Agatha, quando criança, vivia em uma pequena casa com os pais no Brasil. Ela nem sempre foi a mesma. Quando pequena poderia até ser uma garota alegre, que brincava na rua com as colegas e que não poupava a si mesma nenhum tipo de sentimento, fosse ele alegre ou triste. Ela não sabia que o amor entre os pais era a coisa mais importante, a base que sustentava sua vida como era.
Por mais que não pensasse sobre isso, Agatha estava satisfeita com os pais, embora não tenha sido a mais agradável das ideias ter que começar a trabalhar com doze anos de idade e às vezes até roubar um pedaço de pão por não terem o que comer em casa.
Com quatorze anos de idade foi que tudo mudou, quando ela teve que ver sua mãe morrer e seu pai se afundar na bebida, sem saber em quais dias ele retornaria para casa, em que momento teriam ou não algo para comer, ter que esconder seu dinheiro para que ele não pegasse para a cachaça, temendo o momento em que o dono da casa os expulsaria por tanto tempo sem pagar o aluguel, sentir a barriga roncar de fome e o cansaço bater pela manhã ao ponto de passar mal e querer desmaiar, não ter nem sequer uma colher de sal para colocar na boca, usar vestidos surrados e andar descalça pelas ruas de paralelepípedo do rio de janeiro em busca de qualquer tipo de trabalho que lhe ajudasse de alguma forma.
Agatha não se sentia pronta para passar por aquilo pelo resto da vida. Não sentia um pingo de saudades de seu pai quando esse não retornava para casa. Estava cansada de sentir a barriga roncar, e de passar a noite com os pés inchados jogados para cima por ter andado a cidade inteira a troco de algumas moedas por um dia de trabalho como faxineira, cozinheira, servente e até engraxate.
Olhava no reflexo de uma vitrine e não se reconhecia mais. Aquela não era a Agatha que queria ser, aquele não era o rosto que queria ver no espelho, e aqueles trapos não eram nem sequer dignos de serem chamados de roupas. A garota se via como a mais miserável das pessoas daquela cidade, com a pior das sortes do mundo inteiro, e a que tinha o pai mais inútil entre todas as garotas.
Então um dia ela simplesmente foi embora.
***
— Vamos, garota! Senta aí! Você não vai fugir. Eu paguei por você, e agora eu tenho todo o direito de fazer o que eu quiser. Está ali embaixo, naquele cartaz, ou você se esqueceu? — O homem ria e exibia os dentes podres de modo tão asqueroso que Agatha sentiu vontade de vomitar — Deve ser novata, não é? Não se preocupe, eu te ensino tudo o que precisa saber mocinha. Vai sair um pouco dolorida, é verdade, mas logo você se acostuma.
Agatha o encarou com a expressão fria e, ao mesmo tempo, enojada.
— Me deixa em paz seu filho da puta!
— Venha aqui!
— Não!
Quando o homem se aproximou ela chutou o rosto dele e tentou se afastar para o outro lado da cama. Seus olhos vasculhavam um modo de sair dali, mas as chaves estavam no bolso dele.
— Você vai pagar por isso, vadia. — Ele passou a mão pela boca, percebendo que estava sangrando. — Vou fazer o mesmo com você.
Embora não demonstrasse, Agatha estava repleta de medo. Tremendo por dentro e completamente desesperada. Não era possível que aquela fosse a única solução para o seu problema de pobreza. Era nojenta, asquerosa, repulsiva, repugnante, e tantas outras palavras que fossem possíveis de se pensar ao ter que realmente passar por aquilo.
Ela suspirou e tentou se concentrar. Pense, Agatha. Pense... e aja.
— Eu estava brincando... — Ela sorriu — Venha aqui! Achou que eu fosse inexperiente? Me deixe mostrar o que eu já aprendi desde que cheguei aqui.
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Bragança & Cia
Romance[...como efeito colateral dessa brincadeira, eles acabam vivendo lindas histórias de amor. ] O cargo almejado por João de Matos Bragança era o de Senador, mas infelizmente ele e sua esposa sofreram um terrível acidente antes mesmo que pudesse inic...