— Olá, Cristine. Como vai? Eu te trouxe uma coisa, — Matteo encostou na batente da porta, apoiando a cabeça em um dos braços e o outro indicando para que ela pegasse algo no bolso de seu casaco, como se fosse o máximo que conseguisse alcançar de um movimento aceitável, para frente ou para trás — É, eu estou um pouco bêbabo. Digo, bêbado. Apesar de a palavra "bêbabo" ser até mais agradável, não acha? — Ele riu — Como se eu estivesse fingindo, ou algo do tipo. É, eu fingia muito que estava "bêbabo" quando era criança, hoje em dia não preciso mais disso. Ao menos quando fingia eu acabava por fugir da ressaca, e hoje em dia, por mais que eu tente, ela ainda me persegue, como... um efeito colateral das minhas impensadas decisões.
"Não, essa não é uma das minhas impensadas decisões. Pegue o dinheiro, Cristine."
Matteo passou da batente e sentiu seu braço passar em volta do ombro da mulher. Não queria soltar todo o peso de seu corpo em cima dela, mas equilíbrio era uma habilidade que não poderiam lhe exigir em uma situação como aquela. Ele não havia pedido para entrar, ela que o puxou.
A casa tinha uma aura estranhamente confortável, muito diferente da aura dos lugares que Matteo estava acostumado a frequentar. Seja por estar em lugares muitas vezes considerados inapropriados, que com certeza não continham crianças, como parecia haver aos montes ali, ou por estar em lugares onde não era desejada a sua presença, vulgo, sua própria casa.
"É. Sua casa é mais simples do que eu poderia imaginar, mas... vocês têm um piano! Não, não diga nada. Existem coisas essenciais na vida, e a música certamente é uma delas. Venda tudo, venda seus irmãos, mas não venda esse piano."
Ele olhou para a criança que o encarava, sentada na mesa e com a boca toda suja de sopa de abóbora.
"Eu estou brincando, criança. Não, ela não vai precisar vender nenhum de vocês, porque agora ela tem dinheiro suficiente para pagar mais umas boas parcelas desse terreno. Quer dizer, eu nem sei quanto é que tem aí. Não se preocupe, Cristine, somos primos, não foi o que você disse? E me desculpe por não ter aceitado te ajudar logo de início. Eu não queria me envolver nessas coisas de pedir dinheiro para o meu pai, e ter que inventar uma desculpa. Atitude egoísta? Talvez. Mas eu sou assim: apareço bêbado na casa dos outros tarde da noite para reparar meus erros. Não se preocupe, eu disse a ele que faria um investimento. Sinceramente, ele nem vai procurar saber o que foi que fiz com o dinheiro, porque no fundo ele não se importa."
Sem saber como, ele foi parar na cadeira, e de repente estava com um prato de sopa de abóbora bem à frente e um pano preso ao pescoço para que não sujasse a camisa. Matteo começou a rir, mas de repente estava com uma colherada de sopa na boca, e a garota ao seu lado parecia irritada com alguma coisa — seu falatório de beberrão, talvez.
"Eu até gosto de ficar sozinho, de decidir as coisas por minha conta e risco, e da minha liberdade... puta merda, não trocaria minha liberdade por nada. Desculpe, criança, não repita isso perto do seu pai. E... é, meu pai não se importa. Na verdade, ele quer apenas a minha existência."
Ele engoliu a sopa com alguma relutância ao dizer aquilo.
"Existir é pequeno demais, não acha, Cristine? Eu quero bem mais do que apenas existir. Quero viver, e talvez deixar a todos de queixo caído ao me verem. E então vão dizer: minha nossa, aquele cara viveu! Rir das probabilidades, viver tão bem ao ponto de fazer com que a morte tema me levar, porque, cazzo! Como ele vive!"
Olhou para a criança novamente.
"Seu pai é italiano, não é? Pois então também não diga essa palavra perto dele."
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Bragança & Cia
Romance[...como efeito colateral dessa brincadeira, eles acabam vivendo lindas histórias de amor. ] O cargo almejado por João de Matos Bragança era o de Senador, mas infelizmente ele e sua esposa sofreram um terrível acidente antes mesmo que pudesse inic...