A Festa do Augusto - Conversas - Ambiência

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Sem querer começar dois capítulos seguidos com um flashback para que não pensem que essa é a tendência a partir de agora, esse texto tem o intuito apenas de introduzir a cena seguinte, que aconteceu pouco antes da conversa sincera entre Augusto, Carlos e Ana Francisca no pomar.

(Sim, apesar de ter chegado ao meu conhecimento que no último capítulo alguns leitores me tomaram por "salafrário", seu narrador pensa em tudo e não quer enganá-los ou iludi-los. Sou, no fundo, uma boa pessoa.)

— Como assim acabaram as garrafas de vinho? Quem foi que acabou com elas? Porque, ora, eu não estou vendo os convidados beberem tanto assim. Afonso, se eu souber que você anda bebendo na despensa de novo eu juro que o denuncio para... — Ele reprimiu um gritinho de surpresa ao se virar e ver Carlos bem ao pé do seu ouvido — Sr. Carlos! Como vai? Aproveitando a festa?

— Courtney, — Carlos o puxou de canto — viu Margô por aí?

— A Srta. Margô? Sim, ela passou por aqui e foi para o lado de fora. Por que, senhor Carlos? Precisa que eu a chame?

— Não. — Carlos sussurrava — Preciso que a distraia até que eu consiga voltar. Não a deixe chegar em ninguém, nem ir embora daqui.

— Sim, senhor.

Courtney saiu às pressas porque sabia que qualquer segundo ganho era crucial na tentativa de impedir a garota de chegar até alguém ou conseguir escapar da propriedade. Sabe-se lá por que ela não poderia escapar, mas Courtney suspeitava que ela tivesse descoberto algo sobre a investigação dos Bragança, e nesse caso, realmente, ela não poderia sair nem dar com a língua nos dentes, nem em sonho.

Mas, ao contrário do que ele imaginou, ela não estava tentando fugir ou tagarelar. Estava apenas sentada do lado de fora, em umas caixas de madeira que usavam para trazer as bebidas.

— Srta. Margô? — Courtney se aproximou. — Não sei se te avisaram, mas a festa é lá dentro.

Ela sorriu minimamente e suspirou.

— Olá, Courtney. O que faz aqui? Precisa das caixas?

O homem se sentou nas caixas ao lado das dela.

— Isso é lixo, senhorita. Nunca imaginei uma amiga íntima da Srta. Ana Francisca sentada no meio do lixo, mas... cada um com suas manias.

Margô riu, mas parecia mais como um riso... triste?

— Não sei se somos tão amigas assim.

— Como não? Estão sempre grudadas. Eu até ouvi dizer que ela a chama de "amiga". A Srta. Ana não chama ninguém assim. Eu me lembro, quando trabalhava feito condenado para o Sr. João, que Deus o tenha, — Ele fez o sinal da cruz e olhou para o céu — e isso não foi uma crítica velada, Sr João... Bem, eu me lembro que eram as duas tão pequenas e magras que pareciam duas vassourinhas. — E pensou melhor, talvez não devesse ter dito aquilo. — Não que eu também não fosse.

Margô riu e pensou um pouco. Pareceu querer mudar de assunto sem ter que se explicar por isso.

— Então, trabalha há muito tempo para os Bragança, não é?

— Dois terços da minha vida, para ser exato.

— Parece muito tempo. Deve conhecer todos os segredos deles.

— Nenhum empregado consegue conhecer todos os segredos de seus patrões, porque acredite, em um piscar de olhos eles conseguem fazer coisas novas escondidos e só vamos saber ouvindo por trás da porta... digo, acidentalmente ouvindo por trás da porta.

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