Relembrando...
Nicolas mentalizava enquanto suas pernas se moviam por conta própria: "É só uma mulher qualquer. Uma mulher com um passado... difícil. Você também teve um passado difícil, então qual é a diferença entre vocês?" puxou o ar percebendo que havia chegado até ela "A diferença é que ela é uma mulher."
— S-s... — Limpou a garganta e tentou novamente — Srta. Dubois. — E ofereceu uma das taças de champanhe que havia pego no caminho para a moça — Como vai?
O jantar na casa dos Dubois, algumas semanas atrás, não havia sido dos mais produtivos para Agatha, e ela culpava Nicolas com aquelas perguntas esquisitas e até mesmo constrangedoras, como "prefere frio ou calor?", "como sua filha era quando criança" e "algum motivo específico para não gostar de ervilhas, Srta. Dubois?". Merda, que homem insuportável. Parecia até que ele... sabia de algo. E se ele sabia ela iria descobrir. Não poderia arriscar que logo o melhor amigo de seu pretendente, um detetive por sinal, soubesse de algo sobre seu passado e ela sem nem sequer poder se preparar para as consequências disso.
— Sr... como é mesmo o seu nome?
— Nicolas... Armand. — Ele suspirou. Não era tão difícil vencer a própria timidez quando tudo nela parecia suspeito.
— Ah, sim. Sr. Nicolas. Me desculpe, minha memória anda falha nos últimos dias. — Ela se encostou em uma das poltronas e passou a mão pela mobília — Tsc, Tsc. Bem que minha mãe me mandou comer as ervilhas. Disse que faz bem para memória. Sabe se isso é mesmo verdade?
Ele deu de ombros.
— Eu como bom apreciador de ervilhas que sou, não me esqueço de sequer uma palavra do que me dizem.
Enquanto falava, perdendo aos poucos a timidez por estar de frente com uma mulher e a encarando muito mais como uma suspeita que ele poderia muito bem interrogar na delegacia, Nicolas avaliava todo o porte da mulher, e o olhar que parecia não se fixar em nada e ao mesmo tempo vasculhar profundamente cada coisa.
Agatha sorriu, mas não de modo muito simpático porque sabia bem que aquilo fora uma alfinetada completamente direcionada a ela.
— Que pena. Boa memória não vai entrar para a minha lista de qualidades, então. — Suspirou — E onde está seu amigo, o Sr. André? Ele veio, não? Ao aniversário do próprio irmão.
— Claro. Ele... — Nicolas deu uma olhada pela sala — está por aí. E na verdade, não estava muito certo de que a senhorita viria... depois do fiasco de convite feito por Augusto.
Nesse momento Agatha riu de modo mais sincero.
— Eu não entendi muito bem. Afinal, seu amigo queria ou não que eu viesse? Ele falou tantas vezes que não precisava me incomodar. Por um momento achei mesmo que seria um incômodo minha presença aqui.
Se ele é que tinha a posse de informações comprometedoras sobre ela, por que Nicolas tinha a impressão de que a conversa mostrava justamente o contrário? Em que pé ela queria chegar com essa história de ser um incômodo? Porque certamente não pensava dessa forma. A moça sabia não ser um incômodo quando queria, ou seja, uma companhia agradável (ou André sequer estaria cogitando nada com ela), isso Nicolas tinha que admitir.
— Ele queria. Só...
— E senhor finalmente começou a trabalhar na delegacia? — Ela não deixou que ele continuasse.
Nicolas percebeu que seu objetivo não era realmente saber o que se passou com Augusto naquele dia, que agiu como um louco para tentar que ela recusasse o convite. Ela só queria mostrar que não havia caído no teatrinho dele.
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Bragança & Cia
Romance[...como efeito colateral dessa brincadeira, eles acabam vivendo lindas histórias de amor. ] O cargo almejado por João de Matos Bragança era o de Senador, mas infelizmente ele e sua esposa sofreram um terrível acidente antes mesmo que pudesse inic...