragança & CiaOnde histórias criam vida. Descubra agora