André tinha nove anos, e estava sentado com seus irmãos de sete e seis, Augusto e Carlos respectivamente, ensinando-os a jogar xadrez.
— Se eu mover meu peão para cá... — Augusto fez o teste, sem tirar a mão da peça. — Eu consigo prender seu cavalo aqui, e sua torre ainda está livre, mas meu bispo está só esperando ela aqui, e então a minha torre ficaria livre e seu rei está completamente indefeso. Isso seria um xeque mate?
— Não. — O pequeno André parecia levar muito a sério as perguntas do irmão. — Você precisa primeiro fazer toda essa jogada e esperar que sua torre esteja aqui para que seja um xeque mate.
— Mas se você não tem opções... qual é o sentido? — Augusto insistiu.
— Você não sabe se eu não tenho opções.
— Mas... — Augusto ficou quieto, pensativo. Ele olhava para o tabuleiro completamente concentrado, procurando as opções que André poderia ter para vencer a sua jogada. — Carlos, me ajuda!
O mais novo passou a mão pelo rosto e se jogou no tapete.
— Eu estou cansado desse jogo, pelo amor de Deus, vamos jogar outra coisa!
— Não. — André respondeu, curto e grosso — O Sr. Luiz falou que é muito importante a gente aprender isso aqui. Ele disse que xadrez é o jogo dos reis, dos generais, e das pessoas que conseguem prever os movimentos dos outros. — Ele olhou para Carlos, que ainda estava deitado, se balançando e segurando as pernas no ar, sem interesse nenhum em continuar jogando — Então... se me vencerem nessa e na próxima podemos brincar de outra coisa.
— É sério?! — Carlos se levantou em um pulo e se aproximou dos dois novamente.
— Sim. — Ele viu o irmão observando o tabuleiro e montando as jogadas na mente, inteligente como era. Sorriu e se encostou para trás, satisfeito. — Quando nosso novo irmão nascer, vamos fazer duplas nos jogos. Talvez ele goste mais de desenhar, como você, Carlos.
— Ah, Deus. — O garoto juntou as mãos em prece e olhou para o céu — Por favor, me dê um irmão que goste de desenhar.
— Como sabe que é um menino? — Augusto perguntou enquanto movia a peça e olhava para Carlos como se perguntasse se deveria mesmo fazer aquilo.
— É óbvio que é um menino. — O mais velho respondeu — Veja só, a família da tia Lúcia: quatro homens e nenhuma mulher. A família da tia Luiza: cinco homens e nenhuma mulher. Deve ser coisa de família. A mãe concorda. Eu e ela já planejamos tudo, vai se chamar Antônio e já tem uma cor para o quarto dele. A cor do meu enxoval foi branca, do Augusto foi azul, e do Carlos amarela.
— E qual vai ser a cor dele? — Augusto moveu outra peça e Carlos fez que não com a cabeça.
— Vai ser pêssego.
— Pêssego?! Isso é cor? — Augusto finalmente encontrou um movimento que ele e Carlos concordassem, e mexeu sua torre até a metade do tabuleiro.
— É laranja. — André deu de ombros.
— Não. — Augusto discordou — Laranja é laranja. Pêssego é pêssego. São duas frutas beeem diferentes. Uma é doce e peluda, a outra é mais azeda e tem gominhos.
— Importante é que a mãe já decidiu tudo. — André respondeu.
Augusto se deu conta do que ele e Carlos tinham feito quando, na rodada seguinte, ele pode sorrir e gritar: XEQUE MATE!
E então...
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Bragança & Cia
Romance[...como efeito colateral dessa brincadeira, eles acabam vivendo lindas histórias de amor. ] O cargo almejado por João de Matos Bragança era o de Senador, mas infelizmente ele e sua esposa sofreram um terrível acidente antes mesmo que pudesse inic...