O Caminho da Vilania - Bônus

30 4 61
                                    

Alguns anos atrás do momento em que se passa a história dos Bragança e seus amigos, Carlos organizava uma surpresa em seu quarto na casa da fazenda, e esperava pelo amigo que estava para chegar. Era 1º de Abril, o dia da mentira, e Antônio não gostava dessa data. O Bragança mais novo, porém, era particularmente bom em tirar coisas boas de algo não tão bom assim (e não, não estamos falando do fato de ele ser amigo de alguém como Toninho Almeida).

Nessa época ele já era chamado por Augusto e André pelo último dos apelidos que os dois deram: Traíra. Carlos não se importava, obviamente. Ele sabia o que realmente havia acontecido e não fazia diferença que seus irmãos o tentassem convencer que Antônio, na verdade, o havia deixado ali para levar toda a culpa por ter quebrado a vidraça do velho vendedor nojento. Mas não adiantava tentar convencer os dois mais velhos quando pegavam implicância com alguém, e era assim principalmente quando o problema envolvia ele, Carlos.

Houve alguém, porém, que acreditou em sua versão. Duas pessoas, na verdade: Cristine e Ana Francisca. Ambas concordavam que André e Augusto tinham uma questão pessoal com Toninho Almeida e que ele não parecia ser assim tão, tão ruim quanto os dois tentavam fazer parecer.

Cristine, por outro lado, conversava sobre o assunto com Courtney, uma espécie de mentor desde que ela foi trabalhar na casa dos Bragança, e o responsável por ela ter conseguido o cargo de ama da filha dos Bragança, o mais alto que conseguiria para sua idade e inexperiência. O "faz-tudo" do Sr. João Bragança não concordava que Antônio, só por ser uma criança, fosse alguém de "alma boa", como Cristine insistia em dizer que ele era. De acordo com Courtney: "qualquer um pode ser bicho ruim, e quem é, pode ter sido desde pequeno".

Carlos comparava as maldades feitas por Toninho com as que seus irmãos faziam também. Ora, eles pensavam estar certos fazendo coisas erradas como empurrar moleques do barranco para que não se atrevessem mais a mexer com o irmão deles, mas Carlos considerava isso um pouco extremo demais. Ele argumentava que tudo o que Toninho fez ao longo da vida, fez para proteger a si mesmo. Como não tinha irmãos, ele não tinha outra opção a não ser essa, já que não era de fazer amigos.

E, por falar em amizade, voltemos à surpresa que Carlos preparava para o garoto: uma estação inteirinha, construída em dobraduras que ele mesmo fez e pintou. Parecia coisa de criança, mas os dois compartilhavam essa fascinação por transportes ferroviários, e Antônio argumentava que quando crescesse construiria uma estação em sua casa e outra próxima à dos Bragança, para não ter que andar tanto até lá, já que ele odiava caminhar ou pedalar por horas. Para Carlos, o fato de ele ir até lá era uma prova de sua verdadeira amizade, mesmo que reclamasse todas as vezes logo depois de chegar e pular a sua janela.

Bem, desde o acontecido com o velho vendedor nojento, a Sra. Francisca proibiu a amizade entre os dois e, como Carlos não costumava ter muitos outros amigos além dos irmãos, ela desconfiaria muito se ele saísse de casa por um dia inteiro. Então, para continuarem próximos, Antônio teve que fazer o sacrifício de ir até lá todas as vezes: pulava a janela e ficava escondido no quarto do rapaz até o fim da tarde, porque ele se recusava a pedalar novamente antes de se recuperar totalmente, e então só voltava para vê-lo novamente na outra semana.

Antônio gostou da surpresa, mas achou melhor manter a pequena estação construída por Carlos ali mesmo, ou então seria difícil demais fugir de um dos irmãos dele caso fosse visto, e poderia acabar até estragando seu presente. E, como se estivesse prevendo o que estava para acontecer, ele quase foi pego pulando pela janela do quarto de Carlos por alguém muito pior do que Augusto e André: a mãe deles. Foi um lindo anjo que, assim que o viu, correu para distraí-la e impedir que saísse de casa: a criada, ama da Srta. Ana Francisca.

Naquele dia, Antônio esperou por ela nas imediações da propriedade, e isso foi o suficiente para mudar a vida dos dois.

***

Bragança & CiaOnde histórias criam vida. Descubra agora