Aquilo era um funeral ou uma festa? Ana nunca havia visto tantos homens reunidos em um só lugar, conversando alto e sem a menor consideração por seus sentimentos. Um acidente terrível levou seus pais assim, do dia para a noite, e as pessoas não tinham um pingo de sensibilidade.
Pois que fossem todos à merda, eles e suas falsas condolências.
Em casa, ela suspirava em cima do papel molhado por suas lágrimas, escolhendo as palavras e tentando decidir como contar sobre aquilo.
— A senhorita precisa de mais alguma coisa? — Cristine a olhava da porta com um ar de profunda tristeza, tão sincera e amável que conseguiu comover ainda mais a garota.
Ana desatou a chorar de vez.
— Ah, meu Deus. Senhorita! — Cristine se aproximou e conteve a vontade de abraçá-la. Criadas não podiam encostar em suas senhoras, nem mesmo em uma situação como aquela.
— Tudo bem, Cristine. — Ana esticou os braços para ela e apoiou a testa em seu ombro, enquanto continha novas lágrimas que estavam por vir. Quando achou que já estava melhor ela se recompôs, secou o rosto e endireitou a coluna, como sua mãe sempre costumava mandar. — Eu preciso contar aos meus irmãos o que aconteceu.
— Eles vão odiar saber que o funeral dos seus pais não foi nada elegante, senhorita. Deixe para contar isso quando eles chegarem aqui.
— Acha que eles vão vir? — Ela mordeu a ponta da caneta, olhando para o papel.
— Não sei se todos virão, senhorita, mas ao menos o Sr. Carlos. Ele é tão gentil e volta em todas as férias. Ele quer viver aqui, então deve vir resolver as pendências.
— Eu gostaria que todos eles viessem, e ficassem por um bom tempo. Não sei o que será da minha vida agora, Cristine! Eu tenho vontade de esganar todos eles, um por um... aqueles canalhas sem vergonha! — Ela fazia com as mãos como se estivesse segurando o pescoço de alguém e chacoalhava no ar.
— Seus irmãos?! — Cristine perguntou, horrorizada.
— É claro que não! Os idiotas que queriam roubar o lugar do papai.
A criada pôs a mão no peito, aliviada.
— É melhor não contar a eles sobre isso também, senhorita, ou é capaz que queiram vir investigar algo que nem sequer aconteceu. Ou, pior, — ela pôs as mãos na boca — vingar a morte do Barão e da Baronesa!
— Minha nossa... e será que eles conseguiriam? — Ana sorriu minimamente, e seus olhos brilhavam como os de uma criança tendo ideias.
— Ora, nem pense nisso, senhorita! Foi um acidente terrível, mas sabemos bem o que aconteceu. — Cristine levantou — Não há segredo nenhum. Quer dizer, para nós duas, não. Sabemos que a Baronesa não gostaria de ser lembrada por ter morrido dessa forma, então tivemos que conter os boatos. — Ela balançou uma das mãos, afastando aqueles pensamentos — Eu vou fazer um chá para a senhorita. Com certeza vai afastar a tristeza e os pensamentos ruins.
— Por favor, seja boazinha! — Ana pediu — Chá de orégano não, pelo amor de Deus!
A criada saiu do quarto e a garota observou o papel com os pingos secos das lágrimas que ela havia derrubado.
— E até que não é uma ideia ruim essa sua, Cristine... — falou antes de começar a escrever.
***
— Ela não vai aguentar! Vamos, Eloise, rápido!
A mulher pegou a seringa e aspirou o conteúdo do frasco com precisão e rapidez, em seguida o levou para o homem, que aplicou no braço da mulher deitada na maca.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Bragança & Cia
Romance[...como efeito colateral dessa brincadeira, eles acabam vivendo lindas histórias de amor. ] O cargo almejado por João de Matos Bragança era o de Senador, mas infelizmente ele e sua esposa sofreram um terrível acidente antes mesmo que pudesse inic...