Antônio Almeida - Apresentação

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"O que eu vi foi o Toninho se tornar cada vez mais rico e de modo bem duvidoso." Carlos falava sobre o colega de infância para o irmão e os amigos naquela noite chuvosa em alto mar. "Eu não o colocaria na lista de suspeitos a não ser por esse detalhe. E tem algo... minha nossa, tem algo muito importante: nossa mãe sabia alguns detalhes do enriquecimento ilícito dele, não me pergunte como, e um certo dia em que eu estive lá ela me contou, mas não dei muita atenção. Só sei que agora ele manda em metade do Rio de Janeiro, e parece que também estava querendo ingressar na carreira política, para o cargo de Senador, coincidentemente o mesmo que nosso pai queria. É... parece que ele é o principal suspeito que tenho para apontar a vocês. Ele é extremamente cuidadoso com tudo. Entrar nesse covil de ilegalidades e tentar descobrir alguma coisa vai ser praticamente impossível. Uma pena que nem eu e nem nenhum de nós seja próximo a ele."

Antônio observou de longe uma égua dar a volta pelo campo, quase voando. Ele passou pela cerca que estava aberta e se aproximou da varanda da casa. Observou umas quatro crianças correndo para lá e para cá e nem sequer se importaram com a presença dele, talvez porque já tivesse ido ali outras vezes. 

Colocou as mãos nos bolsos e esperou até que ela visse que estava ali e fosse até ele.

— O senhor veio. — Cristine se aproximou montada na égua e sorriu, descendo em seguida.

Antônio apontou para Marcelli, a égua, como se o motivo fosse óbvio.

— Eu não perderia um negócio desses sem insistir.

— Não vou vendê-lo. Sabe disso, não sabe?

— Eu me lembro.

— Do quê?

— Do piano e da Marcelli. Os dois itens de valor da sua família que você não vende.

— É. — Cristine suspirou — Até que não tenhamos mais outra escolha.

Ela se aproximou dele e lhe estendeu um anel com uma pedra azul que provavelmente seria uma legítima safira. Antônio olhou da pedra para ela sem dizer nada, e também sem estender o braço para aceitar.

— Pegue. — Cristine pediu — Eu vou apostar na Marcelli.

Antônio ficou em silêncio, olhando para a jóia. Qualquer um que observasse a cena poderia dizer que havia grosseria e má vontade por parte dele. No entanto, qualquer um que conhecesse o poderoso Sr. Almeida seria capaz de estranhar aquela atitude: a de não aceitar a pedra.

— O trato não é esse.

— Eu sei. — Cristine se sentou no banco de madeira na varanda da casa, largando as rédeas do animal. — Mas eu não me sinto confortável com isso, já disse ao senhor.

— É. Eu estou aqui porque você não se sente confortável com muitas coisas.

Ele parecia impaciente. Essa era uma das características que geralmente Antônio não demonstrava. Estava sempre mais fechado e visivelmente calculista. Quando algo saía de seu controle, porém, nem mesmo o mais sangue frio dos seres humanos conseguia agir de modo tão indiferente.

Quem soubesse das peripécias de Antônio diria que ele estava interessado no maravilhoso negócio que aquela égua representava, e Cristine estava no seu caminho nesse sentido. Apesar disso, ele não era ignorante ao ponto de não reconhecer que o animal pertencia a ela, e que a situação, apesar de parecer favorável aos seus olhos, não era nem um pouco aos de Cristine.

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