Dominique Paola Boschiero - Apresentação

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Dominique observava o teto da igreja, com a cabeça deitada no encosto do banco e os pés apoiados no vão do que estava à sua frente. Ela observava os mil anjos pintados e alguns apóstolos, que chutaria serem Pedro e Paulo de Tarso. Um por ser o guardião dos portões do céu, e outro por estar carregando papéis em um braço e com o outro parecer estar ensinando. Ela não era muito religiosa, mas já tinha lido a bíblia, sabia que dos apóstolos o mais estudado era Paulo.

Mas que merda era aquela que se passava por sua cabeça? Não sabia o porquê de estar pensando sobre... apóstolos e anjinhos? Pelo amor de Deus. Não foi para isso que tinha ido até aquele lugar.

E para o quê tinha ido, afinal?

— Menina Dominique? — Uma voz familiar se aproximou e Dominique, no susto, se sentou e tirou os pés do outro banco ao ver que se tratava do Padre Júlio. — Ah, não se preocupe, minha querida. Eu sempre digo que a casa de Deus deve ser a nossa casa também, e ele não deve se importar em colocarem os pés para cima por um momentinho. — O homem riu pelo que diria a seguir — Mas a Irmã Joana vai ficar enfurecida se vê-la sujar os bancos que ela passou a manhã lustrando.

— Hãn... me desculpe. — Ela suspirou, se recuperando do susto.

— Não se preocupe. — O padre riu de novo — Eu não vou contar nada para a Irmã Joana. Vai ser nosso segredo.

— Obrigada. — Ela fez que ia se levantar, mas o padre começou a falar antes disso.

— A propósito...

Dominique escorregou um pouco pelo banco novamente.

— como está seu pai, Srta. Dominique?

— Bem. — Justo aquele assunto? — Viajante, como sempre.

— Sabe, Srta. Dominique... a sua irmã Alessa, sua governanta, Nina, não é? — Ele esperou que ela fizesse que sim — E até mesmo sua criada Giulia se confessam por aqui, mas a senhorita eu nunca vejo. Para ser sincero não me lembro a última vez que fizemos isso. A senhorita tem que cuidar de sua alma, menina. Ninguém cuidará disso no seu lugar.

Ela sorriu minimamente e começou a tirar as peles que voltavam a nascer em volta das unhas, um costume que tinha quando queria se distrair de assuntos ainda menos desejados.

— Se todas elas se confessam aqui, e especialmente minha irmã, eu acredito, padre, que o senhor já saiba de todos os meus pecados. E se quis saber de quais eu me arrependo, a governanta Nina pode ter acabado contando isso ao senhor também. Quanto à empregada Giulia... talvez ela se arrependa de ter saído da Itália, já que vive falando nessa língua e insiste em ensiná-la para a minha irmã. Mas Giulia não deve ter oferecido nenhuma informação sobre meus pecados. Na verdade, ela deve é ser uma santa por suportar a mim e à minha irmã, e não reclamar disso. A não ser que reclame em italiano. — Ela ergueu as sobrancelhas, considerando aquela possibilidade — Nesse caso eu não saberia dizer. Não sei falar italiano. Não que eu me orgulhe disso, mas não sei.

— Eu garanto que ela não reclama da senhorita. — O padre falou na intenção de acalmá-la — A senhorita e sua irmã são igualmente agradáveis. Mas eu sinto... — Como ele diria aquilo sem revelar o que ouvia em confissão? — sinto que carrega um fardo muito pesado. Talvez queira saber o que significa aquela expressão de Jesus, em que ele diz "o meu fardo é leve".

Dominique continuou olhando para o padre, esperando que ele continuasse. O homem se ajeitou no banco, confortável por ela parecer aberta a ouvi-lo.

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