A Alma que O capturou

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Clarisse era só uma garotinha quando seu pai a chamou (pela última vez, mas ela não sabia) para uma conversa enquanto brincava na grama na casa deles. A vida era muito boa, e ela não tinha do que reclamar, mas sabia que seus pais estavam preocupados com alguma coisa... sempre.

— Meu docinho... — O homem se sentou ao seu lado no chão e observou a bicicleta dela ao lado — Já cansou, foi?

— Na verdade não. Eu vi que estava chegando e resolvi parar. Você e a mamãe vão sair essa noite, não é?

Ele sorriu.

— Como sabe?

— Toda vez que me procura pela tarde é para avisar esse tipo de coisa e... — ela observou que a mãe se sentou ao lado naquele momento — dizer aquelas coisas sobre a república e meu futuro como...

— ...se pudesse ser uma despedida? — A mãe completou e Clarisse fez que sim, receosa. A mulher sorriu. — Ora, minha menininha, um dia vai entender por que fazemos tudo isso.

— E um dia não vamos mais estar aqui. — O pai falou em tom de aviso.

— E, seja lá quando isso for acontecer, você deve continuar e encontrar sua própria luta, mas sem se esquecer de ser feliz. — A mãe beijou a testa dela — Nós sempre a procuramos antes de ir porque você nos dá forças, docinho.

— Nosso docinho de coco.

Clarisse se apoiou no ombro do pai, sem saber que aquela seria realmente a última vez em que os veria. Ela não podia reclamar de sua vida depois disso: tinha um bom padrinho que lhe provia todo o conforto possível e, por mais que não seguisse os passos de seus pais, concordava com eles, então ela tinha toda a liberdade para ser quem quisesse... e se casar com quem quisesse.

O problema era que ninguém parecia ser bom o suficiente, e ela tinha medo de estar, constantemente, tentando substituir em todas as suas relações o que tinha com seus pais. Porque sabia que isso era impossível. Ninguém seria capaz de substituí-los, e ela nem queria que isso acontecesse. Ao menos conscientemente, não.

***

"E quando a moça olhou para trás, lá estavam os escritos na parede: Quero que volte, aqui é perigoso. Ele pode pegá-la a qualquer momento"

***

Carlos os ouviu chegar e percebeu que discutiam sobre os prováveis cenários do crime contra seus pais. Era a voz de André, Augusto e Nicolas. Nessa ocasião ele estava preocupado com uma bem provável aproximação de seus irmãos com Clarisse, já que eles tinham fama de fazer o que fosse possível para conseguir o que queriam, e ele ainda se preocupava com a antiga amiga.

Por isso mesmo o mais novo dos Bragança desceu as escadas furioso ao ouvi-los citar o nome dela, temendo que a aproximação já fosse inevitável.

— Foram atrás de Clarisse? — Ele perguntou, olhando para os irmãos.

Carlos nunca se exaltava. André e Augusto tinham muito respeito por ele e quando estava furioso com eles, como parecia estar, era a única coisa que os fazia parar e pensar sobre o que estavam fazendo.

Daquela vez não foi diferente.

— Não. Foi uma coincidência. — André respondeu.

— Sua amiga ficou muito linda. — Augusto começou a falar e atraiu o olhar de fúria de Carlos para si, erguendo os braços para poder continuar falando — Mas eu me comportei. Nicolas, diga a ele como me comportei.

Bragança & CiaOnde histórias criam vida. Descubra agora